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  • Review | Kung Fury: Street Rage

    Review | Kung Fury: Street Rage

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    No ano de 2015, a internet abraçou de vez o financiamento da trash-metragem Kung Fury, um grande fenômeno que ganhou bastante notoriedade. Porém, um filme não é suficiente para demonstrar a grandiosidade desta obra. Tendo em vista que a estética do filme é praticamente um videogame, por que não lançar um jogo? Foi justamente o que aconteceu.

    Kung Fury: Street Rage é uma grande homenagem à década de 1980, tal como foi a película. A começar pelo nome, uma descarada referência ao clássico do Mega Drive, Streets of Rage, este simples jogo emula os beat’em ups clássicos com uma mecânica extremamente simples, típicas de jogos de celulares. São apenas dois comandos: esquerda e direita. Apertando o respectivo comando, seu personagem fará um ataque para a direção escolhida. Cada personagem tem particularidades em seus ataques:

    • Kung Fury: o grande protagonista é o mais equilibrado. Possui life mediano e seus ataques têm um bom alcance.
    • Barbarianna: a bela viking-atiradora, após acertar quatro ataques consecutivos, poderá lançar uma poderosa rajada de tiros que eliminará todos que estiverem no caminho. Tem pouco life.
    • Triceracop: fiel companheiro de Kung Fury, o policial-dinossauro atira nos inimigos, porém recuará a cada disparo. Este recuo poderá deixá-lo mais vulnerável aos inimigos que vierem na retaguarda, por isso que ele possui muito life.
    • Hackerman: o mais estranho de se jogar, ele “marca” os inimigos para eliminá-los com poderosas rajadas. Tem pouco life.

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    O grande ponto do jogo é saber a hora certa de atacar. Seu personagem não anda (exceto nas batalhas de chefe), devendo o jogador medir a distância e prestar atenção no posicionamento do personagem após cada ataque. É uma mistura do timing dos jogos de luta com a dinâmica dos beat’em ups. Cada personagem possui uma quantidade variada de life e comportamentos diferentes ao ser atingido. Portanto, não basta atacar de maneira irresponsável, até porque errar o ataque lhe deixará alguns instantes sem poder reagir, deixando seu personagem bem vulnerável.

    Quando o jogo foi lançado, só havia um personagem selecionável: o próprio Kung Fury. Também só havia um modo de jogo (Endless, onde você deve matar o máximo de inimigos até perder todo o seu life). No início deste ano, o jogo recebeu uma atualização bem interessante, onde foram inclusos outros três personagens (já mencionados acima), um modo história com batalhas de chefes e dublagem dos atores do filme.

    Não é um jogo espetacular, mas garante um bom passatempo. A versão de celular não é muito bem otimizada e pode rodar lento em alguns dispositivos. Se quiser uma experiência sem problemas, jogue a versão de PC ou de PS4. Agora chega de papo e vá matar alguns ninjas nazistas!

  • Crítica | Kung Fury

    Crítica | Kung Fury

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    Desde o lançamento do trailer em dezembro de 2013, Kung Fury mobilizou a internet. O projeto do sueco David Sandberg era produzir um curta-metragem de trinta minutos e disponibilizá-lo gratuitamente no YouTube, tudo financiado pelo kickstarter. Se as contribuições atingissem um milhão de dólares, seria produzido um longa. Infelizmente esta meta não foi atingida, apesar de o projeto ter arrecadado 630 mil dólares com mais de 17 mil colaboradores, algo impressionante para uma produção trash independente.

    O pequeno filme conta a história de Kung Fury, um policial mestre em kung fu numa jornada pelo tempo em busca de Adolf Hitler. A história parece nonsense e babaca, e realmente é. Bem-vindo a Miami, 1985! Trata-se de uma homenagem às coisas esdrúxulas dos anos 1980, regadas com exagero, canastrice e produção barata. O protagonista que dá nome ao filme, interpretado pelo próprio Sandberg, reúne o máximo de clichês possível: policial que trabalha sozinho porque seu parceiro, considerado um pai, foi assassinado, e agora utiliza suas habilidades de luta adquiridas do nada para combater o crime. A origem dos poderes de Kung Fury é a coisa mais ridícula do mundo, uma caricatura sublime dos anos 1980.

