Quem é o Angry Video Game Nerd e por que fazer uma crítica desse filme? Bom, para quem passou os últimos dez anos dentro de uma caverna sem acesso à internet de qualidade (Esse fato pode ser questionado, mas quem liga? Esse post é meu!), devo primeiramente contar uma breve história de um rapaz e seu trabalho.
Apaixonado desde a infância pelo gênero dos filmes de horror dos monstros da Universal, James Rolfe cresceu um fanático pelo gênero da sétima arte. Começou fazendo histórias e até mesmo fotonovelas para seu próprio divertimento e o de seus amigos. Ao por suas mãos em uma filmadora caseira, começou a desenvolver suas próprias produções. Em 1999 cursou a Universidade de Artes da Philadelphia até seu término, em 2004, depois começou trabalhando como editor de vídeos enquanto trabalhava em seus próprios projetos. Juntava suas ideias com amigos, preparava um pequeno cenário no quintal de sua casa e começava a filmar. Essas brincadeiras renderam a Rolfe vários filmes amadores até os dias de hoje. Mais tarde, em 2007, largou o emprego para se dedicar à carreira e ao seu website, o Cinemassacre, onde divulga todos os filmes de sua autoria, reviews, séries e, lógico, os episódios do AVGN. Seus vídeos também foram divulgados através dos sites Gametrailers e Screw Attack, aumentando ainda mais seu público.
Por volta de 2004, quando houve o início da onda de vídeos e séries amadores lançados na internet, nascia uma criatura ranzinza, tosca e nerd. O Angry Vídeo Game Nerd (AVGN), personagem criado por James Rolfe e estereótipo de gamer aficionado, surgiu através de uma paródia de sua própria frustração com jogos de vídeo game que costumava jogar na infância. Não que ele realmente detestasse os jogos, mas eram jogos primordiais, no início de uma era, e, por isso, eram tão difíceis e complicados que acabavam por despertar raiva e frustração quando ele não conseguia terminar o dito jogo, desferindo palavras de ódio e gestos obscenos para acalmar a amargurada experiência. Originalmente chamado de Angry Nintendo Nerd, o projeto focou primeiramente os jogos do NES – o Famicom no Japão ou Nintendinho para nós, brasileiros – mas acabou tendo o nome trocado para prevenir problemas de direitos autorais e também para expandir seu repertório de xingamentos e lamúrias para outras plataformas, aumentando a quantidade de reviews e também de público. Em 2006, essa brincadeira acabou crescendo junto a Rolfe, destacando sua imagem por todo o mundo através da internet e do Youtube, alcançando um grande e fiel público além do próprio vídeo game.
O lançamento do filme põe fim a oito longos anos de produção que envolveram grande parte da vida de Rolfe, que contou com a ajuda de um crowdfunding realizado na internet para ter seu projeto finalizado. A história do filme se baseia em uma piada em cima de um jogo real, que é citado no seriado E.T. – O Extraterrestre, baseado no filme homônimo lançado em 1982. A lenda diz que o game era tão ruim que foi o responsável pelo crash da indústria de jogos em 1983, e, para tentar arcar com as despesas, a Atari, produtora de E.T., teria sumido com mais de centenas de cópias, enterrando-as no deserto de Alamagordo no Novo México. A história é demasiada ridícula, confesso, mas, por incrível que pareça, tem até um pouco de verdade nesse caso (que não tem a ver com a história, então deixa pra lá).
O AVGN: The Movie tem como base os próprios episódios da série do personagem de Rolfe, O Nerd, que aqui trabalha em uma loja que vende jogos de vídeo game e tem um vlog onde constantemente fala sobre o assunto, porém somente comentando os piores e mais frustrantes jogos já feitos. Isso o leva a criar uma legião de fãs que passam a comprar e dar maior valor a estes games, contrariando tudo o que ele fala em seus vídeos.
O filme inicia-se mostrando o que seria uma empresa desenvolvedora de jogos, as Indústrias Cockburn, começando a desenvolver o que seria a continuação do pior de todos os jogos já criados e que seria propositalmente ruim para poupar gastos com desenvolvimento e produção. Para arcar com as despesas, Mandi (Sarah Glendening), a produtora, diz que fará com que O Nerd faça um vídeo-comentário a respeito do jogo, dando toda a mídia necessária para que as pessoas comprem-no. Para fugir da tarefa de realizar essa crítica, O Nerd, junto a seu colega Cooper Folly (Jeremy Suarez), irá provar que o mito sobre o primeiro jogo, que é um dos maiores mistérios do mundo do jogo eletrônico, nada mais é do que uma farsa para pôr fim a uma perseguição de sua vida: ter que jogar o pior jogo já criado. Ao tentar desvendar o mistério, ele descobre que o jogo está ligado a uma conspiração governamental envolvendo a queda do OVNI de 1947 em Roswell e a área 51. Como se nada mais bastasse, acidentalmente é despertado Death Mwauthzyx, o deus-mostro de todo o universo (!?) que estava adormecido dentro do Monte Fuji. Cabe agora ao Nerd não somente desvendar o mistério do jogo como também salvar a humanidade.
A história é muito tosca, completamente sem noção e dotada de feitos toscos com miniaturas e fantasias de monstros dignas dos seriados japoneses. É hilariante! Para um fã, tanto de filmes B como dos seriados de Rolfe, se torna um filme super divertido, como se fosse um grande episódio de quase duas horas. Não por ser feito por seus próprios criados, mas por ser uma adaptação bem fiel a seu personagem, bem melhor que muitas adaptações que surgem hoje em dia. Além de um projeto pessoal, esse filme também funciona como uma grande homenagem a diversos filmes e jogos, mostrando diversas piadas que fazem referência ao público nerd e à cultura pop atual. A produção teve um orçamento de pouco mais de 350 mil dólares, e, apesar dos efeitos toscos mencionados, estes foram inclusos propositalmente para garantir o visual exageradamente precário dos filmes antigos. Todas as menções de jogos, produtos e lojas foram maquiadas com nomes paródicos (E.T., por exemplo, ganhou o nome de Eee Tee) para também evitar problemas de direito autoral. Mas isso só deixa o filme mais engraçado. Além disso, há várias aparições especiais, como a do próprio desenvolvedor do jogo original mostrado em E.T.
O filme teve sua premiere em 21 de julho em alguns cinemas selecionados dos EUA e no dia 27 foi exibido no Fantasia International Film Festival (FIFF). Seu lançamento foi no dia 2 de setembro no Vimeo.
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Texto de Autoria de Bruno Gaspar.