Autor: Vortex Cultural

  • Crítica | Amor à Flor da Pele

    Crítica | Amor à Flor da Pele

    Wong Kar Wai, originário de Hong Kong, já foi definido algumas vezes como o Pedro Almodóvar chinês e essa associação faz sentido: um cinema de cores saturadas, beirando o kitsch, trilha sonora carregada e principalmente o foco em personagens reféns de seus desejos.

    Amor à Flor da Pele fala da sutil relação entre Su Li-Zhen (Maggie Cheung) e Chow Mo-Wan (Tony Leung, ator que protagoniza quase totos os filmes de Wong Kar Wai). Os dois são vizinhos em uma espécie de pensão na Shangai dos anos 1960 quando descobrem que o marido dela fugiu com a mulher dele. A partir daí entre um certo desejo de vingança e uma atração desafiada pela moral de ambos os personagens constroem uma relação que se estende por anos e que será minunciosamente analisada pelo diretor. Talvez o título em inglês do filme, “In the Mood for Love” deixe mais claro que não se trata de um filme sobre amor, é na verdade um filme sobre desejo.

    Wan deseja Su Li-Zehn (ou Sra. Chan como é chamada pelos outros habitantes da pensão) desde a primeira vez que a vê e esse desejo escancara-se cada vez que ele a vê caminhando de costas, de vestido justo e andar rebolado, pela escada da pensão. Com a descoberta da traição os dois acabam se aproximando, ele quer escrever uma série de artes marciais para o jornal, ela sugere ajuda-lo, mas a consciência dos olhares inquisidores dos vizinhos e da degradação que significaria mais um adultério impede que qualquer coisa aconteça.

    Os atores mal se tocam durante todo o filme, mas a câmera desveste Maggie Cheung a cada plano. A fotografia é toda avermelhada, quente. Os cenários são vulgares, o quarto alugado por Chow lembra muito o que poderia ser encontrado em um bordel. E a trilha sonora repete insistentemente “Quiçás, quiçás, quiçás”.

    Wong Kar Wai é um aficcionado confesso pela Argentina e o tango (um de seus filmes ,”Felizes Juntos”, se passa justamente em La Boca, onde nasceu o tanto argentino) e ele constrói “Amor a Flor da Pele” exatamente como uma dança: a cada momento um dos personagens se aproxima, enquanto o outro se afasta e esse desencontro vem carregado de uma vontade que nunca se realiza, dançarinos não são amantes.

    Pouco acontece além da relação entre os personagens, que cresce e se complica, até que se afastam, mas o jogo entre imagem, música e atuações torna o filme um exemplo brilhante da linguagem cinematográfica. Wong Kar Wai fala sobre amor, obsessão e desejo com nenhuma nudez, pouca fala e ainda menos toque, ele usa apenas cinema.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Crítica | Homens de Preto 3

    Crítica | Homens de Preto 3

    Após um hiato de 10 anos a série Homens de Preto retorna aos cinemas, agora com uma trama envolvendo viagens no tempo. O tema apesar de já estar batido até que foi bem utilizado nesse filme, mas gostaria de levantar somente um aspecto que eu acho essencial nesse tipo de filme.

    Quando falamos de filmes como MIB a única coisa que prezo é o fator diversão, se de fato aquele dinheiro que gastei no ingresso valeu a pena, se o filme realmente me divertiu. Assim como o primeiro filme saí do cinema satisfeito, me apresentaram um roteiro simples e sem muitas complicações. O agente J. (WIll Smith) perde seu parceiro K. (Tommy Lee Jones) após um prisioneiro chamado “Boris, o animal”  (que perdeu seu braço após um confronto com k, gerando assim aquele sentimento gostoso de vingança) fugir de uma prisão de máxima segurança na Lua. Boris consegue voltar no tempo e mata K, a morte muda toda continuidade no tempo-espaço fazendo com que só J. se lembre do seu parceiro como ele era. Após isso J. tem que voltar no tempo para salvar a vida de K. (agora interpretado por Josh Brolin) e também o destino da terra que está sendo ameaçada por uma invasão de alienígenas da mesma raça de Boris.

    A premissa deixa na cara que o filme não veio pra revolucionar nada ou qualquer coisa do tipo, é simplesmente um filme para você ver e relaxar. O roteiro se desenvolve com J, tentando se relacionar melhor com seu parceiro, que no seu presente era totalmente rude e sem nenhuma expressão emocional. Acaba que o K. do passado é um cara muito extrovertido e até mesmo brincalhão, solidificando assim a relação entre os dois.

    O roteiro não explora muito os outros personagens, e nem precisa. Você tem aquele plot principal que vai se desenrolando até chegar em seu desfecho, é uma história totalmente linear. Mas como disse ela não precisa de grandes reviravoltas (apesar de ter uma bem legal no final) desde que prenda sua atenção do início ao fim.

    No primeiro MIB eu achei muito maneiro a ideia inicial de que existia uma agência que mediava conflitos extraterrestres e regulava a entrada de qualquer ser aqui na terra. Inclusive um dos grandes baratos do filme é a aparição de celebridades meio “anormais” na tela de comunicação de alienígenas infiltrados na terra, que nesse filme tem uma participação hilária, mas tem que prestar muita atenção pra notar.

    Enfim, como disse antes, é um filme divertido. Com todo esse clichê de viagem no tempo o filme mesmo assim consegue se sustentar. E no final temos a explicação do porquê de K. ser tão rude na timeline inicial, e algumas coisas que não falarei porque seriam claramente um belo de um spoiler.

    Texto de autoria de Raphael Wisnesky.

  • Crítica | Donnie Darko

    Crítica | Donnie Darko

    ATENÇÃO: O TEXTO ABAIXO CONTÉM SPOILERS. ESTÃO AVISADOS!

    Assistir a um filme nada mais é do que uma atividade sensitiva que estimula nosso cérebro a raciocinar e a trabalhar em cima de todas as imagens que são transmitidas aos nossos olhos ao longo da película. É uma espécie de quebra-cabeça. As imagens funcionam como peças de informação, as quais devem ser montadas para poderem ser analisadas através de uma visão global, de modo a compreendermos uma possível mensagem que está tentando ser passada para os espectadores. Esse é o trabalho dos diretores. Transmitir uma ideia.

    Hoje vou falar sobre um dos filmes que, na minha visão, melhor trabalham a questão do quebra-cabeça cinematográfico. Estou falando de Donnie Darko, dirigido por Richard Kelly e lançado em 2001. Um filme que não pode simplesmente ser considerado ordinariamente e abaixo tentarei explicar o porquê. Antes de mais nada, recomendo sinceramente que assistam ao filme, já que o texto com toda a certeza terá spoilers. Se você, mesmo sem ter assistido, quiser se aventurar, bom… a vida é uma longa e insana viagem.

    Donnie Darko, interpretado por Jake Gyllenhaal, é um jovem problemático que possui indícios de esquizofrenia. Um dia, Donnie conhece Frank, um coelho gigante que o salva de um acidente que  ocorre em sua casa. Frank profetiza o fim do mundo para Donnie, o qual passa a obedecer ordens do Coelho. Donnie se encontra inserido entre a realidade e suas alucinações, ao mesmo tempo em que questiona o sentido da vida e da morte.

    A primeira cena do filme nos apresenta o clima em que adentraremos: Donnie amanhece no meio da rua, em uma estrada com um lindo visual nas montanhas. Ele levanta sem saber como chegou até lá e dá um sorriso, como se achasse graça da situação. É evidente que Donnie é um garoto diferente, solitário e sombrio. Na cena seguinte, pega sua bicicleta que estava deitada no acostamento (indicando como ele se locomoveu até aquele ponto tão distante da cidade) e volta para casa. Nesse caminho de volta, somos apresentados a uma pacata cidade, ambientada no final dos anos 80, com pessoas caminhando, o pai de Donnie cortando grama, sua irmã mais velha saindo para passear, sua irmãzinha pulando na cama elástica e sua mãe lendo um livro do Stephen King. Um típico exemplo de família modelo, em que Donnie seria a ovelha negra: ao entrar em casa depara-se com “Onde está o Donnie?” escrito na porta da geladeira. A figura do personagem no filme representa sua autenticidade no contexto geral da sociedade.

    O mundo em que vivemos cria padrões de comportamento e modelos a serem seguidos por toda uma sociedade. Todas as pessoas e elementos indiretamente acabam sendo englobadas por essas “tendências” sociais. Os que não se enquadram no modelo  acabam sendo moralmente coagidos, retaliados ou forçados a adentrarem. Fica evidente essa ideia quando descobrimos que Darko toma remédios psiquiátricos. Teria ele esquizofrenia como sua analista suspeitava ou seria apenas uma forma de a sociedade não aceitar a forma não convencional como nosso protagonista age? Donnie desaprova quando toma seus remédios; porém, mesmo assim, o faz.

    Na noite do mesmo dia somos apresentados à entrada de dois universos: o da mente de Donnie Darko e a realidade. Donnie é acordado por Frank, o coelho gigante, que profetiza o fim do mundo. “28 dias, 06 horas, 42 minutos e 12 segundos”, diz Frank. Podemos dizer que metaforicamente Donnie estaria adentrando nesse momento no País das Maravilhas: na fábula de Lewis Carroll, um coelho conduz Alice para uma outra dimensão. Tanto Donnie quanto Alice apenas existem; seus conhecimentos passam a ser adquiridos com os acontecimentos que vem a seguir. Na mesma noite acontece outro fato estranho: uma turbina de um avião cai em cima da casa de Donnie, mais especificamente em cima de seu quarto, porém nosso protagonista não estava lá, pois havia sido acordado por Frank. Ninguém sabe de onde veio a turbina e nem de que avião, o que torna as coisas ainda mais misteriosas até esse ponto do filme.

    Inserido no meio de uma série de acontecimentos estranhos, uma pessoa “anormal”, por assim dizer, passaria a se encontrar na anormalidade das coisas que vão acontecendo. Uma nova realidade é criada, com a qual Donnie acaba se identificando. O filme apresenta uma forte discussão no que diz respeito ao sentido da vida e da morte. Em uma cena do filme, o pai de Donnie quase atropela uma velha senhora chamada de Roberta Sparrow. Ela chega no ouvido de Donnie e diz que “todos os seres vivos morrem sozinhos”. Essa fala, por si só,  vai cair como um peso sobre os ombros do protagonista, pois é um pensamento terrível. Em um mundo onde as pessoas vivem socialmente e se apegam, a solidão é um pesadelo. Morrer ganha a figura desse pesadelo ao pensarmos que vivemos em vão, sem nenhum sentido, para atingirmos um fim indiferente, que é nossa morte.

    A vida não é tão simples assim e, por isso, Donnie vai questionar a ordem da sociedade. Em seu colégio, uma de suas professoras passa a incitar os alunos a aceitar a filosofia de Jim Cunningham (interpretado por Patrick Swayze), o qual defende que a vida se baseia em amor e medo. Todos temos que nos afastar de atitudes que se enquadrariam na categoria “medo” e deveríamos assumir posturas coerentes com “amor”. Donnie não aceita essa visão e passa a se meter em problemas na escola por conta disso, como quando ele mandou sua professora enfiar a “linha do medo” na… é, deu para entender.