    O filme inteiro utiliza a grande técnica do chroma key e foi gravado no escritório/porão de Sandberg. As limitações técnicas e financeiras contribuíram para que o diretor utilizasse seus recursos da melhor forma possível, liberando sua criatividade de forma eficaz. A proposta foi apresentar um curta de aventura anos 80 com o máximo de exageros possíveis. O resultado final é espetacular. A estética oitentista aliada a alguns artifícios nostálgicos (tracking e imagem de VHS, música repleta de sintetizadores, frases de efeito babacas, só para citar alguns exemplos) criaram uma obra original abarrotada de clichês. Por mais paradoxal que possa soar, essa mistureba gerou algo com personalidade.

    Pouco antes do lançamento do curta, o mundo foi brindado com uma agradável surpresa: o videoclipe de True Survivor, música-tema do filme cantada pelo inigualável David Hasselhoff. O ator/cantor foi até a casa de Sandberg na Suécia para gravar o clipe e se deparou com uma pessoa tímida, mas dedicada àquilo que fazia. A namorada de Sandberg, ao ver o astro, caiu em lágrimas, dizendo ser inimaginável que aquela ideia nascida na garagem tenha ganhado vida. Hasselhoff gravou suas aparições do clipe naquele mesmo chroma key, e todos esses detalhes foram comentados pelo próprio ator neste vídeo. Ele gostou de participar do projeto e teceu diversos elogios a Sandberg.

    Kung Fury mostrou ao mundo que um bom projeto pode ser realizado com a ajuda da internet. O kickstarter, apesar de ser deturpado por inúmeros oportunistas, ainda é uma ferramenta poderosa para a criação de conteúdo independente, desde filmes até jogos. Sandberg deu à luz uma obra extremamente divertida que virou um fenômeno. O diretor/ator sueco mostrou uma grande dedicação e competência na produção deste curta, tanto que acreditou no projeto e tirou 5 mil dólares do próprio bolso para gravar aquele trailer. Reserve trinta minutos de sua vida para conferir esta pérola trash da atualidade, mas por favor, assista ao trailer e ao clipe de Hasselhoff antes. Há um joguinho bem legal para celulares e PC, também vale a pena conferir.

  • Crítica | Mega Shark vs Crocosaurus

    Crítica | Mega Shark vs Crocosaurus

    Mega Shark não é uma ave de fogo ou um undead, até porque jamais andou, mas certamente entrou para a categoria dos imortais do cinema, ao lado de figuras mitológicas como Godzilla, King Kong e outros primos não tão gigantescos, como Jason e Michael Myers. O segundo episódio da saga tubaranesca começa ainda mais incisiva e crítica que a primeira, mostrando um comentário social contestador, de escravização moderna, na mesma África (Congo) que séculos atrás produziu a mão de obra utilizada para levantar o mundo moderno. O filme de Christopher Ray é ainda mais corajoso, pois exibe um novo monstro logo de cara, um enorme crocodilo, um Alligator super desenvolvido, chamado Crocossauro, cujo CGI o deixa irreal e cinzento mas que mesmo com todo o tom grafite, ele ainda não tem sua origem definida.

    Outra grande rebeldia da fita é exibir o corpo de cientistas que estuda os peixes (tubarões) formado em seus protagonistas por negros. Até algumas das linhas de frente militar são pessoas cuja taxa de melanina é alta, elevando o desejo de Luther King Júnior a níveis estratosféricos – se Denzel Washington e Hale Berry podem ganhar o Oscar, por qual motivo a rapaziada do gueto não pode enfim ter sua voz no cinema podre da Asylum? A pergunta está respondida nos parcos minutos de Mega Tubarão vs Crocosauro,

    A história é contada sob os olhos do Doutor Terry McCormick (Jaleel White) que está a bordo de um navio militar, que é atacado pelo tubarão super-desenvolvido. Como nem tudo é bonito e belo, o navio é afundado pelo peixe pré-histórico cujo tamanho varia ao gosto de seu realizador, levando consigo a amada de Terry, e um bocado de sua esperança na vida, consequentemente. Sem delongas, a trilha segue até a savana, mostrando Nigel Putnam (Gary Stretch), um branco de cabelo engomado, que consegue manter o penteado mesmo em seu ofício de caçador de animais de médio porte. Logo ele encara o enorme réptil, em terras africanas, fazendo dele um autêntico sobrevivente.

