Já parece ser consenso que Tom Hardy é um grande ator. O cidadão tem enfileirado uma série de grandes atuações e há quem diga que ele atuou muito melhor que Leonardo DiCaprio em O Regresso. Sobre esse fato, eu não posso opinar, pois até hoje não criei coragem para assistir à tão falada película que finalmente rendeu o primeiro Oscar para o astro de Titanic. Entretanto, assisti a esse Lendas do Crime, filme que se sustenta muito mais pela grande atuação de Hardy como os gêmeos Kray do que por seu próprio roteiro ou direção.
Na trama, o novo Mad Max interpreta Ronnie e Reggie Kray, irmãos gêmeos que dominaram o crime organizado em Londres durante o final da década de 50 e a década de 60 através de alianças, negociatas e muita violência, principalmente pelo lado de Ronnie Kray, o gêmeo homossexual e esquizofrênico que perpetrava atos absurdos sem nenhuma ponderação.
Escrito e dirigido por Brian Helgeland, o filme é narrado sob a ótica de Frances Shea, esposa de Reggie Kray e interpretada pela lindíssima Emily Browning (de Sucker Punch: Mundo Surreal). Entretanto, isso acaba sendo um pouco problemático para o desenvolvimento do filme, já que Helgeland tenta imprimir uma certa crueza nos irmãos Kray, principalmente em Ronnie, e ainda que a personagem de Browning tente reportar isso para o espectador, a narração acaba por romantizar alguns atos do personagem. No que concerne à Reggie, fica ainda pior, porque até mesmo a odiosa sequência de estupro cometida por ele contra a esposa acaba sendo um pouco diluída e vazia. Porém, tal romantização se faz eficaz quando narra o destino final da personagem, gerando contornos inesperados à situação. No que tange a relação da dupla de protagonistas, o diretor e escritor trabalha muito bem, estabelecendo boa dinâmica entre os dois, em especial nos momentos de desentendimento entre os Kray. Existem duas situações especiais: a briga na casa noturna gerenciada pelos irmãos e o momento posterior a um assassinato cometido por Ronnie Kray, momento esse que envolve a toda a família Kray e explicita todas as relações pessoais da família de uma forma quase tragicômica.
Ainda que as atuações de Tom Hardy sejam sensacionais, seu desempenho como Ronnie Kray acaba sendo um pouco prejudicado pelos personagens que o cercam. O amante de Ronnie, interpretado por Taron Egerton (de Kingsman: Serviço Secreto), está muito acima do tom e chega a ser caricatural em vários momentos. Isso faz com que o Kray problemático torne-se odioso quando está acompanhado por ele em cena, fazendo com que o público confunda um esquizofrênico com um imbecil. Como Reggie Kray, Hardy está perfeito, fazendo um personagem complexo capaz de esbanjar charme e fúria. Emily Browning está muito bem em cena, fazendo com que uma personagem que possui uma grande bagagem emocional torne-se virginal em muitas cenas. David Thewlis e Christopher Eccleston, respectivamente o contador dos Kray e o detetive obstinado em prendê-los, entregam ótimas atuações, como sempre fazem.
Ainda que possua uma excelente reconstrução de época e boas atuações de todo elenco, Lendas do Crime sofre com uma direção e opções de roteiro vacilantes e não acrescenta nada de novo ou revolucionário aos filmes de gângsteres. Entretanto, vale a pena ser conferido principalmente pela atuação do craque Tom Hardy.