    Frank incita Donnie a realizar uma série de atos “criminosos” contra sua cidade, buscando como único objetivo o de virar de cabeça para baixo o mundo em que vivem. Inundar a escola e queimar a casa de Cunningham, por exemplo. Tudo não passa de um movimento de criação. No contexto do filme temos a destruição como uma forma de criação e a busca da quebra de paradigmas.

    Ao mesmo tempo entramos em uma discussão digna de Stephen Hawking, já que Frank diz: “Venha comigo para o futuro” e, a partir de então, entramos em uma discussão pesada em relação a viagens no tempo. Observamos que todas as atitudes que Frank manda Donnie fazer acabam influenciando de alguma forma o futuro do personagem. Até mesmo quando Darko conhece Gretchen (interpretada pela linda atriz Jena Malone), a qual virá a ser namorada de Donnie futuramente, foi justamente pelo fato de ter inundado a escola na noite anterior.

    Nesse momento do filme percebemos que Donnie Darko já entendeu que ele é o responsável por determinar os resultados de seu futuro. Ele possui o poder de manipular os acontecimentos e é nisso que ele acredita. Queimar a casa de Cunningham, por exemplo, acabou por revelar que o mesmo possuía uma série de fotos, vídeos e objetos que o denunciavam como pedófilo. Através da atitude de Darko, Cunningham é desmascarado e por isso é preso.

    A todo momento não sabemos até que ponto as coisas que vêm acontecendo, os encontros com Frank e as coisas que ele manda Donnie fazer são parte da realidade e o que faz parte de possíveis alucinações do nosso personagem principal. Será que as supostas viagens no tempo realmente seriam possíveis? Donnie está intrigado com essa possibilidade e passa inclusive a buscar ajuda de um dos seus professores para tentar entender os princípios físicos da viagem do tempo.

    Algumas cenas que se passam na escola ajudam a desenvolver ainda mais os mistérios apresentados ao longo do filme. Quando a professora Karen Pomeroy (interpretada por ninguém menos que Drew Barrymore) é demitida, ela diz a Donnie “cellar door” (porta de adega, em tradução livre), citando Edgar Alan Poe e J.R.R. Tolkien, que a consideravam a frase mais bela da língua inglesa, sonoramente falando. Essa “porta de adega”, posteriormente, se apresenta como um possível portal para viajar no tempo.

    No dia de Halloween, a irmã mais velha de Donnie resolve fazer uma festa em comemoração ao fato de que foi chamada para estudar em Harvard. Esse seria o último dia do mundo, segundo a previsão de Frank. Uma fatalidade acontece e as coisas passam a ganhar outra direção. Gretchen é atropelada por um carro e, quando percebemos, um garoto com a fantasia de Frank sai de dentro do mesmo. Somos apresentados ao presente, que representava o futuro por toda a extensão do filme até então.

    Frank é o namorado da irmã de Donnie e lá estava ele com sua fantasia de coelho. Todos os acontecimentos convergiram para o momento em que Donnie puxa a arma que havia pego do quarto de seu pai e atira em Frank. Sua namorada estava morta e ele se encontrava mais uma vez desolado, sem entender o porquê de as coisas terem tido aquele resultado. Donnie pega o corpo de Gretchen e o leva para o local onde o filme se inicia, na estrada em que nosso protagonista havia amanhecido. Uma espécie de renascimento acontece, uma epifania atinge nosso personagem e em um momento percebemos que ele atingiu o autoconhecimento.

    Ao mesmo tempo em que isso acontece, a cena muda para o avião da mãe de Donnie, que está voltando com Samantha (irmã mais nova) de um campeonato de dança. Repentinamente, o avião entra em um estranho turbilhão que mais parece um portal (ou um wormhole, que nas teorizações de Stephen Hawking abriria portais para viajar no tempo) e sua turbina quebra. Todos os acontecimentos passam pelos olhos de Donnie Darko e mais uma vez voltamos para a noite em que ele havia entrado no País das Maravilhas. Dessa vez, Donnie sorri e deita na sua cama, com um ar de alívio, como se estivesse aceitando o que deveria acontecer desde o começo. Ele entende o que significaria a sua vida dali para frente tendo um outro resultado. Donnie sorri. A turbina cai em cima do seu quarto e ele morre.

    O filme deixa uma margem gigantesca para diversas interpretações. O final não junta todos os pedaços, porém nos oferece uma direção de raciocínio. Pra encerrar com direito a nos arrepiar completamente, Mad World começa a tocar, ao passo que nos são mostrados todos os personagens que fizeram parte dessa história, como se a escolha que Donnie fez tivesse influído de alguma forma para um autoconhecimento de todos. Temos o autossacrifício, baseado no Cristianismo e nos ensinamentos do Budismo (neste, o Coelho é um símbolo de autossacrifício, pois o animal teria se atirado ao fogo com o objetivo de alimentar Buddha, que estava faminto. Como recompensa, ele ganhou uma nova casa na lua). O mundo de fato havia acabado, na vida de Donnie Darko. Atingiu uma nova forma de criação através de sua morte.

    Para finalizar este longo estudo sobre o filme de Richard Kelly, deixo um poema escrito pelo próprio Donnie Darko, e que foi disponibilizado nos extras do DVD:

    “Uma tempestade está a caminho, diz Frank.
    Uma tempestade que irá engolir as crianças,
    e eu vou devolvê-las do mundo da dor.
    Vou devolvê-las de volta para suas portas;
    Mandarei os monstros de volta para o subterrâneo.
    Vou mandá-los de volta para um lugar onde ninguém poderá vê-los,
    exceto por mim
    porque sou Donnie Darko.

    Se uma ideia foi transmitida eu não sei. Donnie Darko é um quebra cabeças que possui milhares de peças, que, por incrível que pareça, formam desenhos diferentes. Com certeza uma excelente obra pra ser apreciada pelos amantes da sétima arte.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Mágico Vento

    Resenha | Mágico Vento


    Hoje irei inovar um pouco e falar sobre um quadrinho excelente, que poucos conhecem: Mágico Vento.

    Trata-se de um fumetti, ou seja, HQ italiana. Alguns podem ter ouvido falar do Tex, também conhecido como “gibizinho preto e branco de faroeste do tempo do meu avô”. Publicado até hoje, e muito bom, aliás. Mágico Vento é da mesma linha, só que mais recente. A série começou na Itália nos anos 90 e a editora Mythos trouxe pro Brasil em 2002.

    Mas de que trata essa série, afinal? Também é um faroeste, mas muito mais profundo, maduro, adulto e etc. O protagonista é Ned Ellis, soldado que foi ferido na explosão de um trem. Com uma farpa de metal cravada no cérebro, ele perde todas as memórias, mas ganha o dom de ter visões e premonições. Salvo da morte por um velho xamã índio, Ned recebe o nome de Mágico Vento e se torna aprendiz de feiticeiro (hehe) e membro da tribo Sioux. Seu amigo e parceiro de aventuras é Poe, um jornalista alcoólatra sósia de Edgar Alan Poe.

    A partir daí, a série se desenvolve cada vez mais, e aborda muitos temas: cultura indígena, com costumes, lendas e tal; terror, com as criaturas mais bizarras enfrentando o herói. História, mostrando com realismo absurdo como foi o Velho Oeste americano, inclusive aparecendo personagens reais (General Custer, Touro Sentado e vários outros); política, com Ned envolvido com intrigas governamentais em tramas dignas dos melhores filmes de espionagem. Tudo isso com muita ação típica do Western, com tiroteios a rodo.

    Um dos detalhes mais interessantes é que aos poucos vão sendo revelados detalhes do passado de Mágico Vento. O leitor descobre as coisas junto com o herói, uma fórmula que nunca falha. Cada edição tem uma história específica, que pode ser lida separadamente, mas há um plot central que vai aos poucos se desenhando. E é de explodir cabeças.

    O criador e roteirista da série é o genial Gianfranco Manfredi. Na Itália ele é um famoso roteirista de cinema, TV, livros e claro, quadrinhos. Seus roteiros em Mágico Vento são embasados em muita pesquisa, o que garante uma verdadeira aula a cada edição. A equipe de desenhistas conta com vários artistas espetaculares, um dos melhores é o croata Goran Parlov. Alguns aí devem ter visto o trabalho dele em Justiceiro MAX, nas histórias com o Barracuda. O traço do cara ficou legal colorido, mas em P/B ele simplesmente HUMILHA.

    Enfim, eu poderia escrever páginas e mais páginas sobre essa série fantástica, mas fica a dica. Se alguém tem preconceito contra faroeste, gibis preto e branco ou o que for, Mágico Vento merece o benefício da dúvida. Pode ser a porta para um mundo novo, um estilo bem diferente de HQ, que infelizmente é bem menos conhecido do que comics e mangás.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | Sete Dias com Marilyn

    Crítica | Sete Dias com Marilyn

    Do sucesso sem precedentes de Marilyn Monroe todos tem conhecimento. O brilho de uma estrela que com apenas 27 anos atingiu um sucesso absoluto em Hollywood é muitíssimo reconhecido em diversas homenagens feitas a ela, porém em Sete Dias com Marilyn o enfoque é um pouco mais peculiar. Mesmo um atraso considerável na chegada deste filme aos nossos cinemas, finalmente podemos contemplar este filme dirigido por Simon Curtis e que merecidamente disputou os os prêmios de Melhor Atriz (Michele Williams), e de Melhor Ator Coadjuvante (Kenneth Branagh).

    A história baseada em dois livros de Colin Clark se concentra no ponto de vista do mesmo, interpretado por Eddie Redmayne, e se passa nos bastidores da gravação do filme “O Príncipe Encantado”. Clark acaba de adentrar no mundo do cinema e está trabalhando na produção do filme, mas não esperava se aproximar tanto da atriz principal a ponto de viver uma curta, mas intensa paixão por ela.

    O brilho, a sensualidade e a beleza de Marilyn entram em contraste direto com seus problemas pessoais, sua insegurança e seus medos. Para os que não estão familiarizados com a história da atriz, somos apresentados a uma Marilyn mais ambivalente e mais humana. Uma jovem que é considerada um exemplo para um mundo que ao mesmo tempo confronta o medo desse fardo.

    Michele Williams é perfeita e brilha no filme. Seu olhar é profundo de tal forma que podemos perceber muitos sentimentos apenas com o vislumbre do seu semblante. A iluminação e fotografia utilizada no filme, misturados com algumas cenas de câmera lenta, se mesclam perfeitamente à atriz. Ela revive Marilyn Monroe nesse filme e o faz muito bem, não somente em relação aos momentos de brilho, mas também nos momentos obscuros da personalidade da atriz.

    Eddie Redmayne e Kenneth Branagh também se destacam de maneiras diferentes. Enquanto o primeiro trabalha a visão inocente e de certa forma impulsiva de um jovem que se apaixona por uma grande atriz, conseguindo criar empatia com o público dos seus sentimentos joviais, o segundo explora um personagem que procura criar o filme perfeito e para isso tem que contornar os problemas de Marilyn e o ciúmes de sua esposa.

