Slam são poesias de até 3 minutos, e suas formas e variações são explicitadas durantes os 97 minutos do filme de Roberta Estrela D’Alva e Tatiana Lohman. O documentário Slam: A Voz do Levante tem seu próprio método de didatismo, mostrando seu mote e mensagem aos poucos, exemplificando com imagens como funciona o seguimento poético do slam e suas vertentes. Após uma breve introdução, com um concurso brasileiro.
Logo depois, a câmera de Lohman segue Estrela D’Alva, viajando o mundo pelos campeonatos e copas da modalidade, onde ela com sua presença de espírito altiva e intervencionista, declama seus poemas em português, com uma entonação que se faz entender para a plateia, obviamente com apoio de legendas em inglês, mas seu estilo e verve são sempre bem pontuadas, de acordo com as placas que são levantadas após o termino de cada número.
Após falar de maneira lírica uma poesia contra a misoginia presente na música pop, Roberta assume que seu objetivo ali era tocar nas pessoas, não necessariamente ganhar a competição, e de fato o que ela fala é diferente do que todos falaram, ainda que o senso crítico esteja presente nos praticantes da arte. De certa forma, o longa serve também para traçar uma biografia da mesma, já que mostra sua evolução tanto no quesito artístico, quanto no de organizadora e produtora de eventos.
É curioso perceber as diferenças de cenários, enquanto o chamado Original Slam, na Europa e Estados Unidos é executado em bares ou ambientes fechados, normalmente no Brasil há o uso de espaços mais informais, como praças ou lugares fechados improvisados, além dos eventos do Zap (Zona Autônoma da Palavra), realização que D’Alva também é responsável pela produção. Nos Estados Unidos, o estilo casa bem com o Jazz, já no Brasil, a influência maior é ligada ao hip hop.
Em ambas encarnações a tentativa é de aproximar o público da poesia, fugindo da pecha de que essa é uma arte chata, que expulsa o populacho. No discurso, mesmo dos praticantes mais antigos, está o ideal de destruir os padrões da poesia e ser contra o academicismo.
Os últimos momentos do documentário se dedicam a explanar sobre as variações brasileiras, como O Menor Slam do Mundo, o Slam do Corpo e outras modalidades. Em conversa particulares, D’Alva discute com os poetas sobre lugar de fala e a inibição da diversidade via discurso de nichos, e as ponderações da diretora e poeta tem um cunho bem razoável e maduro.
A maior força de Slam: A Voz do Levante certamente é a emoção com que a dupla de diretoras conduzem o estudo sobre a modalidade artística, pondo os temas discutidos muito acima de qualquer posição de nota ou mensuração de valor típica da votação dos jurados. A promessa de Estrela D’Alva de que sua performance tocaria as pessoas tem testificação não só no palco dos pubs ou praças públicas, mas também na tela de cinema, uma vez que seu filme é sim repleto de informação, mas também de muita alma e energia.
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