O cinema do humor e do pastiche é uma característica clássica dos irmãos Coen, e a nova produção da dupla, a comédia Ave, César! traz novamente esse elemento a seus filmes, depois de duas produções mais sérias. Em cena está novamente George Clooney, dessa vez como o bonachão ator Baird Whitlock, astro de uma superprodução chamada Ave, César!, que conta a história de um general romano que se converte ao cristianismo após conhecer Cristo. Josh Brolin interpreta Eddie Mannix, um “resolvedor de problemas” do estúdio, que trabalha horas a fio para resolver tudo o que acontece dentro e fora do set a fim de que as filmagens não parem.
O mote inicial se dá quando Baird é sequestrado por dois figurantes e levado a uma casa de veraneio de outros trabalhadores de Hollywood, especialmente roteiristas, que explicam cuidadosamente ao confuso ator suas motivações. Curiosamente, todos são comunistas e usam vários jargões do materialismo histórico, quase o convencendo de sua condição. Nisso, a trama também lembra vagamente a de Trumbo: A Lista Negra. Enquanto isso, Mannix precisa encontrar Baird, ao mesmo tempo em que precisa decidir se muda para outro emprego, parar de fumar, encontrar um marido para a estrela solteira e grávida DeeAnna Moran (Scarlett Johansson) e também um ator conhecido para o filme do conceituado diretor Laurence Laurentz (Ralph Fiennes) em uma possível referência a Laurence Olivier. As cenas de Fiennes garantem ótimos momentos cômicos quando atua junto ao jovem e promissor Alden Ehrenreich, interpretando o canastrão ator de faroeste Hobie Doyle.
Todas essas linhas de história se entrecruzam, porém em momento algum confundem o espectador, pois são extremamente simples, diretas e bem contadas, ao mesmo tempo em que são centralizadas em Mannix, o que torna o foco bem claro. Ao mesmo tempo, a pressa em resolver tantas histórias faz com que a profundidade clássica dos Coen seja deixada de lado, tornando o humor mais raso e menos conceitual. A diferença em relação a Um Homem Sério neste aspecto é gritante.
Porém, a homenagem/sátira aos anos dourados de Hollywood, com suas megaproduções e seus artistas fabricados sob medida para manter a ilusão do público, funciona muito bem, com a paleta de cores e maquiagem pesada nos atores lembrando de forma precisa o visual da época. O desfecho do sequestro envolvendo Burt Gurney (Channing Tatum) também é digno de nota. A metalinguagem de se tratar a dedicação dos comunistas de Hollywood a URSS quase como um musical é icônica no sentido de que aquilo também era uma idealização de um imaginário para eles, tanto quanto o cinema da época fazia para o público. Porém, essa afirmação visual interessante acaba sendo deixada em segundo plano no final.
Ave, César! é uma produção de nível técnico muito bom, mas falta em si um centro, uma trama mais enxuta e menos corrida, que nos fizesse digerir e acompanhar mais o que vemos na tela. Os bons momentos valem a conferida, mas deixa muito a desejar em comparação a obras dos Coen que abordaram o mesmo tema.
–
Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.