    A fantástica atuação compensa o roteiro simples e a trilha sonora modesta que o filme possui. Conseguimos sentir e simpatizar com os personagens nas ações mais triviais, nos olhares e nos sorrisos. Estes pequenos problemas acabam não sendo nada para a grandiosidade que o filme se apresenta em seu produto final.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | A Perseguição

    Crítica | A Perseguição

    John Ottway (interpretado por Liam Neeson) é um atirador contratado por uma empresa petrolífera para defender os campos de trabalho contra lobos. O local de trabalho localizado no Círculo Ártico é descrito rapidamente pelo protagonista como o próprio inferno. Os que estão ali querem se distanciar da sociedade assim como John. Tudo muda após um acidente de avião em que Ottway e mais algumas pessoas sobrevivem, porém devem enfrentar a sobrevivência em um lugar gélido e cheio de lobos famintos à espreita.

    Liam Neeson lidera o filme do começo ao final. Seu personagem com tendências suicidas se vê na obrigação de ajudar os seus colegas frente a uma situação de sobrevivência em que é claramente mais experiente. O ator realiza um excelente trabalho guiando um personagem que acaba buscando sua redenção lutando contra sua própria natureza.

    Em um filme que se busca sufocar a humanidade frente o natural, todos os personagens acabam tendo sua importância. Tirando o destaque de Liam Neeson, os outros sobreviventes tem suas próprias naturezas e personalidades  sendo exploradas de maneira modesta, mas ainda assim considerável. O roteiro possui esse pequeno buraco, porém essa falha acabou sendo camuflada dando abertura para que boa parte do desenvolvimento desses personagens secundários se dessem por mérito dos atores.

    O diretor Joe Carnahan tenta levar a essência do ser humano ao limite. Apesar de achar que isso poderia ter sido levado em um patamar mais acima, de uma forma que sentiríamos a “claustrofobia” causada pela natureza sufocando o ser humano, acredito que o filme realiza um pouco dessa sensação de forma justa e satisfatória. Boa parte disso se resolve até mesmo pelo habitat gélido que está ali presente, quase como um personagem opressor que castiga os personagens.

    A Perseguição nos leva aos limites da tensão dramática. Os indivíduos presentes no filme não estão apenas enfrentando lobos, que quase que estrategicamente se aproveitam do clima para enfraquecer os homens e matá-los um a um, mas suas próprias naturezas e instintos. Como o próprio pai de John Ottway escreveu em uma poesia quando jovem: “você vive e morre neste dia”.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | Kick-Ass

    Resenha | Kick-Ass

    Kick-Ass

    Super heróis no mundo real. Você já deve ter ouvido essa premissa um milhão de vezes. (Como seria se, visão realista, bla bla bla. Inclusive Watchmen, obra máxima do gênero, se baseia nisso)

    Porém, ao contrário do que possa parecer, não é um tema esgotado, pois pode ser abordado por diferentes perspectivas. Que tal uma comédia escrachada de humor negro, cuja proposta é ESCROTIZAR os super heróis, e mais ainda, seus fãs? Prazer, Kick-Ass.

    Publicada em 2008 pela Marvel Comics (sob o selo adulto Icon), a série em 8 edições conta a história de Dave Lizewski, um colegial de New York. Um garoto comum, vivendo uma vida comum, sem nada especial. Exceto por ele ser viciado em quadrinhos de heróis. Provando que essas coisas fazem mal às crianças (atenção, pais), um belo dia o maluco se pergunta por que ninguém nunca tentou ser um super-herói no mundo real. Tipo, com tantos gibis, filmes e tudo mais, como é possível que ninguém tenha pensado nisso? Seus amigos igualmente nerds acham que o cara que tentasse, teria sua bunda chutada. Mas Dave não concorda: faz um uniforme em segredo, arranja um par de bastões, se exercita um pouquinho e resolve partir pra ignorância.

    Em sua primeira missão, nosso herói leva um cacete medonho de três delinqüentes, é esfaqueado, e atropelado por um carro. Por sorte consegue esconder o uniforme antes dos médicos chegarem, evitando a humilhação. Várias cirurgias, alguns pinos pelo corpo, uma placa de metal na cabeça e meses de fisioterapia e acompanhamento psicológico depois, o que ele faz: exatamente, tenta de novo. E consegue! Salva um cara de uns assaltantes, leva porrada mas também bate, e assim afugenta os marginais. Algum transeunte filma a ação com o celular, joga no YouTube e pronto, temos o novo fenômeno da Internet.

    Como toda modinha, Dave (ou Kick-Ass) inspira uma legião de imitadores. A maioria simplesmente curte se fantasiar e se exibir pros miguxos (cosplay, alguém?), alguns inclusive partindo pra um lado mais, digamos, pervertido. Outros, porém, resolvem de fato combater o crime: o maconheiro Red Mist, e a dupla Big Daddy e Hit-Girl. Esses, porém, não estão pra brincadeira: atacam e matam mafiosos. A menina, aliás, é a melhor coisa da história. Imagine uma versão infantil da Noiva, de Kill Bill. Ou como dizem na hq, “John Rambo encontra Polly Pocket”.

    A partir daí a história vai se superando em violência e humor MUITO politicamente incorreto. O escritor é o escocês insano e fanfarrão Mark Millar (de Guerra Civil e Os Supremos), e os desenhos são do amado e odiado John Romita Jr. Millar é um autor que abraçou com gosto a onda de filmes de super-heróis; vem se dedicando a projetos autorais cujos direitos pro cinema vendem antes mesmo de finalizar o roteiro dos quadrinhos. Foi assim com O Procurado e agora com Kick-Ass. Obra que gerou polêmica, muitos a acusando de ser gratuita, vazia e etc. Não que não seja, mas os detratores esquecem do fator DIVERSÃO. E Kick-Ass é isso, um produto assumidamente pop, comercial, que honestamente propõe e entrega diversão descerebrada. Millar brinca habilmente com os clichês do gênero, com as expectativas dos leitores, que obviamente se identificam com o protagonista. Você se empolga, torce, acha que Dave finalmente vai se dar bem, e… NOT! O autor joga na nossa cara o quanto somos losers, e que tudo não passa de uma grande sátira a esse universo.

    A indicação fica pra quem tem mente aberta, sabe relaxar e curtir um blockbuster sem grandes pretensões ou conteúdo profundo.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | A Mulher de Preto

    Crítica | A Mulher de Preto

    A Mulher de Preto é um filme do diretor James Watkins com o famoso ator Daniel Radcliffe (conhecido pelo seu papel em Harry Potter) que alcançou bastante propaganda justamente pelo seu protagonista. O filme conta a historia de um advogado que se vê forçado a viajar para uma aldeia do interior para cuidar de um caso, mesmo que ainda não tenha se recuperado da morte da sua esposa que ele passou recentemente.

    Primeiramente, o filme tem paisagens excelentes. As locações do filme são magníficas, deixando com vontade de visitar os locais. Além das paisagens naturais, que dão um ar de interior da antiguidade, as locações de cidades passam muito bem a ideia de estar em um interior da Inglaterra antiga ou até na londrês antiga.

    Mas um ponto é o figurino, que também ficou muito bem feito. Existe uma diferença visível até entre as roupas usadas pelas pessoas na cidade e no interior. Como seria de se esperar daquela época. Até mesmo dos ares entre a cidade e o interior.

    Agora porque eu notei isso? Porque eu faço corte&costura e paisagismo? Não, juro. Porque o filme tem um clima de era vitoriana muito grande, causando uma impressão de realismo e não lhe tirando do clima do filme e sempre aumentando. Por algum tempo você até pensa que poderia ser a população que devia realmente ter suas crenças nessa época que estava criando aquele clima. Você se sente transportado direto para aquele ambiente, o que se torna muito importante para gerar esse clima de desconfiança do que é real ou mito no filme.

    Veja que o filme passa uma grande parte do tempo se preocupando em desenvolver e lhe prender na tensão da historia. Quem seria a mulher de preto? Ela seria um fantasma mesmo? Se for um fantasma, seria a mulher dele?

    O personagem muito bem interpretado pelo “Harry Potter” segue com suas motivações muito criveis, além de interpretar muito bem um pai que tem que ser melhor e mais forte por causa do seu filho. Tudo isso em uma interpretação muito contida, em que você olha alguém que passou por muita coisa, mas não pode demostrar, não tem para quem o intenda e tem que seguir em frente mesmo ainda não superado os seus traumas.

    O filme tem uma duração curta de uns 90 min., que acaba sendo um pouco curto. Mas, se o filme se estendesse mais, possivelmente perderia o ritmo ou seria adicionado na historia do filme elementos desnecessário ao ambiente. Nesse caso, a duração ser curta é uma coisa boa. Nesse caso, menos tempo é mais conteúdo.

    Sobre o final do filme, aguardem uma boa surpresa. O final eu classificaria como corajoso por não se render a ser mais agradável e não previsível por brincar com o que você sabe e o que você acha que sabe. Em nenhum momento sabemos de tudo e tudo é incerto, e o final não podia ser diferente.

    Pessoalmente, recomendo o filme porque eu gostei. Diferente de muitos filmes, esse da um ar de susto/tensão pelo seu desenvolvimento e interpretação dos atores, apesar de abusar de alguns clichês de vez em quando, mas sabemos que o que importa não é a historia e sim como ela é contada. E nesse caso foi uma excelente forma de contar uma historia de fantasma.

    Texto de autoria de Psycho Mantys.

  • Crítica | Os Vingadores

    Crítica | Os Vingadores

    Após uma longa espera, repleta de ansiedade e expectativa crescentes, chegou o evento mais importante da História da humanidade. E a conclusão (sim, já na segunda frase) é que é ótimo estar vivo nessa época. Os Vingadores finalmente chega aos cinemas, e o fato de todo mundo estar falando incansavelmente sobre o filme deixa mais difícil fazer uma análise “original”, então ligarei o foda-se pra isso e tratarei simplesmente de apresentar minha opinião.

    Em sua trajetória até aqui, o Marvel Studios optou por controlar fortemente suas produções, assegurando que tudo sairia de acordo com o planejado. Por conseqüência, os filmes anteriores foram muito mais “do estúdio/produtores” do que de seus respectivos diretores (quem chegou mais perto de colocar uma certa identidade foi Kenneth Branagh em Thor). Discussões artísticas a parte se isso é certo ou errado, o fato é que funcionou.

    Os heróis foram apresentados, o universo foi estabelecido, e chegou a hora do próximo passo. Fácil, alguns poderiam dizer: só juntar todo mundo pra dar porrada em alguém e pronto. Seria “massaveísticamente” divertido, lógico, mas porque não fazer um BOM FILME contendo isso? Então temos uma quebra do padrão, pois é inegável que em Os Vingadores muito do crédito se deve a Joss Whedon.

    Além da direção, ele fez modificações no roteiro quando assumiu o cargo, e conhecendo seu background, conclui-se que o cara acertou a mão. Quase um estreante no cinema, a experiência de Whedon em seriados de Tv e como roteirista de quadrinhos lhe ensinou a trabalhar com vários personagens dando a todos a devida atenção. O que, qualquer ameba deduz, era fundamental neste filme. Muito mais do que uma história mirabolante, o foco aqui é, e devia ser, a interação entre a galera. E numa palavra: SENSACIONAL.

