O filme começa com um ar de conto, como se descrevesse uma estória, mostrando links da web que introduzem o público na lenda de Frank Vega, o justiceiro/herói local, para logo depois ser interrompido por uma narração, do próprio protagonista encarnado por Danny Trejo, um senhor de 65 anos, escorraçado pela vida desde que voltara do Vietnã, e que teve na fama instantânea o começo da notoriedade que sempre buscara, mas que sempre lhe foi negado.
Trejo sempre foi conhecido pelas dezenas de papéis de coadjuvantes, sendo este sua segunda encarnação de herói da jornada, precedida pelo exploitation Machete, mas Vega é muito diferente do desbravador mexicano ex-agente secreto. Mesmo não sendo um primor, sua atuação é lúcida, carregada de nuances, toda a reticência e insegurança do personagem são justificadas, assim como o fato dele ser uma máquina de combate perfeita, o roteiro pressupõe que os veteranos de Nam, eram os combatentes perfeitos, escondidos sob uma capa de civil, adeptos da vida normativa, mas que por trás dessa máscara, ainda mostravam um enorme senso de justiça e vontade de fazer o que é certo – esta é uma ótima forma de encarar a má adaptação dos veteranos à vida normal, e é implacável ao mostrar como a sociedade os condena – sociedade esta representada pelos possíveis empregadores, ex-amantes e até a polícia.
Frank Vega se enxerga como um sujeito comum, quem o vê como extraordinário é a imprensa e o povo. A câmera de Craig Moss flagra isso, pois mesmo quando ele espanca os malfeitores, ela permanece a meia distância, demonstrando que até os seus atos extraordinários são enxergados assim pelo grande público, não por ele, já que em seu raciocínio, a justiça que ele pratica nada mais é do que sua obrigação.
A carreira de diretor de Moss não é muito extensa, e é quase toda composta de paródias bastante meia-bocas, como A Saga Molusco: Anoitecer e Um Virgem de 41 Anos Ligeiramente Grávido, o que faz desse Bad Ass algo ainda mais grandioso, visto que mesmo com o tom galhofa das lutas, a história em si é bem construída e perfeitamente passível de inserção do público.
Todos os hábitos de Frank remetem a uma vida simples e tranquila, seus deslocamentos são vias de transporte público, seus hábitos os mais ordinários possíveis e o bem estar de cada pessoa importa como a coisa mais importante do mundo, é uma extrapolação do bom comportamento e moralismo, elevado a enésima potência de uma forma quase utópica se comparado ao comportamento das pessoas reais – Frank é Bad Ass, o sujeito idealizado, o exército de um homem só, a milícia como deveria ser (pelo menos de acordo com os desejos da população), incorruptível e sem máculas nas suas ações, e que inclusive, pede perdão ao Divino antes de um grande “pecado” de vingança.
Frank Vega ataca os malfeitores de mãos nuas, como se a justiça fosse sua única arma. Toda a violência presente no filme é justificada pela código ético do herói resignado. O estilismo videoclíptico evoca uma contemporaneidade condizente com a geração MTV, o que reforça o deslocamento de Frank com este tempo em que vive. Ele é como um pária, uma peça de museu convivendo com as criaturas que pensam mandar no mundo atual, mas que têm em sua estrutura de “governo” uma fragilidade enorme, que cai por terra aos esforços de um sujeito durão de gerações anteriores. As condecorações que recebe vêm como uma recompensa justa aos seus combates à injustiça e a tudo que é errado, e demonstram que nunca é tarde para receber os louros pelas batalhas que foram travadas.
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