Tag: Leandro Hassum

  • Crítica | Tudo Bem no Natal que Vem

    Crítica | Tudo Bem no Natal que Vem

    Tudo Bem no Natal que Vem é a nova parceria entre Roberto Santucci e o ator Leandro Hassum. A história mostra a vida de Jorge, um homem que detesta o feriado natalino por ter nascido no dia 25 de Dezembro e, consequentemente, jamais ter conseguido uma festa de aniversário comum. O filme da Netflix é narrado em primeira pessoa e além de mostrar a rejeição do personagem ao natal, também exibe uma pitada de magia a sua fórmula.

    Jorge se vê em estado de negação. após um momento estranho ele passa a viver um único dia por ano, sempre nos dias 24 de dezembro, suprimindo as lembranças dos 364 dias restantes. Sua vida no automático imita os clichês de Click, filme protagonizado por Adam Sandler, e outros cujo tema é a repetição de um dia específico. A partir de então, presenciamos bons momentos de comédia.

    O roteiro de Paulo Cursino brinca com clichês de filmes natalinos, e com questões comuns a filmes de looping temporal, como O Feitiço do Tempo, e também adapta jargões de obras natalinas e elementos de outros filmes de Sandler, como Afinado no Amor e Como Se Fosse a Primeira Vez. Por mais que os tiques de Hassum sejam enfadonhos, aqui ainda são melhor empregados que em O Candidato Honesto e sua continuação O Candidato Honesto 2, ou a trilogia Até Que a Sorte nos Separe.

    Aparentemente, a parceria entre o humorista e diretor ainda segue com alguma sintonia, mesmo sem o selo da Globo Filmes para chancelar o longa. O texto de Tudo Bem no Natal que Vem é repetitivo, não ousa e não apresenta quase nada novo, mas há algum carisma na parte dramática e momentos genuinamente emocionantes e divertidos. Fora o final um pouco covarde, o longa é uma releitura honesta de clássicos, com influencias entre as já citadas e, claro, Um Conto de Natal, de Charles Dickens.

  • Crítica | Chorar de Rir

    Crítica | Chorar de Rir

    Há pouco tempo atrás, quando um filme estreava protagonizado por Leandro Hassum, isso era sinônimo de sucesso . O tempo passou e as globochanchadas não se mostraram tão rentosas, ainda que O Candidato Honesto 2 tenha ido bem de bilheteria. O novo filme de Toniko Melo tenta fugir dessa pecha, produzido pela Warner, Chorar de Rir é focado em Nilo Perequê, personagem humorista que passou pelo stand up comedy, por programas de gincana e que atualmente, apresenta um show de tv que tem o nome do longa.

    O sujeito vive confortavelmente e está prestes a ganhar um prêmio bem importante, e sua rotina é repleta de piadas batidas e trocadilhos fracos. Nilo se vê como um homem injustiçado e mal quisto pela crítica e pela classe artística, que o vê como um mero contador de piadas, e esse desapreço é compartilhado também por sua ex, a atriz Barbara  ( Monique Alfradique), que protagoniza a novela das 6, e que tem receio de ser encarada como namoradinha do Brasil para isso. O roteiro de José Roberto Torero busca desconstruir estereótipos, mas é muitíssimo caucado neles, baseando suas piadas em onomatopeias, efeitos sonoros típicos de vinhetas de rádio e anedotas preconceituosas.

    Nilo quer se reinventar, e busca Tulio Ferro (Felipe Rocha), um diretor que o despreza por completo para juntos fazer uma peça shakespeariana, fato que reabre feridas antigas até de seu relacionamento com Barbara. O texto até se esforça neste ponto, para ser um exercício de reflexão sobre a comedia, drama e sobre a frivolidade de categorizar um gênero como superior ao outro, mas isso é mostrado com piadas tão pueris e infantis que mata qualquer reflexão, com arquétipos exageradíssimos, repleto de clichês, parecendo mal feito até nas cenas musicais.