    Quem já leu uma revista em quadrinhos na vida sabe que é lei: heróis saem na porrada quando se encontram pela primeira vez. E não se engane, este é um filme feito pra fãs. Então temos um festival de pequenas lutas, praticamente um todos contra todos. O detalhe positivo é que o roteiro conduz tudo isso de forma muito natural, evidenciando que todos estão acostumados agir sozinhos e não vão confiar de cara em desconhecidos. Inverossímil seria se todos fossem Super Amigos desde o início. Também com naturalidade vem a superação das desavenças quando o momento exige. Outro ponto inteligente do roteiro: não foi todo o planejamento da S.H.I.E.L.D. que botou os heróis pra trabalharem juntos. Foi a necessidade, o surgimento de “uma ameaça grande demais pra qualquer um deles enfrentam sozinho”. Como é bom quando os realizadores do cinema LÊEM os quadrinhos…

    Mesmo os personagens mais irrelevantes encontram seu espaço. Começando pelo melhor de todos (ironia mode on), o Gavião Arqueiro. Um zé ruela com arco e flechas no meio dos outros, muita gente questionava. Pois bem, amiguinhos: os caras não são idiotas, Barton é naturalmente colocado como um peixe fora d’água. Mas graças a um esperto artifício de roteiro, logo no início ele adquire uma posição diferente, ganhando uma participação mais ativa do que teria. E no fim das contas, ele é um agente fodão, que ta lá pra fazer aquilo que puder numa situação onde qualquer ajuda é bem vinda. E ele manda bem, simples assim. Jeremy Renner é um ator em ascensão, competente apesar de (na minha opinião) supervalorizado.

    Passemos então a (aaahhh…) Scarlet Johansson. Uma das boas surpresas do filme, devo dizer. Gostosa como sempre, mais uma vez com espertos enquadramentos de sua lendária e maravilhosa bunda, nenhuma novidade aí. Mas deu pra perceber uma boa atuação por parte dela, aliada a um desenvolvimento interessante da personagem Viúva Negra. Muito legal sua origem russa ser citada aqui (algo ignorado em Homem de Ferro 2), da mesma forma que seu passado com o Gavião. Ficou a curiosidade em saber mais sobre isso, de repente um spin off estrelado pela dupla seja uma idéia a ser pensada com carinho.

    Outro que surpreendeu foi o Hulk/Banner de Mark Ruffalo, um ator meio “mais do mesmo” que aqui conseguiu achar um tom que me agradou muito: algo entre a insegurança de um cientista meio loser em relações pessoais e a tranqüilidade de alguém que há anos convivendo com uma maldição, conseguiu controla-la. Ao contrário do que imaginei, Bruce Banner aparece bastante (o que não fica chato!) e o Hulk é usado com moderação, garantido níveis épicos de fodacidade quando parte pra ação. E na boa, pessoal, chega do eterno mimimi sobre o CGI do bicho ficar ruim, etc. Ele não é um ser humano grande e forte, é um monstro deformado. Não dá pra ficar “realista”. Algumas pessoas parecem desejar uma tecnologia que não existe. Vamos parar com a frescura e seguir em frente.

    Thor foi um personagem que me decepcionou um pouco, no sentido de sua relação com os outros. Lindos os quebra-paus contra Homem de Ferro e depois contra o Hulk, sem dúvida. Mas o fato do loirão já estar estabelecido e auto afirmado como “protetor da Terra” deixou pouco espaço pra um drama pessoal, uma evolução, além dele surgir um tanto abruptamente na meio da história. Seu interesse maior foi mesmo em relação a Loki, ainda tentando convencer o irmão a parar com as maldades. Postura recorrente nas hq’s, então não dá pra reclamar muito. Mas a impressão final é que, no caso dele, rolou um ctrl c no roteiro de Thor 2 e um ctrl v no meio da trama de Os Vingadores, fazendo com a jornada deste herói destoasse da dos demais. Chris Hemsworth mais uma vez manda bem.

    O outro Chris, o Evans, eternamente criticado por boa parte do público, também faz um bom trabalho. O que prejudica, e muito, o Capitão América, é a inexplicável mudança de sua roupa maneira pra um cosplay bem ridículo. Modernizar o uniforme pra que, após todo esforço que o filme solo teve pra combinar o aspecto super-heroístico com um visual militar? Pelo menos partissem pra algo mais sóbrio, talvez uma roupa de couro com um tom mais escuro, sóbrio. Aquele azul berrando deixou-o deslocado em meio aos outros heróis. Por outro lado, vê-lo muito mais ágil foi excelente, aproximando o personagem dos quadrinhos. Outra discussão pré-filme sempre foi sobre sua liderança (ou não) da equipe. Aqui ele não é, de fato, um líder inquestionável, apesar de ter seu momento de comandante de campo, visto sua experiência na Guerra. Isso se deve, porém, muito mais o fato do grupo ainda estar se formando (e o próprio Rogers ainda estar deslocado no presente) do que ter esse posto roubado por outro personagem de mais sucesso, como muitos imbecis pregaram aos quatro ventos.

    Pois o Homem de Ferro NÃO lidera a equipe, não comanda nada. Não aconteceu um fenômeno Wolverine aqui. Stark é o personagem mais legal, mais carismático, tem as melhores tiradas, Robert Downey Jr rouba a cena? Com certeza, mas sabiamente (graças a Deus) os caras não botaram o Ferroso pra dar ordens por conta disso. Ele ainda é o rebelde piadista, que apenas toma consciência da grandiosidade da situação e de sua própria importância no meio de tudo, e age de acordo. Sem nunca perder o humor mordaz. Se o herói se destaca, é naturalmente, não por ser “O” protagonista.

    Finalmente, o vilão. Tom Hiddleston mais uma vez ótimo no papel de um Loki eternamente movido pela inveja de Thor, isso é intrínseco do personagem. Muitos dos que estão criticando provavelmente desconhecem isso. Sem dúvida que todo seu plano, e movimentos para executa-lo, são bem “qualquer coisa” pra fazer a trama andar e os heróis brigarem entre si e depois se unirem. Sem dúvida um ponto pouco trabalhado do roteiro e o grande defeito do filme, porém perdoável. Como citado antes, o importante são os heróis interagindo, então a ameaça não ser tão bem desenvolvida é uma simples questão de falta de tempo. Falando em falhas, outro elemento que me incomodou foi a S.H.I.E.L.D. Emocionante ver o porta-aviões aéreo, nosso querido Samurai L Jackson tendo mais espaço pra ser mothafucka, hilário o agente Coulson se revelando um nerdão vergonha alheia, até Maria Hill em sua micro participação consegue ser legal. Mas a agência parece conseguir informações precisas das coisas muito rápida e facilmente, como que por mágica. Tudo bem que é uma central de Inteligência, mas esse é outro aspecto de um roteiro apressado. Mais uma vez, nada que comprometa a diversão.

    E esse é ponto principal, o filme é insanamente divertido. Ação desenfreada com toques de humor, a marca do Marvel Studios, agora numa escala maior. Pois Os Vingadores só pode ser classificado como um novo nível no cinema do gênero. Antes ficávamos feliz com qualquer adaptação, em seguida vimos que era possível ter bons filmes, e agora está provado que dá pra juntar um bando de heróis sem ficar galhofa. Se for algo bem planejado e executado, lógico. Então, Warner, já passou da hora de se coçar. Um mega filmaço com a Liga da Justiça é sim possível, e é o que todos enxergam e esperam pro futuro. Mas por enquanto, serei babaca ao encerrar o texto com um #ChupaDC.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | Necropólis: A Fronteira das Almas – Douglas MCT

    Resenha | Necropólis: A Fronteira das Almas – Douglas MCT

    Necropólis-A-Fronteira-das-Almas-Douglas-MCT

    Um livro se compra pela capa? No caso de Necrópolis: A Fronteira das Almas, de Douglas MCT, Ed. Draco, 2010, bom, eu comprei por culpa da arte competente de Victor Negreiro.

    Vamos a curta premissa do livro: Verne Vípero (homenagem ao Julio Verne?) é um rapaz cético que perde seu irmão Victor de causa misteriosa, e depois de descobrir que tem chances de salvá-lo do abismo da inexistência, ruma ao submundo de Necrópolis.

    Com essa interessante premissa que remete ao mito grego de Orfeu aliada a arte da capa, confesso que depositei uma certa expectativa no livro. Entre a compra e a leitura foram cinco meses, o que aumentou bastante minha curiosidade em explorar o livro.

    Quando comecei a ler, vi a forma como Douglas conseguiu demonstrar como domina a narrativa, os maneirismos do autor, a construção da trama, dos personagens e a forma como eles se relacionam, vi que tinha exagerado na expectativa.

    A trama é interessante, a caracterização em um primeiro momento dos personagens idem, mas quando segue a leitura, principalmente em Necrópolis, o leitor se vê em um excesso de referências: mitologia grega (a mais interessante), cultura rpgistíca (grupo que parte para uma aventura), vampiros, lobisomens, duendes, magos, dragões e outras criaturas.

    Outro incômodo são os maneirismos do autor: Douglas MCT trata o leitor como leigo, explicando algumas situações óbvias ou até aquelas mais complexas que se tornariam mais interessantes sem este recurso; adianta certos perigos desnecessariamente, cortando o clima que acabava de ter criado e diminuindo o possível impacto que teriam mais adiante; o estilo de escrita contraditório (que não sei se foi proposital) incomoda bastante, como por ex: Verne revela o que descobriu em um livro mágico quando o avisam que aquilo é pessoal, e em outros trechos diversos pelo livro: “Somente as famílias que tiveram a perda de suas crianças naquela semana não compareceram ao velório de Victor. Ainda assim, podia-se ver um Aziani e um Torino dentre os presentes”.

    O leitor pode se chatear também devido a algumas situações mal desenvolvidas:
    em Necrópolis, Verne recebe ajudas diversas simplesmente porque o acham simpático ou que se solidarizaram com a sua busca, tudo de forma muito brusca; o ladrão Simas tem um problema interessante com a bebida o que infelizmente é pouco explorado, ele é assim e pronto; Verne é cético, mas quando está em Necrópolis as vezes acredita no fantástico a sua frente, as vezes não; na maioria dos casos os diálogos também são mal desenvolvidos e não soam verídicos, além de falhar em demonstrar as emoções dos personagens.
    Por último, a narrativa é rápida demais, não conseguindo desenvolver os personagens e as situações como deveria.

    Por outro lado, se ganha muito interesse em explorar o psicológico do protagonista. Como disse Leonel Caldela no prefácio do livro, Verne sai em busca de Victor em Necrópolis e encontra a si mesmo, o que é surpreendente, já que sua cidade natal se chama “Paradizo”. Na terra, Verne possui um amigo imaginário, necessário a qualquer criança com imaginação, o que o torna mais humano e que o fez um protagonista fascinante. O caminho do seu auto-descobrimento e ceticismo constante em um mundo fantástico não deixam a desejar, apesar de incomodarem em certas partes.

    Os personagens em Necrópolis são bem definidos e carismáticos: a bela mercenária, o ladrão amigo, o conde misterioso, enfim, personagens que cativam quando se lê. O desfecho do livro também é surpreendente, me instigando a esperar por uma continuação.

    No entanto, discordando de Leonel Caldela, achei a primeira parte do livro, que se passa na cidade italiana de Paradizo mais surpreendente do que Necrópolis. É aqui na terra onde se localiza o conflito mais interessante de todo o livro: a morte misteriosa de crianças (entre elas o irmão do protagonista) e como Verne e a comunidade lidaram com isso, além dos dois personagens mais cativantes: Elói, que vive junto aos ciganos, mas tem um passado oculto, e Carmecita Rosa dos Ventos, a vidente de Paradizo.

