Eis aqui uma grata surpresa entre quadrinhos nacionais. Kung Fu Ganja foi idealizado graças a um financiamento coletivo no Catarse, e temos aqui o primeiro volume desta saga. A capa faz referência a uma imagem clássica de Dragon Ball onde Goku está montado no dragão Shenlong. Ao invés de Goku, temos o jovem perneta Juan montado em seu fiel amigo Azulão. Não estranhe os nomes, estamos diante de uma aventura envolvendo o universo do kung fu chinês com uma verdadeira mistura cultural, principalmente, brasileira.
Um ponto interessante é a linguagem utilizada, coloquial ao extremo, com gírias e xingamentos, tornando a obra bastante irreverente. Existem muitas referências a drogas e sátiras religiosas, às vezes um pouco excessivas, mas sempre divertidas. Caso você se ofenda com esse tipo de conteúdo, melhor evitar a leitura.
A trama se passa num contexto de guerra entre China e Mongólia. A dinastia Song quer eliminar os inimigos mongóis e, para isso, aparentemente vão se valer de poderes desconhecidos. Davi Calil, autor de Uma Noite em L’Enfer, tem uma narrativa coesa e divertida, fazendo deste primeiro volume uma apresentação de personagens e do ponto central da história. A arte também ficou a cargo do roteirista, que aposta em um estilo mais cartunesco, com nítidas influências dos mangás. Os quadros foram coloridos com a ajuda de Thomas Giurno Destro, apostando em cores mais sóbrias e vivas, deixando a maior parte do sombreado a cargo das hachuras.
Há toques de fantasia e, claro, lutas exageradas e mirabolantes. Os quadros são bem construídos, alguns deles dignos de ser apreciados por longos momentos devido à quantidade de detalhes e elementos em cena. A linguagem narrativa dos mangás é bastante presente, seja pela forma de contar a história, seja por elementos visuais.
É curioso que o protagonista Juan aparece relativamente pouco, mas sua importância é notória. O personagem esbanja carisma e tem aquela burrice/inocência/ingenuidade e bondade que, inevitavelmente, nos remete ao Goku criança. Juan é obstinado na preservação da floresta que pode ser destruída pelo desvio de um rio ocasionado pela dinastia Song.
Apesar de inúmeras referências a outras obras e à cultura pop em geral, Kung Fu Ganja tem identidade própria e se mostra um quadrinho genuinamente brasileiro. O primeiro volume mostrou bastante qualidade e empolga o suficiente para querer buscar as próximas aventuras de Juan e Azulão pelas terras chinesas.
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