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  • Crítica | Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola

    Crítica | Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola

    Fabrício Bittar e Danilo Gentili já haviam trabalhado juntos em Politicamente Incorreto, uma série televisiva que buscava expressar as polêmicas opiniões políticas do apresentador de talk show em um programa semanal humorístico. Já Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola não tem pretensões de retratar qualquer viés ideológico, sendo apenas uma adaptação do livro homônimo do apresentador de The Noite.

    A história mostra os estudantes Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), sendo que o primeiro está com notas baixas, devido a um período turbulento, fruto da morte de seu pai. Logo, ele descobre que há um caderno repleto de peças e traquinagens, escrito pelo antigo pior aluno do Colégio Albert Einstein, chamado apenas de Palmito (Gentili). Logo, os dois passam a frequentar a casa do sujeito, um bon vivant e trapaceiro, que aparenta viver sem quaisquer preocupações sociais ou gerais.

    Não há muita pretensão dentro do longa metragem, o alvo dele é ser basicamente uma das comédias que permeavam as tardes do SBT nas sessões do Cinema em Casa, e fora a ausência de carisma dos personagens principais, o clima é estabelecido dentro dessa proposta. A questão é que  os coadjuvantes são sub-aproveitados, desde Carlos Villagrán (o Kiko do seriado Chaves) que faz o diretor da escola, até Joana Fomm e o cantor Rogerio Skylab, a exceção positiva é Moacyr Franco, que faz um zelador rabugento que parece concentrar em si toda a alma do filme, além de ter em sua rotina os melhores momentos do roteiro.

    O texto de Gentili, Bittar e André Garatinacho possui algumas piadas clichês, que tentam tornar o filme em um Porkys para o público infanto-juvenil. A maior parte dos momentos humorísticos parece confundir bullying a simples brincadeiras. Ainda que o filme não tenha obrigação alguma de traçar um panorama social do país, há no entanto uma necessidade de parecer retrógrado até nas pequenas coisas. O papel de Fábio Porchat, por exemplo, um sujeito traumatizado graças as peripécias de Palmito no passado, o “transformam” em um pedófilo. O argumento é perigoso, primeiro pelo simplismo de colocar abusadores como alguém que sofreu um trauma social como um padrão, bem como o tema também soa simplista se explorarmos o viés psicológico, afinal, diversos estudos psicanalíticos aponta que essa parafilia não escolhe como vítima nenhum gênero em si, mas procura aqueles mais vulneráveis. 

    Apesar disso, o filme conta com um bom ritmo, contudo há poucos momentos realmente divertidos. A narração em off tenta emular um estilo parecido com o de John Hughes, mas claramente a tentativa não casa com todo o clima descolado e malemolente que Como se Tornar o Pior Aluno da Escola entrega. Sequer a participação de Villagrán possui qualquer brilho ou momento inspirado, o que se vê são repetições de bordões bobos, além de uma tentativa tola do roteiro de antecipar possíveis críticas ao filme. A quebra da quarta parede também é executada porcamente e quase não há o que valorizar no resultado final, restando apenas a tentativa de transformar um produto careta em algo politicamente correto, mas que no final das contas se mostra banal em última análise.

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  • Crítica | A Grande Vitória

    Crítica | A Grande Vitória

    A Grande Vitória

    Demonstrando o bom momento do cinema nacional que se expandiu além dos filmes de mazelas sociais ou excessivamente formatados por patrocinadores, A Grande Vitória apresenta uma tradicional história esportiva que parte da trajetória de Max Trombini como argumento fundamental em defesa do esporte.

    Baseada no livro Aprendiz de Samurai, escrito pelo próprio Trombini, a trama dirigida por Stefano Capuzzi inicia-se com um profundo mergulho memorialístico. Vivendo em uma casa simples com sua mãe e os avós, o jovem Max tem como figura patriarcal o avô, que, ao lado das pequenas pílulas de sabedoria madura, ensina-lhe golpes de judô. Após brigas na escola que quase geram uma expulsão, o garoto é orientado a praticar o esporte como forma de conquistar disciplina e responsabilidade.

    A trajetória inicial do personagem atravessa uma tradicional narrativa de uma família humilde que, com esforço, dedica-se a estruturar o futuro do garoto. Ciente de uma vida modesta, Max dedica-se com amor ao esporte e faz dele um objetivo de vida rumo a um sonho: competir pelo Brasil nas Olimpíadas. O roteiro da produção é simples, mas enfocado de maneira ideal no personagem do garoto. O drama equilibra-se de maneira sensível, sem parecer exagerado ou fatalista, e ainda consegue expandir temas sobre conflitos naturais da juventude – como o reconhecimento, a procura da identificação própria e a busca pelo pai ausente de Max – sem que se perca o cerne da trama centrado no esporte. Algo que produz uma carga emotiva bem delineada entre os conflitos exteriores e a força interna, evidenciada pela trilha composta pelo maestro José Carlos Martins – inspirada nas obras de Bach –, que dá o tom magistral da jornada em composições que utilizam o piano como base melódica.

    Em seu primeiro papel cinematográfico, Caio Castro, que interpreta o personagem central, é apoiado por Tato Gabus Mendes, o primeiro mestre sensei do garoto e quem o acompanha em sua trajetória. Os dois personagens produzem a tradicional equipe de mestre e aprendiz e demonstram muita dedicação em cena, como se os próprios atores acreditassem na história que estão contando. Na infância do personagem, a trama conta ainda com Rosi Campos como a diretora do colégio; Moacyr Franco, que faz o simpático avô de Max; o próprio Trombini sendo testemunha de sua história como um professor de educação física; e Carlos Massa, o Ratinho, em uma pequena participação como um dono de supermercado que apoia o início de carreira do judoca. Porém, ao contrário do que possa ser pressuposto no cartaz, o papel de Sabrina Sato não merece o destaque exagerado oferecido pelo pôster. Mesmo que seja um personagem importante e definidor na história de Max, seu tempo em cena não ultrapassa 10 minutos, e Sato está longe de manter-se ao menos na base de uma interpretação crível, levando-nos a crer que sua figura conhecida talvez tenha sido o motivo de apelo para figurar na divulgação.

    Defendida com paixão, a produção é um filme esportivo e sensível. Uma biografia registrada de um aprendiz, que parece nunca escolher os caminhos mais fáceis.