    Pontos para a Editora Draco pelo ótimo trabalho de produção da obra, e a aposta em publicar um tipo de fantasia diferente, como é esta dark fantasy de Douglas MCT, mostrando variedade positiva em seu catálogo.

    Vale a leitura? Sim, pois é um dos poucos livros brasileiros de dark fantasy que tenho conhecimento dando personalidade a obra, e, apesar dos problemas, a leitura agrada e possibilita a exploração tanto do submundo fascinante de Necrópolis quanto do protagonista Verne Vípero.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Review | F.E.A.R.

    Review | F.E.A.R.

    Pode até ser uma coincidência, já que o nome do jogo significa: First Encounter Assault Recon, mas o fato é que o jogo faz jus ao nome pronunciado. Por que se você se assusta com Doom 3, Resident Evil 5 ou Half-life, você verá que F.E.A.R. realmente dá medo.

    Essa mistura de terror com ação em primeira pessoa, não foi uma ideia original, mas talvez a que mais deu certo. Uma vez que o jogo nos deixa entretidos com o combate, tiroteio e tal, também nos deixa com medo, por repentinos fantasmas e sombras que aparecem no decorrer da história.

    Se você espera um jogo com enredo extenso, diálogos e videos, irá se decepcionar. O Jogo é mais focado na ação do que na história. O que é ruim para os players que buscam a origem de tudo aquilo, o porquê de você ser membro de um grupo que é especializado em paranormalidades… entre outros detalhes.

    Sua primeira missão como agente F.E.A.R., é encontrar e eliminar o soldado modificado geneticamente pela corporação tecnológica Armacham, Paxton Fettel.

    A jogabilidade é o que mais chama atenção em F.E.A.R. Modos de combate como o bullet time, são o ideal para aqueles que ainda não estão acostumados com a sensibilidade de armas em FPS. Outro ponto positivo, é o combate corpo a corpo, enquanto a maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa, limita o jogador apenas a um golpe com a arma, F.E.A.R. foi mais além e o jogador pode dar rasteiras e chutes.

    O que tornou o jogo menos real, foi esse modo “cooperativo” com o seu time. Em muitos jogos, quando atiramos em alguém do próprio time, mesmo que acidentalmente, a equipe toda começa a disparar pra cima do jogador. Isso não acontecer em F.E.A.R. Se você atira em algum aliado, nada vai acontecer. E pra quem curte detalhes, isso é realmente muito importante.

    Se na jogabilidade do game não encontramos pontos negativos, nos gráficos encontramos alguns, pontos que não são prejudiciais ao enredo, mas que poderiam ajudar a tornar o jogo um pouco mais realista. Um exemplo disso são as lâmpadas dos ambientes. Você pode atirar nelas que nada acontece, algumas ficam até piscando por algum tempo, mas depois voltam ao normal e intactas. Se você atirar em uma janela, de um local onde você não pode executar alguma ação, simplesmente nada acontece, além de coisas como  ao atirar em um personagem morto, ele apenas vai se esvair em sangue, porém, não tem perfurações dos projéteis.

    Mas é claro que também houve pontos positivos e isso foi importante. O fato de você poder matar os inimigos, arrancar cabeças e jogá-las longe, por exemplo. O fato é que, tendo pontos negativos e positivos, o jogo se tornou um dos preferidos para os players que gostam de tiro em primeira pessoa. Talvez seja por que é um jogo que realmente causa medo, ou até mesmo pelo magnífico modo FPS que F.E.A.R. proporciona.

    Seja pelo sentimento de medo ou pela ação/enredo, por que mesmo sendo lançado em 2005, F.E.A.R. é um dos melhores jogos da atualidade.

    Texto de autoria de Jean Dangelo.

  • Review | Merlin

    Review | Merlin

    merlin poster

    A historia começa com Merlin (Colin Morgan) chegando a Camelot, ainda jovem, para aprender mais sobre como usar magia com um curandeiro médico Gaius (Richard Wilson). Logo na chegada, Merlin descobre que seu futuro como bruxo não será fácil em Camelot, o Rei Uther Pendragon (Anthony Head), declarou sentença de morte a todos os que usarem magia próximo a Camelot.

    Arthur, o príncipe bastardo herdeiro, treina para ser um grande guerreiro e um Rei melhor que seu pai foi. Encontra em Merlin um servo fiel e um Herói em secreto, mas não apenas isso, também um grande amigo. Gaius, amigo, tutor e professor de Merlin, deu a ele o seu livro de magias, artefato raro e que deve ser escondido de todos para não ter problemas. Morgana (Katie McGrath) ainda não tem conhecimento de suas habilidades e acredita que suas premonições sejam apenas pesadelos.

    A adaptação da história ficou um pouco distorcida do que realmente é, mas é normal este tipo de situação quando se adapta grandes livros, mitos, obras e contos para telinha ou a telona.

    Merlin, foi o maior bruxo de todos os tempos, e vemos parte de sua história quando jovem até ele se tornar este poderoso mago e por tudo o que ele passou até ganhar a confiança de Arthur e de todo o reino. A Távola Redonda, Excalibur, Lancelot, são ainda alguns dos poucos fatos que prometem que teremos mais do que apenas 3 temporadas.

    Falando em Lancelot, ele dá as caras na série. Salva Merlin de uma criatura mágica e tenta conquistar não só a confiança de todos, mas a confiança em si próprio. Lancelot foi interpretado por Santiago Cabrera, alguém lembra? Mister Isaac Mendez, o pintor chapadão que via o futuro em Heroes!

    Merlin estreou na BBC em 2008 e já esta caminhando para sua terceira temporada. Atualmente, no Brasil, pode ser encontrado apenas em DVDs pois nenhuma rede de televisão comprou os direitos da série.

    Gosta de historias épicas? Assista Merlin, apenas 13 episódios que garantem diversão e entretenimento.

    Texto de autoria de Henrique Romera.

  • Crítica | Jogos Vorazes

    Crítica | Jogos Vorazes

    “Quem não tem criatividade para criar tem que ter coragem para copiar”. Muitas obras seguem à risca esse pensamento e podemos notar isso muito bem nos últimos anos, já que a maioria dos grandes sucessos na literatura e no cinema não passam de re-contextualizações de temas e histórias clássicas. Jogos Vorazes, adaptação de uma série de livros de mesmo nome, está aí como mais novo representante desse fenômeno e o faz muito mal.

    Em um mundo pós-apocalíptico, o governo da Capital realiza anualmente um doentio reality show em que 24 jovens devem se enfrentar até sobrar apenas um vivo. A história se foca em Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), uma garota do Distrito 12, que se voluntaria a participar do programa substituindo sua irmã mais nova, que havia sido escolhida no sorteio.

    Battle Royale (2000), filme do diretor Kinji Fukasaku baseado na obra homônima de Koushun Takami, não sai da minha cabeça em nenhum momento do filme. Muitos podem achar tendenciosa essa análise, mas todos os elementos principais daquela história estão presentes no filme de Gary Ross: governo obrigando jovens a matarem uns aos outros simplesmente para reafirmarem sua soberania frente à população, basicamente. Porém o problema não é a re-utilização da ideia, mas a falha em sua execução.

    Imagino que em um cenário em que cidadãos ordinários são colocados para matarem uns aos outros em um reality show (considerando que eles não tem escolha se querem ou não fazer aquilo), o que mais deveria ser explorado seriam os conflitos internos e os pensamentos obscuros que circunscreveriam os “participantes”. Aquelas pessoas não são homicidas. Apenas foram obrigadas a estarem ali. Em Jogos Vorazes essas dúvidas e hesitações não existem e, por isso, podemos ver jovens entre 12  e 18 anos matando umas as outras como se tivessem sido criadas para isso. O fato de ser uma ficção científica não exime dessa responsabilidade, já que notamos que a população no geral está descontente com esses jogos. Vale dizer inclusive que o filme sequer poderia ser considerado uma “ficção científica”, pois as aparentes tecnologias futuras não fazem diferença alguma na trama (no máximo aparece uma nave voando, que também não faz nada).

    Os personagens são vazios e não evoluem conforme os fatos vão se desenvolvendo. A protagonista interpretada por Lawrence – a qual é uma atriz muito boa, porém seu papel no filme não valoriza sua atuação – sequer consegue convencer de que as mudanças abruptas que estão ocorrendo em sua vida a estão realmente afetando. Os personagens são completamente desprovidos de sentimentos e tirando por dois momentos de “emoção forçada”, o filme não convence. Inclusive temos uma tentativa de um romance,  contracenado com o ator Josh Hutcherson (que interpreta Peeta Mellark), o qual simplesmente se demonstra ambíguo, fazendo com que não conseguimos saber até que ponto existe sinceridade na personalidade de ambos personagens. As atuações de Lenny Kravitz (sim, pra mim foi uma surpresa vê-lo no filme também), Stanley Tucci e Elizabeth Banks apenas se resumem aos seus visuais “futurísticos” que se aproximam do bizarro, muito provavelmente inspirados pela cantora Lady Gaga.

    Outro fato que incomoda muito é a ausência de violência em um filme cujo pressuposto inicial são “pessoas se matando em um reality show”. O diretor Gary Ross optou por escolher todas as opções erradas, inclusive na hora das cenas de ação, as quais ao invés de serem minimamente interessantes acabam se tornando confusas e sem nexo, pois a única coisa que vemos são borrões de movimentos causados por uma câmera bagunçada, que não tem coragem de mostrar a violência que o filme, em tese, se propõe.

    Tal como Crepúsculo se aproveitou das lendas dos vampiros e lobisomens para fazer uma contextualização mais “atual”e voltada para um público mais jovem, Jogos Vorazes faz a mesma coisa com Battle Royale (entre outras referencias) e perpetua um filme ruim, que não se sustenta e não cumpre sua proposta.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    Você também pode conferir a minha análise do filme, com um ar um pouco mais descontraído (e ainda sob fase de melhorias), em formato de vlog no primeiro episódio de FASTBURGER. Confiram logo abaixo:

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Resenha | The Acts of King Arthur and His Noble Knight – John Steinbeck

    Resenha | The Acts of King Arthur and His Noble Knight – John Steinbeck

    the_acts_of_king_arthur_and_his_noble_knights

    A obra de Thomas Malory, Le Morte D’Arthur foi uma das histórias que mais intensamente seqüestraram a imaginação e a admiração de John Steinbeck. Deve ter sido como com o Stephen King, que se surpreendeu tanto com o filme Três Homens em Conflito, de Sergio Leone, que não tirou mais da cabeça até não estar com os sete gigantescos volumes d’A Torre Negra prontos. No caso de Steinbeck, mais do que criar histórias inspiradas na de Malory (coisa que ele fez, basta olhar os livros dele) ele decidiu que as gerações contemporâneas precisavam conhecer essa grandiosa saga, ao passo que buscou escrever uma versão mais atual da história do Rei Arthur.

    Thomas Malory escreveu suas histórias no século XV, época em que o inglês tinha outras características, outro modo de ser dito e escrito, o que, acreditava Steinbeck, tornava o livro menos acessível aos jovens de seu tempo, não mais acostumados às características pitorescas do inglês arcaico. Sua missão, portanto, era traduzir aquela linguagem para outra, menos rebuscada e mais próxima ao inglês atual, e preservar o coração das histórias, suas lições, seus sentimentos, suas reflexões, enfim, seu espírito.