    A tentativa de soar lírico e de referenciar obras dantescas beira o patético, o excesso de humor pueril faz perder toda a tentativa de fazer drama, e mesmo dentro das piadas poucas realmente tem graça. Mesmo nas obras de Roberto Santucci haviam piadas físicas bem encaixadas, mas aqui elas rareiam.

    Os aspectos técnicos também pouco acrescentam. Fotografia, montagem e trilha sonora são genéricas e não auxiliam o combalido texto, nem em fazer comedia e nem em fazer refletir, praticamente o único momento engraçado são as cenas que ocorrem nos créditos, onde Fabio Porchat, Caito Mainier e Rafael Portugal podem fazer seu numero sem as amarras de um script tão tacanho.

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  • Crítica | Simonal

    Crítica | Simonal

    Wilson Simonal foi um ícone muito grande da música popular brasileira. Era mais que um simples cantor, era um artista indiscutivelmente diferenciado, um sujeito que tinha uma performance quase mágica e que teve uma derrocada cujos motivos são muito discutíveis, como já foi mostrado em Simonal: Ninguém Sabe o Duro Que Dei, documentário de 2009. A versão cinebiográfica ficcional é comandada por Leonardo Domingues, acostumado a montar e editar filmes, comandando o projeto desde o Festival do Rio de 2013 onde fez uma reunião nos bastidores e começou a discutir sobre como faria a biografia do artista. Apesar de não ser perfeito e de só ter a estréia prevista para 2019, Simonal é curiosamente bem atual, por falar em questões políticas, fake news e até mesmo delação.

    O momento inicial do filme é quase um epílogo, mostrado em um plano sequência lindíssimo no backstage de um show de retorno de Simonal, em 1975, no auge da Ditadura Militar e de sua rejeição. Assim que Fabrício Boliveira aparece cantando, ele começa a ser vaiado e ao menos em seu começo, Domingues torna seu filme poderoso, o problema é a condução a seguir.

    O roteiro de Victor Atherino volta quinze anos no tempo, e mostra o antigo conjunto musical do protagonista, e sem qualquer preparação, o Simonal de Boliveira já é mostrado como um homem ousado, ao entrar na piscina de sunga, mesmo sendo um mero serviçal como músico, em uma festa da alta sociedade. Essa sequência é bem passível de ter ocorrido, mas ela é apresentada de maneira caricatural e isso é uma constante no longa. Não demora a aparecer personagens importantes na história do cantor, Leandro Hassum faz Carlos Imperial, o homem que o descobriu como cantor solo (e a caracterização é bem feita, a despeito do péssimo desempenho de Hassum em comédias recentes como Candidato Honesto 2) e de Teresa, sua futura esposa interpretada pela deslumbrante Isis Valverde que já havia feito par com Boliveira em Faroeste Caboclo. A grande questão é que a história do cantor é tudo, menos chapa-branca e o filme de Domingues flerta com um lado pudico muito forte.

    Boliveira é indiscutivelmente um ótimo ator, mas não consegue capturar o caráter carismático de Simonal, e nem replica o mesmo molejo e pilantragem, ao menos na maior parte dos momentos, seu desempenho é repleto de altos e baixos. Toda a sequencia da historia no beco das garrafas é muito boa, e João Velho faz uma versão de Luis Carlos Miele maravilhosa e faz acreditar ali que ele é o Sinatra com melanina, em compensação as partes onde ele grava no estúdio são péssimas, com um lyp sync vergonhoso. Quando o protagonista flerta com mulheres, Boliveira acerta mais, soando natural, e especialmente, em suas performances no palco. Há um brilho especial do ator nesses momentos.

    Há uma cena em específico que é primorosa, onde Simonal está cantando, faz o público entoar um coro, vai andando pela saída lateral e se retira do teatro para tomar uma pinga no bar do lado, retornando depois, mais uma vez utilizando um plano sequencia. Domingues mostra que sabe filmar e sabe inserir momentos grandiosos em seu filme, por mais que não seja perfeito, ele é bem correto.