    Terry por sua vez é encontrado pelo governo estadunidense, surpreendentemente vivo – outro sobrevivente – será que a narrativa já é perceptível? Nigel então decide viajar de barco, e lá, encara o peixe descomunal também, para logo depois ser perseguido pelo jacaré colosso. O embate de criaturas titânicas quase ocorre, mas é deixado para mais tarde, afinal, essa premissa única precisa ser segurada por mais dois terços de filme.

    A urgência nesse filme é maior, a pressa para resolver todas as questões que assolariam a humanidade é justificável, uma vez que os dois predadores têm feito muito mais vítimas que no seu anterior, ainda mais com um deles podendo andar em terra, aterrorizando os praieiros com sua textura de glacê sabor lodo. Nigel acaba se juntando ao corpo de especialistas, formado pelo negro, pela agente governamental Hutchinson (Sarah Lieving) e por um constrangidíssimo Robert Picardo, o Doc de Star Trek: Voyager, que em nome de alguns trocados aceita interpretar o militar maníaco por charutos Almirante Calvin.

    Entre muitas viagens de roteiro, o grupo decide destruir as ovas do jacaré, capturando um dos receptáculos e levando para dentro da base dos sujeitos. Após isso, decidem usar os invólucros para chamar a atenção dos monstrengos, não sem antes apresentar mais um sem número de cenas mal editadas em ambientes escuros, cuja iluminação vem das luzes avermelhadas típicas dos botões fosforescentes inerentes a qualquer instalação da marinha.

    A arrogância do homem faz ele não calcular a possibilidade muito real das duas criaturas caírem na porrada em terra firme, mesmo que uma dessas partes necessite da água para se locomover – o que não é exatamente um problema, uma vez que o planeta é formado por dois terços desse elemento, mas o Mega Shark gosta de um preciosismo, e se exibe de modo pouco aconselhável pelas cidades costeiras, trazendo uma destruição enorme, que em vias secundárias, relembra a evolução milenar prevista por Darwin.

    Mais uma vez quem traz a solução é o cientista de cor que insiste em falar gírias sem fim, mesmo sendo um renomado profissional. Sua ideia de atrair o tubarão por meio de uma corrente elétrica é ignóbil, mas passa a ser a melhor saída na suspensão de descrença típica da película. Após algumas conclusões bastante precipitadas, o caçador entende que o tubarão se tornou um animal nuclear. Seus pitacos prosseguem, com frases soltas de cunho óbvio, que entregam algo que o espectador é plenamente capaz de observar sozinho: os  crocodilos filhotes se aproximam de onde eles estão, atraídos por aquele perigo enorme.

    Juntos, os dois heróis superam seus traumas familiares, se veem diante das figuras mastodônticas. De arma em punho, eles cruzam o cenário, distribuindo chumbo e se movendo em câmera lenta, para grafar todo o heroísmo possível em suas ações, atividades belas, perpetradas por bravos homens, cuja genialidade é notada em seus argumentos completamente alucinados e sem sentido. Como mágica – e como já esperado por esse roteiro esquizofrênico – o plano de Terry dá certo, e eles fritam as criaturas malvadas. Tudo acaba bem, e mais uma vez os heróis voltam para suas casas com somente alguns arranhões, nada que um bom banho e descanso não cure. Dessa vez, as criaturas parecem ter sido sepultadas, já que a quantidade massiva de explosivos foi jogada nelas, mas o Mega Tubarão é um ser de proporções tão dantescas, que não é de se surpreender que ele faça mais mal a humanidade em um futuro próximo. Mega Tubarão vs Crocosauro é bem menos divertido que seu anterior, até por ter perdido o fator surpresa, além de acrescentar pouco a mitologia do peixe super desenvolvido, o que é uma lástima, evidentemente.

