Adaptações de vídeo games comumente apresentam filmes vazios de conteúdo e qualidade narrativa risíveis. Coube a Clay Kaytis e Fergal Reilly adaptar o jogo para a plataforma mobile Angry Birds, usando como base o roteiro de John Vitti, que reúne a experiência como roteirista no The Office americano, Os Simpsons e Alvin e os Esquilos. A história é focada em Red, um dos pássaros primários nas missões do game. Na versão original é dublado pelo ator Jason Sudeikis, que já havia trabalhado com Vitti antes, em Saturday Night Live.
Angry Birds: O Filme é a estreia na direção de Kaytis e Reilly, que já haviam cooperado com o departamento de arte de Detona Ralph, Frozen: Uma Aventura Congelante e Hotel Transilvânia. A história do filme é bem simples, mostrando uma sociedade de aves, que não têm capacidade de voar e que vivem seus dias em torno da busca cega pela felicidade, ignorando seus sentimentos de raiva, tristeza e amargura, exceção feita ao entregador solitário e órfão Red, que somente dá vazão a essas sensações graças ao fato de ser órfão e não ter tido contato com seus pais jamais, não sabendo seu paradeiro ou se ainda estão vivos.
O tema musical de Heitor Pereira é repaginado logo nos primeiros instantes, mas é praticamente ignorado no resto da duração do filme, que basicamente se dedica a discutir conceitos de alegria obrigatória, em muito semelhante ao estudo de Luiz Felipe Pondé em Tirania da Felicidade, ainda que neste argumento tais ideias sejam muito mais sugeridas do que aprofundadas. Neste ínterim, Red é levado a uma terapia para controlar seus impulsos, então conhece os outros pássaros que formam os atacantes do game.
A persona de Red é basicamente a única que se permite ser complexa, já que ele é crédulo o suficiente para acreditar no personagem da Mega Águia – uma ave lendária, que ainda voava, e que viveria no topo da montanha da ilha – e ainda assim é cético com as boas intenções dos porcos viajantes que abarcam a praia, autênticos piratas que ludibriam o povo bobo e roubam seus ovos a fim de comê-los, não sem antes entreter com pão e circo os animais alados.
Ao mesmo tempo em que a trilha sonora funciona muito bem, com hits como Paranoid do Black Sabbath e I Will Survive, atua também como desconstrução do tema infantiloide, a dublagem brasileira faz perder o foco das piadas, apelando demais para gírias e expressões de linguagem atuais que basicamente fazem o texto ficar datado, com possibilidade de expirar qualidade em poucos meses. O grupo de dubladores é liderado por Marcelo Adnet, que, como em Os Penetras, serve de escada para outro humorista, no caso, aqui, Fábio Porchat.
Angry Birds – O Filme apresenta uma velha história de superação, vista em dezenas de outros produtos tradicionais de animação infantil. Não tenciona reinventar coisa alguma e consegue distrair facilmente o público alvo. Evidentemente, não traz um texto muito filosófico para os adultos, como nos filmes da Pixar, o que dá ainda mais significado ao feito do longa, que consegue superar demais o estigma de ser um filme sobre games.