    O filme é um bocado refém das datas marcantes e se repete muito nesses ciclos e apesar de tudo tem momentos divertidos, e traz algumas discussões sobre afirmação do negro e do consumismo. Ele cai em alguns panfletarismos baratos, em especial quando o personagem de Silvio Guindane retorna a vida do biografado, e também não dá a importância devida a algumas questões pontuais, como o vício em remédios de Teresa, na verdade, referencia muito essa questão mas não dá uma importância real, só sugere algo.

    Toda a parte da derrocada e da crença que o contador está fazendo um rombo nas suas finanças ao menos acerta mais que o documentário de 2009, pois demonstra como ele era um sujeito impulsivo e não calculista. O roteiro compra o discurso de que Simonal foi vítima das circunstâncias, e tem momentos bem construídos, mas a ânsia por contar uma historia tão complexa não é recompensada com um filme completo, ao contrário, há muita pressa da produção por falar de muita coisa, e claramente 105 minutos não foram suficientes para comportar uma história tão complexa. Claramente, Simonal tem problemas e virtudes, mas acima de tudo possui alguma alma.

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  • Crítica | Candidato Honesto 2

    Crítica | Candidato Honesto 2

    O cinema de Roberto Santucci normalmente é associado as famigeradas Globochanchadas, comédias de humor esquemáticas e repletas de piadas baseadas em bordões. Foi assim em Candidato Honesto, de 2014, onde Leandro Hassum fazia o papel de João Ernesto Ribamar, um homem de origem humilde que ascendeu ao panteão político de Brasília, como deputado e depois como candidato a presidência.

    À procura de sucessos e nadando contra a corrente da decadência recente aos filmes de comédia escrachada nacionais, Candidato Honesto 2 retorna com o mesmo protagonista, mesmo diretor, mesmo escritor (Paulo Cursino) e com um personagem principal mais sincero, moderado e boca suja, uma vez que toda frase sua parece ter ao menos um “porra” no vocábulo. Não há qualquer moralismo nessa constatação, e sim a percepção de que o filme é extremamente refém dessa necessidade de parecer adulto via linguagem torpe.

    O restante do cenário é raso e  ingênuo. João Ernesto se declara sempre para uma mulher, uma jornalista séria chamada Amanda, vivida por Rosana Mulholand, que traz uma voz tão mecânica que aqui mais ter sido dublada, e introduzida de maneira gratuita pelo roteiro. Além desse novo elemento romântico, há também uma sedução ao político recém solto, de um partido claramente corrupto, comandado por Ivan Piris (Cassio Pandolph), obviamente uma referência ao presidente à época, Michel Temer.

    Um dos poucos momentos realmente engraçados é a participação de Piris, ainda que essa comédia seja baseada em argumento tão lugares comuns que mesmo quem se interessa zero por política sabe que Temer é comparado a Vampiro e a figura satânica, ou seja, o ponto mais positivo do longa é óbvio demais. Outro momento que fez alguns espectadores rirem é a imitação de Dilma Rousseff que Mila Ribeiro faz, e impressiona, mas até mesmo os discursos mais difusos da presidenta deposta soam lugar comum hoje em dia, piadas que em 2016 já estavam superadas demais. Mesmo a crítica aos políticos de extrema direita como Jair Bolsonaro é extremamente diluída e sua postura é até normalizada de certa forma, ainda que se leve em conta que Bolsonaro não está sozinho no congresso.

    O roteiro de Cursino não ousa nada, aposta em clichês de falas dignas de comentaristas revoltados das redes sociais e analfabetos políticos. A revolta dessas pessoas é absolutamente comum e válida, o que claramente não é válido é a mensagem ao final de que a política não possui qualquer chance de redenção e que todos que estão ali estão somente para fazer dinheiro, esquemas, etc. Mesmo que isso represente a maior parte da classe política eleita, O Candidato Honesto 2 generaliza os problemas sociais agravados pela votação em relação as reformas sancionadas nos últimos dois anos como se não tivessem nenhuma influência na vida do povo, sobretudo dos mais pobres.