  • Crítica | Monstros Marinhos

    Crítica | Monstros Marinhos

    A trilha sonora meio infantil é acompanhada de uma filmagem panorâmica, sob as frias planícies, montanhas cobertas de neve e gelo. A fita orquestrada por Ace Hannan (aka Jack Perez) tenta trazer uma sobriedade e uma visão de mundo bastante civilizado, onde homem e natureza convivem harmoniosamente, mas somente até a página 15, uma vez que as ações humanas são catastróficas para a ocorrência da vida no planeta.

    Blocos dantescos de gelo se derretem, enquanto em imersões na água atlântica, são mostradas hordas e mais hordas de tubarões, desde os brancos, cinzas, martelos e tantos outros, além de mamíferos, baleias que encantam os olhares dos personagens, que até então não são completamente estúpidos. O público menos atento aos detalhes da produção é capaz até de ser enganado quanto ao gênero deste Monstros Marinhos.

    Quando o submarino de última geração mergulha tanto nas profundezas que encontra um ser de proporções titânicas, a chave é virada e toda a abordagem muda, inclusive o cenário varia após o início/epílogo. Uma espécie de polvo ataca uma estação de tratamento de petróleo, e após o apagar das luzes é mostrada uma criatura gigante, encalhada na praia, fruto de uma disputa, certamente, mas sem origem conhecida. Claramente isso não importa, o que realmente é ressaltado é a briga entre os homens, protagonizada por Emma MacNeil (Deborah Gibson) e Dick Ritchie (Mark Hengst), o que já deixa claro que o homem não conseguirá seguir na coexistência pacífica, uma vez que Emma é mulher das mais bisbilhoteiras, até pela natureza de seu ofício como… isso não fica exatamente claro, ela é uma amante dos oceanos.

    O fato preponderante para entender a história é que seres descomunais, a muito adormecidos, finalmente despertaram, após terem suas sepulturas geladas violadas, graças talvez ao aquecimento global, algo que os cientistas sempre usam para alertar a população, mas que a humanidade insiste em ignorar. Como um grito panfletário travestido de filme B, a fita faz sua propaganda, mostrando um enorme Polvo e um Tubarão muito maior que um jato comercial, e capaz de dar saltos a muitos milhares de pés acima da linha oceânica.

    São na verdade dinossauros, antigos como o mundo, que adormeceram desde o tempo em que dominavam o planeta, e que retornariam para tentar reaver seus tempos gloriosos. E qual seria o papel do homem neste jogo fadado ao fracasso, se não perecer diante das criaturas poderosíssimas? A resposta do parco roteiro era a de que o humano é um coadjuvante no certame, já que nenhum dos humanoides é tão bem concebido quanto os seres gigantes, que mal aparecem em tela. A despeito até do começo tímido e pouco escapista.

    Logo uma junta de cientistas, que inclui em seus esforços Emma – após quase metade do filme se entende qual é a profissão desta – é cooptada pelo governo, levados de modo agressivo para uma instalação militar para verificar um modo de impedir as tais criaturas de vencer o homem em seu território. Claro, a plataforma é bem próxima ao mar, pois é ótimo habitar perto do perigo, e claro, mesmo sendo vigiados pelas autoridades, os indivíduos de jaleco conseguem tempo para a “sarração”, que logicamente lhes dá uma ideia maravilhosa, atrair os seres com feromônios.

    O valor espiritual de Emma é testado a todo momento, e ante até a figura máxima de autoridade, vivida pelo militar Allan Baxter – interpretado pelo imortal Lorenzo Lamas – o talento da moça é valorizado, talvez numa referência a carreira de cancioneira de Debbie Gibson. Fato é que suas aventuras por dentro dos oceanos são reativadas, e lá ocorrem batalhas nos CGIs mais vagabundos possíveis, com cenas intercaladas de dentro dos pódios submarinos do alto comando, com shows repletos de atuações toscas e claro, tubarões em efeitos tridimensionais com textura semelhante a isopor molhado – super condizente com o maravilhoso modo que o roteiro é guiado.