    Era uma tarefa difícil. Já na década de 50 Steinbeck acalentava esse sonho. Estudou profundamente Malory e escarafunchou todas as referências que pode sobre as Lendas Arturianas. Lia estudos, procurava por documentos da época, buscava manuscritos originais em terras inglesas, visitava os locais por onde os Cavaleiros da Távola Redonda tinham cavalgado e assim por diante. A empreitada lhe consumia muito tempo e esforço, mas ele parecia estar encontrando uma grande satisfação ao fazê-lo.

    O resultado – ao qual temos acesso por conta da decisão de sua família – não foi publicado senão postumamente. Steinbeck, em suas correspondências, dizia que tinha perdido o fio da meada, não sabia mais aonde estava indo exatamente com aquela história. Apesar disso, terminou o livro e tinha o título já em mente: The Acts of King Arthur and His Noble Knights (Os Feitos de Rei Arthur e seus Nobres Cavaleiros).

    O livro é bem menor que o de Malory, que, conforme a edição, chega a ter mil páginas. A linguagem de fato ficou mais acessível, sem os típicos rebuscos que Malory usou abundantemente em sua obra. Não que o texto de Malory seja ilegível, mas existem certas palavras que caíram em desuso, conjugações verbais não mais utilizadas e expressões que hoje em dia não fazem mais sentido.

    As histórias de Arthur, as intrigas de sua corte, as jornadas empreendidas por seus fiéis cavaleiros, as tramas, as mágicas, as traições, as maldições, Morgana, Lancelot, Merlin e Excalibur, estão todos lá. As histórias tem a costumeira espirituosidade de Steinbeck e focam sobre uma questão que, creio eu, fazia muito sentido para o autor: a honra, o compromisso pessoal que unia estreitamente todos esses sujeitos. A cavalaria medieval em sua forma clássica, digamos assim, cultivava esses valores com afinco, coisa que a literatura e a tradição oral trataram de exaltar e romancear através dos séculos.

    Colocar-se à sombra de Malory não é qualquer coisa, é uma tarefa hercúlea e potencialmente ingrata. Steinbeck nesse sentido manteve a humildade e não deixou sua imaginação distanciar-se dos marcos já abertos por Malory. Na ânsia de preservar os elementos que compunham o original sem se alongar demais, Steinbeck acabou colocando nomes demais em histórias de menos. A obra de Malory possui muitíssimos personagens e nomes (Tolkien certamente se inspirou nisso ao criar a Terra-Média e sua história), mas possui um escopo maior de trabalho, já que possui quase mil páginas em relação às pouco mais de trezentas que possui o livro de Steinbeck.

    Isso, no entanto, está longe de fazer o livro menos atrativo. Por mais que saibamos que adaptações impõem limitações, elas também nos reservam boas surpresas, como no retrato de Lancelot, um dos personagens preferidos de Steinbeck. Ele ganha um aspecto mais caricato e, por mais que preserve a seriedade cavalheiresca, ganha em carisma. Mesmo a Morgana ganha um toque especial através das descrições sinistras de seus feitiços e intentos.

    A edição que li é da Penguin Classics e traz quase cem páginas de cartas como Apêndice ao final do livro. Elas foram escolhidas por Chase Horton (um dos correspondentes de Steinbeck, ao lado de Elizabeth Otis) e ilustram as preocupações que norteavam o autor ao traduzir Malory para nossos tempos.

    Se Steinbeck conseguiu realmente difundir as Lendas Arturianas da forma como pretendia, não temos como saber com certeza, mas que existe galhardia e algo de cavalheiresco nessa empreitada, isso podemos afirmar sem dúvida.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.

  • Crítica | Shame

    Crítica | Shame

    O mundo de Brandon Sullivan (Michael Fassbender, espetacular) é vazio. Sem cores e esmaecido. Ele acorda, pega o metrô, trabalha, volta para casa e vai a bares à noite. Cada uma dessas ações, entretanto, é pontuada inteiramente por um fator: sexo. O personagem – protagonista de Shame, novo filme do cineasta Steve McQueen – possui um distúrbio que os psicanalistas atualmente classificam como hipersexualidade ou transtorno hipersexual.

    Por conta disso, Brandon é um sujeito, já a beira dos 40 anos, que se entope com pornografia, sexo virtual, relações com prostitutas e casos de apenas uma noite. Partindo de uma análise superficial, poderíamos questionar qual o problema em se gostar tanto de sexo.

    E Esse é um dos pontos fundamentais abordados pelo filme.

    Brandon não gosta de sexo. É obsecado por ele.

    Torna-se tão cego por isso que não consegue perceber que o mundo ao seu redor simplesmente não existe. Trabalha de forma burocrática, é incapaz de se relacionar ou se apaixonar por qualquer pessoa ou coisa. Brandon, na verdade, está doente.

    Ao longo do filme, é possível notar vários sinais do quão isolado e imerso em seu vício ele se tornou. O computador que usa no trabalho está repleto de pornografia – o que lhe rende uma advertência de seu chefe. Costuma se masturbar no próprio banheiro do local onde trabalha e também em casa. Passa boa parte do dia tendo encontros com prostitutas e se masturbando diante de bate-papos na internet. Isso sem falar na quantidade colossal de revistas pornô que guarda nos armários de casa.

    Antes de tudo, nada de puritanismos. Qualquer uma das atividades descritas acima é perfeitamente aceitável e normal. O problema é quando as mesmas se tornam uma obsessão e único ponto focal de uma vida inteira.

    E é justamente o que acontece com Brandon, que parece estar alheio – ou mesmo se está consciente parece não se importar – com os problemas que isso lhe causa. No entanto, dois fatos primordiais farão com que ele abra os olhos para essa realidade.

    O primeiro é a chegada de sua irmã, Sissy (Carrey Mulligan, ótima), que passará a morar com ele. Mesmo perdida e emocionalmente instável, ela consegue ter uma maior ligação com se lado emocional. E tenta transferir essa conexão para o irmão, que a rejeita de forma agressiva. Ao negar Sissy, Brando na verdade nega suas emoções. A barreira emocional criada por ele por meio da devoção ao seu vício em sexo não permite qualquer tipo de sentimento.

    Num dado momento, ele assiste a irmã – que é cantora – se apresentar num bar sofisticado em Manhattan. Ela canta uma versão lenta e melancólica de “New Yor, New York”. As aspirações da letra, as figuras evocadas por seus versos e a interpretação emocional fazem com que uma lágrima caia de seu rosto. Raro momento de concessão às emoções.

    Posteriormente, quando a própria irmã cede a uma relação de uma noite com uma pessoa próxima ao irmão, percebemos a tensão sexual que existe entre Brandon e Sissy.

    O outro fator fundamental da trama está no quase relacionamento que ele mantém com a colega de trabalho Marianne (Nicole Beharie, em boa interpretação). A aproximação dela será o grande ponto de inflexão do filme.

    Durante uma cena num restaurante – que até provoca alguns risos involuntários – vemos que Brandon é absolutamente avesso a uma relação mais séria. Justamente o contrário do que Marianne deseja.

    Surge um impasse.

    Mesmo assim, ambos sentem-se atraídos um pelo outro. Fatalmente partem para consumar o ato. E é justamente o que acontece nesse trecho que vai jogar a trama numa direção mais aguda. O predador sexual – diante de uma mulher que demonstra ter a capacidade de expressar sentimentos verdadeiros por ele – falha em seu próprio campo de batalha.

    O que se segue é uma sessão de catarse do protagonista em busca de liberação sexual sem limites. Isso o leva a ser espancado por um namorado ofendido, passar parte da madrugada numa boate gay e terminar a madrugada num ménage com desconhecidas. Tudo isso quase ao preço da perda de uma pessoa especial.

    O final do personagem é aberto. Ele terá aprendido sua lição? Não saberemos. Para ilustrar essa incerteza, o diretor usa no fim uma situação explorada logo no início do filme, no metrô.

    Steve McQueen é primoroso ao retratar o estado de vazio emocional e existencial experimentado pelo personagem. Sua casa, seu trabalho. Todos os ambientes, enfim, são retratados com uma fotografia fria e inóspita. Não há espaço para emoções no mundo de Brandon.

    Nas cenas de casa, há uma predominância de tons brancos e cinzas. O trabalho e os bares frequentados pelo personagem são dominados por tonalidades de cinza e também por sombras. O único momento no qual outra cor – o amarelo quente – prevalece é justamente durante o ménage, quando o protagonista está em seu auge, colocando suas frustrações para fora.

    Quanto ao tempo, o roteiro é direto. Não há idas e vindas na história.

    As tomadas são longas. O diretor se demora em várias delas, registrando com cuidado as expressões faciais e corporais dos atores. Há uma exploração consciente da horizontalidade da tela.

    Aliás, para retratar o distúrbio psicológico do protagonista, em vários momentos McQueen coloca a figura de Fassbender exatamente no canto da tela, o que transmite uma sensação de falta de adequação e isolamento em relação ao mundo que o cerca.

    Num dado momento de uma das viagens do metrô, entretanto, é possível ver que o diretor se mostra otimista com relação ao futuro de Brandon e também com um possível controle de sua compulsão.

    Atrás dele, numa das paredes do trem, há uma quadro com a frase “Improving. Don’t stop”. Traduzindo: “Melhorando. Não pare”. Será?

    Jamais saberemos.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

    Ouça nosso podcast sobre Steve McQueen.

  • Resenha | Kafka à Beira-Mar – Haruki Murakami

    Resenha | Kafka à Beira-Mar – Haruki Murakami

    Não foram poucas as opiniões favoráveis que ouvi sobre Haruki Murakami, e, tendo em vista que ele é um dos nomes mais conhecidos da literatura contemporânea, resolvi encarar um livro dele. Por que não começar com um que leva no título outro nome de peso?

    Foi assim que cheguei a Kafka à Beira Mar.

    É difícil situar o autor dentro de uma “tradição” mais ampla, visto que não conheço praticamente nada sobre literatura nipônica, mas o que é possível perceber é que existe um diálogo bastante interessante dele com outros elementos da cultura japonesa que gozam de bastante difusão no ocidente, digamos assim, como, por exemplo, os animes, o ritmo frenético de Tóquio, algumas lendas e mitologias, a alta-tecnologia etc. Existem determinados momentos do livro em que você nitidamente enxerga ambientes, lugares e até mesmo personagens de animes que você já assistiu ou histórias que já ouviu sobre o Japão, visto que essa é, em grande parte, a “imagem”  relativamente disseminada do oriente.

    O livro é contado sob duas perspectivas: a do jovem Kafka Tamura e a do velho Satoru Nakata. O primeiro é um jovem que resolveu sair de casa por conta do relacionamento atribulado que mantinha com o pai, e, de alguma forma, buscando sua mãe e irmã, que ele desconhece. O segundo, é um velho com problemas de retardamento que conversa com gatos e tem estranhos hábitos e concepções acerca da realidade cuja busca não está clara até o momento em que ele a veja, ou seja, ele não tem um norte definido.

