Após ficar anos sem filmar, Hector Babenco retorna à condução de longas-metragens, retomando um estilo muito comum dentro da literatura e de algumas escolas de cinema, conferindo no roteiro uma história autobiográfica. Meu Amigo Hindu possui um caráter ainda mais pessoal que simples histórias de um cineasta já perto do fim da vida, uma vez que seu cunho emocional é grande.
A rejeição da persona detestável de Diego Fairman (Willem Dafoe) é construída sem mostrar os atos de ódio que ele provocou. O método é um pouco rápido, justificado pelo fato do personagem estar doente, em uma fase moribunda, mas a falta de explicar os atos que fazem dele uma persona non grata não se justifica, e apela demais para a suspensão de descrença do público, carecendo de cuidado em introduzir os sentimentos extremos ao espectador.
As fases distintas da vida privada de Babenco são mostradas por meio de cenas intimistas, que dependem de um apego aos personagens. O grave problema tanto no drama de câncer terminal quanto nos conflitos internos entre personagens é que não há espaço em tela para o desenvolvimento destas intrigas. Tudo gira em torno de Fairman e de seu intérprete, incluindo aí a linguagem em inglês, mesmo o filme se passando no Brasil, uma interferência para abraçar Dafoe ainda mais injustificada do que em O Beijo da Mulher Aranha.
A brevidade dos estágios de tratamento faz todo o efeito dramático soar como eventos superficiais, fato esse que denigre demais a história. O misto de drama e humor negro também soa estranho em meio à pretensão de apresentar uma despedida da vida e do cinema, algo piorado pelo fato do filme não ser um desfecho oficial da carreira de Babenco. A tentativa de poetizar a trama através da interferência de autor/personagem soa forçada e sem significado.
O roteiro trata com cinismo único o modo de lidar com a morte e até os improváveis dribles dados na entidade, banalizando não só a brevidade da vida como também os eventos ocorridos no filme. A segunda metade melhora ligeiramente, mostrando o processo de escrita de um novo roteiro, com a possibilidade de um recomeço que tem seu ápice na metalinguagem da obra.
O período após a doença é menos verborrágico, sendo assim distinto da primeira parte. O entendimento da história passa a ser mais do público do que do artista, fato que ocasiona uma das poucas características longe de críticas. A gangorra emocional decorrente do estado depressivo do personagem ao menos é exemplificada em detalhes, mostrando os altos e baixos comuns desta condição, variando da melancolia até a esperança gratuita em alguns momentos, atingindo de forma interessante o desequilíbrio comum a essa doença da psiquê de Babenco/Fairman.
Outro bom momento é o retrato de suas esposas, com Xuxa Lopes e Bárbara Paz sendo bem executadas por Maria Fernanda Cândido e pela própria Paz. Entre as outras atuações, não há qualquer destaque digno de nota, exceto pela entrega de Dafoe ao papel, fator obrigatório, evidentemente, já que todo o argumento narcista de Babenco gira em torno de seu personagem, um enfado tanto para as pessoas que o cercam quanto para o espectador que o assiste, resultando em um longa frígido e carente de inspiração.