Tiago Tambelli tenta dar um viés de maior inserção ao redor das manifestações contra o aumento da tarifa , evento que ocorreu na maioria das metrópoles brasileiras Filmado a partir das câmeras que registravam o que ocorria no entorno dos tumultos, a métrica e edição se assemelha bastante com o que foi visto no documentário Praça Tahrir, narrando os acontecimentos a partir das sensações que o jovens militantes tiveram ao viver na pele o enfrentamento com as autoridades.
A câmera flagra a expressão atônita dos policiais, algumas vezes reagindo hostis ou completamente acuados na frente das filmagens, quando não, em uma amálgama dos dois comportamentos. A luta do povo contra o povo parece comprimir o cidadão comum, o homem que vive a rotina de trabalhador explorado perseguido quando finalmente reage aos séculos de compressão que sempre sofreu.
O conteúdo registrado contém uma veracidade ímpar, reunindo pessoas comuns em torno de ideais díspares. A parcela populacional inconformada era multifacetada, formada por jovens, velhos, brancos e pretos, alguns a favor de baderna, mascarados, depredando propriedade pública para chamar a atenção a sua causa e outros tantos pacifistas. Ambos os lados eram respondidos com sprays de pimenta, borrachadas e bombas de gás de efeito moral, além de infelizes disparos a queima roupa.
A lama e o caos presente nas cenas de arrombamento remetem a momentos de guerra, diferentes das recentes manifestações falsamente pacíficas pela mídia com cenas bem distintas de fotos de policiais abraçando crianças. O que se vê pelas ruas de São Paulo é a perseguição de militares agindo violentamente contra os manifestantes, ao som do irônico hino nacional, fruto dos versos que diziam: “verás que o filho teu não foge a luta”, lamentando que não há mais aqueles que se deitam eternamente em berço esplêndido.
Tambelli não se incomoda em mostrar o espancamento que alguns militantes realizam contra os policiais, fazendo valer a resposta igualmente violenta que sofreram no começo. A truculência ocorre entre manifestantes, motivado pelos militantes que agridem os que tomam atitudes partidárias. Setores mais reacionários queimam bandeiras do PT, CUT e qualquer referência vermelha da foice e martelo. A visceralidade é parte do caráter da edição, nem um pouco complacente com os alvos biografados, exibindo fogo, sangue e revolta, nem sempre pensada.
Não há qualquer alívio para nenhum dos dois lados também pela dificuldade em distinguir quais os gritos são mais elevados ao lado esquerdo ou direito do quadro político brasileiro. O fato do país não ter qualquer tradição popular em manifestações faz com que a demonização destes gritos seja comum por parte do povo mais conservador e especialmente pela parcela midiática que se vale da manutenção do status quo para manter sua audiência intacta.
A simbologia presente no ato de queimar uma roleta de ônibus resume o motivo de estopim, iniciado pelo conhecido Movimento do Passe Livre. O desfecho do documentário não passa uma mensagem final, sendo difuso como foram a maioria das tardes e noites onde se ocuparam as principais avenidas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e outros, o qual o foco era em uma revolta, formado na maioria por jovens, pobres, que não aguentavam mais a exploração calada, destacando que o respeito só deve ser entregue a quem o pratica.