    Murakami consegue criar personagens carismáticos, de modo que a alternância de histórias sendo contadas (os capítulos vão alternando as histórias de um e outro) deixe a narrativa sempre com alguma coisa acontecendo, uma tensão ou aventura por ser deslindada. Em um capítulo você está andando sem rumo com o jovem Kafka Tamura e sua rotina austera de exercícios, autocontrole e racionamento de recursos, e no outro está às voltas com o velho Nakata e suas extravagâncias um tanto non-sense (aliás, o diálogo dele com os gatos é uma das melhores partes do livro).

    O non-sense, aliás, permeia todo o Kafka à Beira Mar. Se várias situações podem ser localizadas e amarradas dentro de uma lógica, diversas outras ficam esperando seu lugar nessa cadeia, sem que, contudo, ganhem relação mais clara ou direta com o corpo da obra. As duas tramas parecem querer se entrelaçar ou se tocar a todo o instante, mas, no final das contas, encontrar analogia entre as situações fica mais por conta do leitor mesmo.

    Algo que deve ser ressaltado (e que eu espero que seja recorrente nos outros livros de Murakami) são os comentários que ele vai fazendo ao longo da obra a respeito de arte, música, literatura, cinema etc. São formas de despertar a curiosidade para quem não conhece e proporcionar o contato com opiniões do autor para quem já conhece o que ele analisa. Assim, em Kafka à Beira Mar, temos opiniões sobre Na Colônia Penal, The Archiduque Trio, The 400 Blows, literatura japonesa e assim por diante.

    Apesar do contato das duas tramas não ser tão longo ou tão direto, ambas se relacionam com jornadas pessoais, e versam sobre a necessidade de deixar “zonas de conforto” (para usar essa expressão tão disseminada) e fazer algo fora do comum, fugir dos padrões, apelar para o imprevisível e deixar um pouco de lado a sisudez e a frieza do mundo “confortável, porém tediosamente padronizado”. É assim, por exemplo, que Hoshino, um caminhoneiro que deixa de lado sua vida para seguir Nakata em sua busca amalucada, percebe um novo sentido para sua existência, concebe novos objetivos e se sente mais vivo e feliz do que quando somente dirigia seu caminhão e obedecia a rotinas e procedimentos repetitivos e previsíveis.

    Murakami usa ainda de porções de fantasia para dar expressão a essa ânsia por algo além do ordinário. Parece haver algo sobrenatural borbulhando por baixo da realidade natural, algo fantasioso, meio místico, com raízes mitológicas antigas, épicas, esperando por serem desenredadas por aqueles que ousarem deixar o comum e embarcar no incomum. Como o Wilson disse lá no fórum, Murakami está interessado na criação de mitos modernos, ou ao menos ambientados no mundo contemporâneo. Isso pode ser percebido tanto nas passagens dignas de realismo mágico (ou ‘absurdo mágico’, como o Tiago e o Luciano sugeriram) quanto nas “entidades” que vagam pela história, como Johnnie Walker em pessoa (sim, o da bebida mesmo) e o Colonel Sanders, o velho bigodudo da rede de fast foods, por exemplo.

    Parece haver um quê de “mágico”, de incomum ou de transcendental no que nos cerca, Murakami quis tornar isso mais visível do que estamos acostumados a enxergar.

    Texto de autoria de Lucas Deschain.

  • Crítica | John Carter: Entre Dois Mundos

    Crítica | John Carter: Entre Dois Mundos

    Mostrando que o cinema de ficção científica está cada vez mais em alta, John Carter: Entre Dois Mundo, baseado no clássico romance A Princesa de Marte de Edgar Rice Burroughs, finalmente chega aos cinemas, porém infelizmente com a impressão de que chegou tarde demais.

    Somos apresentados a John Carter, um capitão veterano da Guerra de Secessão nos EUA, que tenta fugir a qualquer custo de continuar servindo em mais guerras e conflitos. Carter acaba sendo teletransportado inexplicavelmente para Marte e é a partir daí que a trama se desenvolve. Em um planeta em que sua estrutura óssea e gravidade o permitem pular mais alto do que o normal e ter força sobre-humana, acaba atiçando a curiosidade da raça dos Thark, uma das raças habitantes de Barsoon. Ainda que contra a sua vontade ao primeiro momento, Carter se vê envolvido em um conflito épico entre duas facções do planeta e acaba tendo que redescobrir a sua humanidade e os valores que quer defender para salvar a vida da Princesa Dejah Thoris e de toda uma população.

    Ao contrário do que muita gente desavisada pode achar, John Carter foi um personagem criado em 1912 e serviu de inspiração para uma série de histórias, dentre elas incluindo Star Wars e Avatar. Porém o fato de estar saindo nos cinemas pela primeira vez depois de tanto tempo dá uma impressão errada quanto a quem foi realmente o precursor no estilo.

    Trata-se de uma clássica história da jornada de um herói com todos os seus elementos clássicos presentes: a luta de um homem contra os fantasmas de seu passado, a princesa que foi prometida em casamento para o vilão com o intuito de terminar a guerra, um plano malévolo de dominação mundial e a superação do personagem lutando por uma causa, buscando sua redenção.

    O filme foi dirigido por Andrew Stanton – conhecido pelos seus trabalhos em grandes animações como Vida de Inseto, Procurando Nemo e WALL-E– que trabalhando juntamente dos roteiristas Mark Andrews e Michael Chabon não conseguiram convencer a história nas telas, tornando-o superficial e sem plots emocionantes.

    O destaque do filme fica por conta dos efeitos especiais, os quais foram abusados sem dó e nem piedade, e que são levados aos extremos. Em muitos momentos se tornam enfadonhos acabando por somar negativamente em uma história mal conduzida.

    Por outro lado, a concepção visual da raça dos Thark, por exemplo, teve um resultado excelente. Estes personagens são carismáticos e tornam o longa metragem no mínimo interessante, ao contrário dos atores de verdade, Taylor Kitsch e Lynn Collins, que esbanjam simplicidade em suas atuações, tornando os momentos em que contracenam juntos (mais de 60% do filme) extremamente desgastantes.

    O recurso 3D utilizado no filme não é excepcional, mas compõe bem os quadros utilizados. Serve apenas pra criar satisfatoriamente o efeito de profundidade nas cenas, principalmente naquelas que aparecem grandes cidades e paisagens.

    Uma obra que se torna fraca pelo mérito da forma como foi produzida, não da história original em si. De fato cumpre o seu papel em se tornar um grande blockbuster e diverte tanto quanto assistir filmes de aventura clássicos. Acho que é o suficiente para fazer alguém ir vê-lo nos cinemas.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • Resenha | Zona Morta – Stephen King

    Resenha | Zona Morta – Stephen King

    Johnny Smith,  jovem professor do Maine, (esse deve ser um lugar medonho já que tudo de ruim acontece por lá, que o digam , Stephen King e H. P. Lovecraft ) sofre um acidente de carro e fica anos em coma profundo. Ao acordar, é submetido a exames, rotina comum em casos de pessoas que acordam após um longo período nesta condição,  e  através destes, descobre que tem lesões cerebrais, também chamadas de zonas mortas, nas quais certas memórias e conhecimentos se perderam.  Junto das Zonas Mortas, ele descobre um poder de vidência relacionado ao toque.

    Lançado em 1979, Zona Morta é um livro de terror que conta o desenrolar desta estória através de suas páginas.  Johnny é um personagem, para quem, inicialmente, você não dá nada. (mesmo após ele descobrir seus poderes). Calmo, sorridente e tudo mais, é muito simplório, mas é esse lado comum que faz com que você se identifique (exceto pelas partes extremamente American Way of Life) e até goste um pouco dele.

    O livro não começa na fatídica noite do acidente, na verdade ele nos leva pela infância de nosso protagonista.

    A narrativa começa com Johnny simplesmente se divertindo, como qualquer criança americana de 6 anos, no meio da neve (e sem aula), até que sofre um acidente (é atropelado por um adolescente desengonçado com seu carro desgovernado).  Ele desmaia e alguém vai acudi-lo, ao acordar ele fala algo em tom gutural, “não ligue mais”. Palavras esquecidas, até que quem o estava segurando na hora tem um problema com a bateria do carro e ao ligá-la em outra, explode.

    Em alguns pontos, o autor não segue somente a vida de Johnny Smith, ele nos apresenta à vida de Greg Stillson. Stephen King constrói a visão do protagonista e de seu antagonista mostrando a evolução destes, com enfoque privilegiado no antagonista.

    Greg Stillson, em um primeiro momento, com 22 anos e vendedor de bíblias (se fosse brasileiro, estaria vendendo a Barsa), um homem corpulento que em sua primeira cena já começa a ser trabalhado como “o cara mal” ao matar o cão de guarda de uma fazenda para a qual ia vender suas bíblias. Após matar o canino, foge da cena pensando em grandeza.  É assim que se encerra o prólogo, mostrando o inicio do “poder” do protagonista e o mal do antagonista.

    O livro realmente começa a nos envolver com “A Roda da Fortuna” em que mostra o que a maioria dos médiuns deveria fazer, Johnny vai a uma dessas feiras com sua namorada Sarah Bracknell, aposta usando seu poder e vai ganhando bastante dinheiro neste jogo, porém o jogo acontece na mesma noite do acidente que o deixa em coma.

    Zona Morta, é uma história sensacional de um cara comum se tornando um médium acidentalmente e a repercussão deste fato  na mídia e em tudo mais a sua volta. O autor nos leva através desta saga, e além disso, coloca um conflito, que só surge ao final, entre Johnny e Stillson. Uma das coisas que eu gosto em livros é a curva de evolução, e este cumpre bem isso. Stephen King  apresenta gradativamente o que deve, te dá várias pontas e quando você já sabe de tudo ele te dá um clímax e amarra todo o enredo. Os personagens também são sensacionais e extremamente bem construídos, com uma constante evolução e mudança de motivações.

    Dead Zone é um livro tão bom que conseguiu fugir a uma das maldições de Stephen King, adaptações ruins de cinema (que o diga Christine – o carro assassino), o livro foi adaptado virando “Na Hora da Zona Morta”, sucesso em crítica e é dito como uma das melhores adaptações do King (acho que deve perder de A Espera de um Milagre).

    Não contente com um livro e um filme de sucesso, Dead Zone virou uma serie recente de TV, que no Brasil veio como “O Vidente” (mais um grande sucesso das traduções/adaptações brasileiras de nomes).  Porém, a serie não foi assim tão bem recepcionada, tendo uma vida curta de 6 temporadas, de 2002 a 2007, quando foi cancelada sem um final conclusivo.

    Considerações finais são que esta obra não só vale extremamente a pena como é um dos meus prediletos. O nome Stephen King, por si só, já é um peso a se considerar. E se você ainda não leu nada de SK , comece por Zona Morta, não haverá arrependimento. Texto bem trabalhado, personagens carismáticos e história empolgante.

    Texto de autoria de André Kirano.

  • Crítica | Submarine

    Crítica | Submarine

    Baseado na obra homônima de Joe Dunthorne e dirigido por Richard Ayoade, Submarine é um filme arrebatador. Somos apresentados a Oliver Tate (Craig Roberts), um garoto de 15 anos que passa a ter que lidar com as adversidades da vida. O espectador é levado a acompanhar um pequeno pedaço da vida desse garoto e os seus envolventes acontecimentos.

