Koushun Takami chegou à final do Japan Grand Prix Horror Novel com seu primeiro livro, Battle Royale. O ano era 1997. Takami não saiu vencedor dali, mas sua obra impactou todo o país ao ser publicada dois anos depois. A partir daí, quase que imediatamente, Battle Royale ganhou adaptações para o cinema e mangá.
Dizem as más línguas que o júri do Japan Grand Prix Horror Novel não deu o prêmio a Takami devido ao conteúdo extremamente pesado e controverso do livro. Essa derrota não impediu que Battle Royale vendesse mais de um milhão de cópias no Japão e se tornasse parte da cultura pop mundial, inclusive a franquia de sucesso Jogos Vorazes.
Mas afinal de contas, do que se trata Battle Royale? A trama se passa numa espécie de Japão totalitário onde, de tempos em tempos, o governo escolhe uma turma de alunos para se matarem em um local isolado até que sobre apenas um sobrevivente. Uma história leve e feliz, ideal para toda a família.
Takami consegue, ao longo das mais de 650 páginas, narrar de forma detalhada toda a trajetória daqueles 42 estudantes até a fatídica ilha onde o “jogo maravilhoso” acontecerá. O ponto mais incrível é que a narrativa de Takami, embora lenta e detalhada, não é cansativa. Pelo contrário, é extremamente viciante. Ele não tem pressa de mostrar diálogos ou descrever as situações. Porém, a escrita de Takami é tão fluida que, além de ser agradável de ler, te permite criar um filme em sua mente sem grandes dificuldades. Méritos para a excelente tradução de Jefferson José Teixeira, que traduziu direto do original japonês e conseguiu adaptar perfeitamente ao português toda aquela trama macabra.
O ponto mais perturbador do livro é o fato de serem adolescentes na faixa de 15 anos se matando. Eles são da mesma turma da escola. Eles conviveram quase todos os dias até ali. Muitos deles são grandes amigos ou até namorados. As primeiras 70 páginas mostram esses jovens alunos interagindo uns com os outros antes de serem colocados naquele cenário de matança. E a regra é clara: só pode restar um, caso contrário todos morrem no final.
De início, temos acesso à lista de nome dos 42 alunos. Confesso que fiquei preocupado com isso. Será que o autor vai conseguir desenvolver tantos personagens? E mais, será que vou conseguir lembrar de tantos nomes, e pior, nomes japoneses? Takami conseguiu, e isso é assustador. Ele consegue criar diversos núcleos de personagens, e com isso o leitor terá um maior contato com os nomes, aos poucos. E se lembrará de como eles foram assassinados miseravelmente.
No final de cada capítulo, temos um lembrete [RESTAM X ESTUDANTES], o que gera uma tensão absurda: “Quando esse número vai mudar?”
Por mais que as mortes sejam constantes, Takami dá muita importância a elas. Não temos aqui uma história de assassinos seriais que matam toneladas de pessoas com métodos até engraçados, como vários filmes trash. São adolescentes com uniformes de escola matando seus colegas (e amigos) de classe. As atitudes descritas são muito críveis, onde nem todos estão plenamente dispostos a sair matando geral. Os personagens são bem humanizados, e as mortes realmente impactam. À medida que a metade do livro que está na sua mão esquerda vai ficando mais grossa, o número de estudantes remanescentes vai diminuindo e as páginas vão sendo viradas cada vez mais rápido. Seu maior desafio será ler apenas um capítulo por vez, ou algumas poucas páginas. É praticamente impossível. Queremos saber onde essa loucura vai terminar.
A quantidade de páginas talvez assuste os leitores menos assíduos, mas a verdade é que, ao terminar, você vai querer mais. É aquele livro que não dá vontade de parar de ler, mesmo que as situações violentas não sejam as mais agradáveis possíveis. Um livro extenso que pode facilmente ser devorado em poucos dias. Leitura fluida, perturbadora e de altíssimo entretenimento. Uma pena que o autor nunca mais escreveu nada após Battle Royale.
A edição lançada pela Globo Livros é excelente, papel de ótima qualidade e capa bonita, um belo produto.
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