    O filme que tenciona ser uma diversão para o público médio mas que afaga somente o pensamento das elites, dos patrões e de quem já tem uma vida mais ou menos garantida, e que erra não só no seu texto, mas também em um humor de difícil identificação e com atores que claramente não estão afiados ou em um desempenho minimamente bem, e isso inclui Hassum, que não passa do mediano mesmo em seus melhores momentos. Para ser algo relevante é preciso mais do que uma colcha de retalhos repleta de fatos políticos recentes.

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  • Crítica | O Candidato Honesto

    Crítica | O Candidato Honesto

    Utilizando a desilusão do povo com a política prolixa, falastrona e mentirosa praticada no Brasil, O Candidato Honesto apresenta um produto típico das comédias da Globo Filmes, mais uma vez tentando remontar o sucesso das velhas chanchadas e chamar o público com seu astro principal, Leandro Hassum, conhecido especialmente pelo humor físico e desbocado, além de integrar programas televisivos de qualidade duvidosa.

    A plateia embevecida abraça a trama desde o início ao sorrir com piadas bobas, repletas de trocadilhos com seguimentos escatológicos. O background do político João Ernesto é semelhante é ao do presidente Lula com passado um sindicalista ligado ao setor dos transportes. Em meio a trilha que destaca a corrupção eleitoral, a campanha de Ernesto é mostrada com situações repetidas entre minorias, desde o Movimento de Sem Terra, operários, paraguaios e assim segue.

    A fotografia acompanhada da luz chapada aumenta o escopo de desfaçatez, tanto do candidato quanto no roteiro e direção de Roberto Santucci. A imprensa que envolve João é complacente com seus atos, tratando-o de forma tranquila, sem discussões de qualquer proposta ou questão espinhosa. A vida pessoal, pautada num estilo playboy bon vivant é tratada sem qualquer viés denunciativo, que só não é pior composto do que o costumeiro hábito de Hassum em fazer piadas com sua voz abaixando tons inteiros ao mentir, acompanhada de um vocabulário chulo para referir aos seus aliados e familiares.

    O erro crasso do roteiro é fomentar a estupidez na discussão de ideias relativas ao rumo político do país, apelando a piadas típicas de redes sociais e frases de subcelebridades para garantir o riso do público. Nem mesmo a curva dramática, envolvendo a lição de moral dada por sua convalescente avó, Dona Justina (Prazeres Barbosa), se sustenta. Aos moldes do filme de Jim Carrey, O Mentiroso, um feitiço é lançado para que o plenário fale sempre a verdade. No leito de morte a anciã promete conversar com Deus para mudar o destino do antigo netinho querido.

    A atmosfera de total falsidade não é aplacada sequer pelo montante de palavrões presente nas palavras de João. O modo como o personagem age com a adimplência na câmara e com o mulheril é semelhante ao boatos envolvendo candidatos reais, como Aécio Neves. Diversas analogias rasteiras são mostradas como compras de ministérios por parte de partidários religiosos que convenientemente carregam uma mala com dinheiro.

    Como esperado em um roteiro padrão a redenção do personagem principal surgirá em algum momento, uma prerrogativa praticamente anunciada desde o primeiro minuto de exibição. O arrependimento surge na figura da repórter Amanda ( Luiza Valderato) que acredita na honestidade do político e fica desolada ao saber que este é corrupto e mandante do esquema de compra de influência chamado Mesadinha.

    O ultramoralismo da produção é elevado a alta potência até mesmo para a previsibilidade de sua abordagem com momento convenientes para a trama como o discurso do honesto João assistido por boa parte da população. O nível do poder do candidato é tanto que é capaz de falar para as câmeras até mesmo sem microfone, em horário não programado pela emissora. Tudo em nome de um discurso contra a corrupção, apelando ao final para um argumento bobo, louvando a nulidade do voto e a retirada da campanha de candidatos ficha suja. O paraíso existente nas palavras de João são capazes de anular a eleição e tamanha alienação contida neste seguimento sugere que a sequência foi escrita por João Revolta, um personagem revoltoso de um canal do You Tube. Candidato Honesto consegue se impor abaixo da linha de mediocridade em comparação com as outras comédias ruins de Hassum e de Santucci.