    O filme conta a história de Oliver Tate, um garoto socialmente alienado e introvertido. Sua vida muda quando começa a ter um romance com sua colega de classe Jordana Bevan (Yasmin Paige). Oliver começa a namora-la, uma garota cuja personalidade se diferencia e muito do mesmo. Somos colocados de frente a um personagem introspectivo, que se adapta ao ambiente em que se encontra. Da mesma forma, em sua vida amorosa, se desdobra com as nuances mais incomuns da personalidade de Jordana, muitas vezes indo contra os seus desejos. Paralelamente a um Oliver explorando um novo lado da vida – o lado do amor – o personagem passa a confrontar um casamento em ruínas de seus pais e a mãe adoecida de sua namorada. Os problemas que vão aparecendo em sua vida o deixam desorientado muitas vezes não sabendo lidar com eles.

    Submarinos são dotados de sonares que os permitem captar os movimentos de dentro da água. Infelizmente na vida não possuímos sonares capazes de captar os pensamentos das pessoas. Pra compensar esse fato, Oliver tenta se tornar mais atento a todas as movimentações que seus pais e sua namorada faziam, de modo a tentar encontrar soluções para seus problemas. Somos imperfeitos e Oliver também o é. A descoberta das fragilidades do ser humano e a impotência do agir diante de diversas situações adversas da vida o fazem “afundar na água”, tal qual um submarino.

    A trama muitíssima bem produzida por todas as suas partes, seja pelo roteiro, direção e atuação nos levam a uma atmosfera intensa e cheia de sentimentos. O destaque da atuação fica a cargo do protagonista Craig Roberts, que demonstrou enorme envolvimento com um personagem de personalidade tão peculiar. A trilha sonora do filme merece um comentário a parte, pois é excelente. Alex Turner, frontman da banda Arctic Monkeys, é o responsável pela mesma, a qual não deixa a desejar em nenhum momento, nos acompanhando durante todo o filme e se mesclando perfeitamente com os sentimentos e a atmosfera do longa-metragem.

    Submarine é intenso e envolvente. Duvido que a maior parte dos que assistirem ao filme não vão se identificar com muitos dos sentimentos ou maneiras de pensar do jovem Oliver Tate. Crescer e amadurecer faz parte do processo da vida de todas as pessoas. Podemos viver debaixo da água convivendo com sentimentos que se assemelham a uma tonalidade peculiar do azul escuro do céu quando o sol se põe, porém também faz parte da vida emergir das mesmas águas e continuarmos vivendo.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Drive

    Crítica | Drive

    Que preço estamos dispostos a pagar para vivermos pautados por um código? Até onde nos é possível negar nossa própria natureza? Podemos colocar as pessoas que mais amamos em risco em troca de nossa própria felicidade?

    Ao fim de Drive, filme mais recente do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Pusher, Bronson, Guerreiro Silencioso), o motorista vivido por Ryan Gosling terá – ainda que apenas para ele mesmo – as respostas para todas essas dúvidas. Até lá, entretanto, ele terá de atravessar e, se possível, conseguir sair vivo de uma espiral de violência, frustração e desilusão.

    Logo no início, somos apresentados ao motorista vivido por Gosling. Todos à volta veem que ele ganha a vida em dois empregos: como piloto para cenas de acidentes em filmes de ação e também como mecânico. No entanto, o piloto – sim, ele em momento algum do filme será chamado pelo próprio nome e o motivo ficará claro ao longo da trama – também conduz carros em assaltos. E é justamente nesse período – na tensa cena do roubo ocorrida no começo da película – que ele estabelecerá uma série de regras a serem cumpridas por seus contratantes.

    Sabemos, portanto, que o motorista vive por meio de regras. Normas. Um código de conduta. O que, numa alusão simbólica, o aproxima por demais da figura do samurai e seu Bushidô. A associação ao “homem silencioso” criado por Clint Eastwood para a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone também é bastante adequada.

    O piloto é contido. Calmo. Fala pouco. E mesmo as raríssimas palavras que saem de sua boca são emitidas num baixíssimo volume. Ele não tem nome. Não há individualidade. O motorista é a personificação de uma maneira particular de enxergar a vida. No entanto, essa postura plácida é apenas aparente. Só uma contenção. Ao olhar nos olhos do homem, sabemos desde o início que ali dentro se encontra uma bomba-relógio prestes a explodir.

    E o gatilho desse explosivo é acionado em dois momentos.

    O primeiro é quando ele encontra e se envolve com a garçonete Irene (Carey Mulligan) e seu filho, Benicio (Kaden Leos). Os dois representam algo que ele nunca teve: redenção. A possibilidade de uma família e de laços afetivos. O distanciamento do mundo violento e arriscado no qual o motorista vive. O personagem se humaniza.

    No entanto, esse estágio chega ao fim com o retorno do marido de Irene, que até então estava na cadeia. A partir daí, uma série de fatores – todos envolvendo o dinheiro roubado inadvertidamente de mafiosos – vai acionar o segundo detonador. Quando a garçonete e o menino passam a correr risco, a explosão do motorista é inevitável e devastadora. Sua natureza, enfim, vem à tona. A justiça precisa ser feita. E terá que ser a seu modo.

    Aqui, o código de conduta do piloto predomina. Ele não quer o dinheiro. É sujo demais. Deseja apenas proteger a mulher e a criança pelos quais se apaixonou.

    Winding Refn demonstra um impressionante domínio da composição. Não há um fotograma sequer que seja menos que excelente. As belíssimas tomadas aéreas de Los Angeles (lembrando muito as produções de Michael Mann), a manipulação de luz e sombras, o contraste acentuado entre claro e escuro – aqui, méritos também para o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel.

    Tudo funciona perfeitamente, inclusive – e principalmente – a condução dos atores. Ainda há espaço para uma cena de perseguição perfeita – para ser mais específico, a que envolve um Mustang GT preto e um Chrysler.

    Há claras referências aos filmes e séries de ação da década de 1980. Reparem nos caracteres cor de rosa usados na abertura do filme e percebam como lembram as letras utilizadas em seriados como Miami Vice. Isso sem mencionar a trilha sonora – grande parte calcada em composições dominadas por teclados e sintetizadores.

    O autor também é hábil ao sugerir, por meio de uma série de metáforas, a essência do personagem principal. Isso é particularmente notado numa cena de extrema violência – sempre filmada de maneira direta e seca – dentro de um elevador. Nela, após um ato violento – motivado inteiramente por um instinto de autodefesa – o motorista permanece no interior, enquanto Irene vai para o lado de fora.

    Assustada com a carnificina que acabou de presenciar, ela se afasta. Em segundos, a porta do elevador os separa. O recado é claro: ambos vivem em mundos separados.

    A metáfora maior, no entanto, está na jaqueta usada pelo piloto. Há a imagem de um escorpião costurado às suas costas. E o diretor propositalmente realiza uma série de closes na figura do artrópode. Calmo e silencioso. Letal quando forçado a agir. Assim é o escorpião. Assim também é o motorista.

    E ainda sobre o escorpião, cabe citar outra metáfora. Esta, no entanto, está ligada a uma velha fábula que talvez já tenham ouvido falar.

    Com uma ou outra variação, a história conta mais ou menos o seguinte: certa vez, um escorpião se aproximou de uma rã (em algumas versões é uma tartaruga) e pediu que ela o levasse ao outro lado de um rio. A rã rejeitou o pedido, argumentando que certamente o escorpião a picaria. O artrópode a tranquilizou, afirmando que jamais faria aquilo, uma vez que, como estaria nas suas costas, e ambos estavam no meio de um rio, se a picasse e ela se afogasse, ele certamente também morreria. Portanto, não fazia sentido que a rã desconfiasse de que ele poderia matá-lo.

    Diante de tamanha lógica, a rã aceita a proposta, coloca o escorpião em suas costas e começa a travessia. No meio do rio, entretanto, para espanto da rã, o escorpião a pica com seu ferrão.

    “Você enlouqueceu?”, pergunta a rã. “Agora eu vou morrer e você, que está nas minhas costas e não sabe nadar, vai se afogar junto comigo”. O escorpião olha para a rã e responde calmamente: “Sinto muito. Esta é a minha natureza”.

    Ambos morrem.

    É justamente uma menção a essa fábula que o motorista usa para dar ao bandido Bernie Rose (Albert Brooks, excelente) a noção exata de sua própria natureza.

    Como as melhores obras de arte, “Drive” está aberta a interpretações. No entanto, as duas principais mensagens transmitidas pelo seu escritor – o filme é uma adaptação do romance homônimo escrito por James Sallis – são bem claras:

    – Paga-se um preço alto por viver por meio de um código.

    – As pessoas podem até fingir para si mesmas e se adaptar às situações por um tempo. Mas, no fim, a sua natureza, a sua verdadeira essência, virá à tona.

    O anti-herói interpretado por Ryan Gosling traduz perfeitamente as afirmações acima.

    No fim, este filme cumpre um papel importantíssimo: dá um belo soco no estômago de todos aqueles que argumentam que “filmes de ação não precisam de conteúdo, argumento ou um bom roteiro”. Argumento muito comum entre os fãs de produções como “Transformers”…

    Assista “Drive” pelo menos 10 vezes para entender que ação e uma história extremamente bem construída e dirigida não precisam – e nem devem – estar dissociados.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Review | Hellsing

    Review | Hellsing

    hellsing-tv-movie-posterCriado pelo Mangaká Kouta Hirano em 1997 e adaptada para anime em 2001 pela GONZO. Hellsing conta a história de uma organização paramilitar que tem como objetivo proteger a Inglaterra de forças sobrenaturais.

    A Organização fundada por Abranham Van Hellsing há mais de 100 anos, atualmente é comandada por Integra Wingates Hellsing. Entre seus subordinados estão o mordomo e ex-combatente Walter, a novata Celes Victoria e o poderoso vampiro Alucard, este descoberto por Integra, que o desperta do seu sono. Apesar de todos os três serem vampiros, eles servem a Inglaterra e a família Hellsing.

    A estória começa com a jovem policial Celes Victoria investigando alguns assaltos em uma floresta, junto com sua equipe. Seu grupo é atacado por uma espécie de vampiro e ela é a unica a sobreviver, sendo salva pelo também vampiro, Alucard. Selas é mordida pelo mesmo e a partir daí começa a trabalhar para Integra Wingates Hellsing.

    O Anime, apesar de curto, foi muito bem aceito no Brasil. Por ter cenas violentas e abordando um tema utilizado hoje em dia e de modo atual, conseguiu prender o público jovem. O diferencial de Hellsing são as mortes detalhadas, onde podemos ver sangue, tortura e massacre.

    O Enredo sanguinário chamou tanta atenção, que poucas pessoas ligaram ao estilo do traço do anime. Personagens importantes com Integra e Celas, são mal desenhadas e isso acaba incomodando um pouco, principalmente para aqueles, que apreciam os detalhes.

    Hellsing deixou muitas perguntas, que os 13 episódios e 5 ovas não conseguiram responder, e esse foi o ponto negativo do anime. Se você quer origens de personagens, explicações sobre o envolvimento da organização e do vaticano, detalhes dos vilões, esqueça, você irá perder seu tempo. Apesar do grande enredo, o anime deixou muitos furos. Deixando de lado os detalhes, para quem quer sangue, boas lutas e muito mistério, esse é o anime certo.

    Texto de autoria de Jean Dangelo.