    No entanto, mesmo com toda a cretinice do roteiro, a solução encontrada pelos homens é muitíssimo condizente com a realidade, com posturas belicistas e tentativas de utilização de artigos nucleares para fazer valer a força, sob o pretexto pobre de que esta execução tencionaria salvar vidas. O artifício de usar fáceis soluções para problemas sérios é utilizado largamente na realidade, e o é assim nesta fita.

    Depois de mais uma leva de embromação, encontra-se uma solução amenizada, de união entre nações, visando vencer o inimigo em comum que o ser humano tinha. Nesta utópica união, decide-se por um plano um bocado louco, mas que em um universo completamente descacetado como este poderia funcionar, que seria reunir os dois monstros gigantes para se embater, dando fim a existência de ambos, preferencialmente.

    Como era de se esperar, a fita termina sem grandes consequências, tanto para a humanidade, quanto para as criaturas pré-históricas, que vão para as profundezas oceânicas, descansar mais uma vez e se preparar para mais uma agressão ao bicho homem, que teima em pôr questões básicas e fofas, como o amor e a amizade acima até de sua sobrevivência e do posto de líder inconteste da cadeia alimentar terráquea.

  • Crítica | Sharknado 2: A Segunda Onda

    Crítica | Sharknado 2: A Segunda Onda

    Em 2013, The Asylum, a produtora trash por excelência, nos brindou com uma das maiores pérolas cinematográficas da atualidade: SharknadoO sucesso, aliado ao baixo orçamento de produção, tornou inevitável uma sequência. Eis que, no ano seguinte, estreia Sharknado 2, e pasmem, a galhofa ficou ainda maior!

    Após os acontecimentos do primeiro filme, April (Tara Reid) escreve um best-seller no qual relata as façanhas de Fin (Ian Ziering) ao combater o temível tornado de tubarões. Logo no início do filme, o casal, agora reconciliado (?), está num avião rumo a New York, mas… Fin tem a impressão de que algo ruim está por vir. E não estamos falando somente de Kelly Osbourne no papel de aeromoça. Uma tempestade surge e os tubarões voltam a atacar! É inacreditável o que acontece nos primeiros minutos de filme,  e na pior qualidade técnica possível: da aparição (e morte) relâmpago de Wil Weathon ao pouso forçado do avião com um CGI digno do PlayStation 1. Tubarões adentram o avião ignorando completamente os princípios da Física. Mas quem espera realismo em um filme como este?

    Após o grande susto no avião, Fin deve avisar à sua família que procurem abrigo em New York, pois um novo sharknado está por vir. A partir daí, a catástrofe se inicia no estilo do primeiro filme. As ruas ficam inundadas, infestadas de tubarões, que são onipresentes e surgem de qualquer poça d’água. Para tudo ficar ainda mais bonito, alguns répteis dão o ar da graça dos esgotos, lembrando um certo filme dos anos 80.

    Aliás, houve uma preocupação em trazer mais elementos da cultura pop ao filme, com incontáveis referências a clássicos do cinema e afins. Basta um olhar mais atento para captar a “sutil” homenagem a Evil Dead, Além da Imaginação, e claro, ao Tubarão de Steven Spielberg  – personagens chamados Ellen e Marin Brody. O fato de os tubarões perseguirem April e Fin insistentemente traz à lembrança o plot do horrendo Tubarão 4, contribuindo positivamente para a trasheira deste filme.

    A brincadeira fica ainda mais interessante com a inserção de telejornais reais noticiando a catástrofe. Imaginem se num filme William Bonner anunciasse no Jornal Nacional a aparição de um sharknado. Seria, no mínimo, divertido.

    Não satisfeitos, a Asylum  cria um final absurdo, exagerado, ridiculamente trash, superando qualquer expectativa do mais descrente ser humano deste planeta. A babaquice é tamanha que precisamos aplaudir de pé este blockbuster da zoeira. Jogue seu tênis verde no lixo e aprecie esta obra que vai te divertir horrores. Um colosso!

