A surpresa por traz de O Chalé é Uma Ilha Batida no Vento e Chuva é enorme, pois seu começo de certa forma não faz jus a toda a complexidade de texto e de atmosfera que o decorrer do filme trará. A ideia por trás dessa história veio do desejo da diretora, Leticia Simões em retratar um pouco da vida e obra do romancista Dalcidio Jurandir. Para isso, ela decide viajar até o Pará praticamente sozinha em um lugar que mal tem sinal de celular para tentar capturar um pouco de quem era Dalcidio.
O documentário não se apega a muitas fórmulas e ao invés de perguntar às pessoas o que elas achavam de Dalcidio, basicamente mostram os lugares que ele frequentou acompanhado de seus textos. A investigação passa por escolas do Pará, onde são entrevistados alunos e professores e há um interesse genuíno pelas perspectivas de vida dessas pessoas. A reflexão sobre a educação acaba sendo não só local, mas nacional, e desata alguns nós e dúvidas bem específicas. Uma professora diz que boa parte dos pais prefere colocar os filhos para trabalhar ao invés de estudar, enquanto outros profissionais falam de algo óbvio que é o desrespeito que boa parte dos alunos tem em sala de aula.
Os versos de Dalcidio são ótimos e bem escolhidos. A justaposição das imagens com o som de suas palavras é muito boa mas em alguns pontos a narração não soa tão acertada soando inclusive burocrática. Apesar de Simões ter uma voz boa, em alguns momentos soa excessivamente lento, mas em tanto outros a leitura é intensa, e mesmo quando não está perfeito ainda há naturalidade. As divagações sobre literatura e como fazê-las agrega demais às imagens coletadas. Algumas cenas claramente tem as lentes sujas e colabora com o longa, já que conversa com um cinema de verdade, feito com baixo custo, suor, esforço e muito trabalho.
Há um ternura muito forte e a captação do trivial que a diretora faz condiz demais com o que fala a obra de Dalcidio. As cenas por dentro do rio, nas águas do arquipélago de Marajó filmadas a partir de uma jangada são de um primor tremendo e o resultado final de O Chalé é Uma Ilha Batida no Vento é uma celebração à vida no norte do país, além de evocar a memória de Dalcidio de maneira muito tocante, talentosa e bela.