  • Resenha | Nada Mais que a Verdade – Celso de Campos Jr., Giancarlo Lepiani, Denis Moreira e Maik Rene Lima

    Resenha | Nada Mais que a Verdade – Celso de Campos Jr., Giancarlo Lepiani, Denis Moreira e Maik Rene Lima

    Na lembrança afetiva de boa parte da população, principalmente dos habitantes da grande São Paulo, está guardado o bordão: “Espreme que sai sangue”. Os jovens adultos podem até não associar de primeira o termo à sua origem, mas basta falar do famoso Notícias Populares que tudo ganha sentido.

    O jornal popularesco, infame e ousado – que juntava as pessoas em frente a banca para espiarem suas capas que transbordavam cadáveres, lado a lado com musas em ensaios apimentados e com manchetes garrafais absurdas – ganha uma biografia rica em detalhes, que resgata os fatos e lendas que rondaram a redação por mais de 30 anos.

    A história do Notícias Populares é inseparável dos profissionais que se dedicaram a confeccionar diariamente o conteúdo diferenciado a que se propunha. Desde o começo, em 1963, posto em prática para espantar a “ameaça comunista” na sociedade, dedicou-se a dialogar com camadas desfavorecidas da sociedade. Sua fórmula era simples e objetiva: Policial, Sensual e Inusitado. Desta trinca como base, inseria nas suas diversas colunas (e bota diversas nisso) desde notas sobre política até ensaios filosóficos bem-humorados, passando por terapias sexuais até odes do RAP ao Heavy Metal.

    O livro narra os bastidores do jornal, mostrando como foi o dia a dia do vasto quadro de funcionários, década a década, manchete a manchete. Claro que é um trabalho impossível trazer à luz os milhares de casos lá expostos, mas a seletiva é de puro bom gosto, como o caso do Vampiro de Osasco; o Bebê Diabo que nasceu em São Paulo; o famoso mendigo Pelezão que foi violentado por uma psicóloga da alta sociedade e virou subcelebridade; a mulher que deu luz a uma tartaruga, e muitas outras manchetes desafiadoras.

    É interessante conhecer como funciona o pensamento da máquina midiática brasileira na sua faceta mais antiga, que é o jornal impresso, e suas mudanças repentinas para acompanhar as necessidades nem sempre facilmente detectáveis do povo. Dentro do prédio do NP vamos, junto com os repórteres, aos bairros mais perigosos, seguindo as diretrizes dos  editores, às vezes surpresos com o eco de seu próprio produto.

    O Notícias Populares ora serviu como válvula de escape para o trabalhador, ora como arma social e política, num jogo de interesses que tentou até o fim padronizar o jornal. Gerações diferentes deram sua contribuição e essa jornada nos faz entender um pouco sobre como é tênue a linha que separa a verdade da mentira. E trabalhando como equilibrista nessa linha, o Notícias Populares, de braços dados com seus leitores, caminhou a trancos e barrancos até a irremediável extinção, em janeiro de 2001.

    Leitura curiosa, divertida e obrigatória! Pra quem gosta de comunicação, pra quem gosta de um divertido realismo fantástico e pra quem gostaria de tomar uma pinga com o Bebê Atômico. Pra saber do que estou falando, vai ter que acompanhar o caso por entre as 254 páginas deste resgate, em edição revista e ampliada. Difícil de encontrar o livro, mas a busca vale muito.

    Texto de autoria de Sergio Ferrari.

  • Crítica | Bad Ass: Acima da Lei

    Crítica | Bad Ass: Acima da Lei

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    O filme começa com um ar de conto, como se descrevesse uma estória, mostrando links da web que introduzem o público na lenda de Frank Vega, o justiceiro/herói local, para logo depois ser interrompido por uma narração, do próprio protagonista encarnado por Danny Trejo, um senhor de 65 anos, escorraçado pela vida desde que voltara do Vietnã, e que teve na fama instantânea o começo da notoriedade que sempre buscara, mas que sempre lhe foi negado.

    Trejo sempre foi conhecido pelas dezenas de papéis de coadjuvantes, sendo este sua segunda encarnação de herói da jornada, precedida pelo exploitation Machete, mas Vega é muito diferente do desbravador mexicano ex-agente secreto. Mesmo não sendo um primor, sua atuação é lúcida, carregada de nuances, toda a reticência e insegurança do personagem são justificadas, assim como o fato dele ser uma máquina de combate perfeita, o roteiro pressupõe que os veteranos de Nam, eram os combatentes perfeitos, escondidos sob uma capa de civil, adeptos da vida normativa, mas que por trás dessa máscara, ainda mostravam um enorme senso de justiça e vontade de fazer o que é certo – esta é uma ótima forma de encarar a má adaptação dos veteranos à vida normal, e é implacável ao mostrar como a sociedade os condena – sociedade esta representada pelos possíveis empregadores, ex-amantes e até a polícia.

    Frank Vega se enxerga como um sujeito comum, quem o vê como extraordinário é a imprensa e o povo. A câmera de Craig Moss flagra isso, pois mesmo quando ele espanca os malfeitores, ela permanece a meia distância, demonstrando que até os seus atos extraordinários são enxergados assim pelo grande público, não por ele, já que em seu raciocínio, a justiça que ele pratica nada mais é do que sua obrigação.

    A carreira de diretor de Moss não é muito extensa, e é quase toda composta de paródias bastante meia-bocas, como A Saga Molusco: Anoitecer e Um Virgem de 41 Anos Ligeiramente Grávido, o que faz desse Bad Ass algo ainda mais grandioso, visto que mesmo com o tom galhofa das lutas, a história em si é bem construída e perfeitamente passível de inserção do público.

    Todos os hábitos de Frank remetem a uma vida simples e tranquila, seus deslocamentos são vias de transporte público, seus hábitos os mais ordinários possíveis e o bem estar de cada pessoa importa como a coisa mais importante do mundo, é uma extrapolação do bom comportamento e moralismo, elevado a enésima potência de uma forma quase utópica se comparado ao comportamento das pessoas reais – Frank é Bad Ass, o sujeito idealizado, o exército de um homem só, a milícia como deveria ser (pelo menos de acordo com os desejos da população), incorruptível e sem máculas nas suas ações, e que inclusive, pede perdão ao Divino antes de um grande “pecado” de vingança.

    Frank Vega ataca os malfeitores de mãos nuas, como se a justiça fosse sua única arma. Toda a violência presente no filme é justificada pela código ético do herói resignado. O estilismo videoclíptico evoca uma contemporaneidade condizente com a geração MTV, o que reforça o deslocamento de Frank com este tempo em que vive. Ele é como um pária, uma peça de museu convivendo com as criaturas que pensam mandar no mundo atual, mas que têm em sua estrutura de “governo” uma fragilidade enorme, que cai por terra aos esforços de um sujeito durão de gerações anteriores. As condecorações que recebe vêm como uma recompensa justa aos seus combates à injustiça e a tudo que é errado, e demonstram que nunca é tarde para receber os louros pelas batalhas que foram travadas.

  • Crítica | Sharknado

    Crítica | Sharknado

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    The Asylum é uma produtora que, há bastante tempo, vem produzindo filmes baratos, bizarros e completamente falcatrua. Suas “obras” mais notórias são os famosos mockbusters, plágios descarados dos blockbusters de sucesso. TransMORPHers, Snakes on a TRAIN e um mais recente, ATLANTIC Rim, são alguns poucos exemplos do que a Asylum já cometeu no mundo cinematográfico.

    Nessa onda de bizarrices trash, a produtora já fez diversos filmes de animais assassinos, gigantes ou não, com efeitos dignos de filmes caseiros. A galhofa extrema torna os filmes da Asylum verdadeiros virais na internet que, por si só, já criam sua própria publicidade no boca-a-boca. E nos últimos meses, um dos grandes hypes do mundo trash foi Sharknado.

    A ideia de unir a perigosa catástrofe natural (tornado) com a máquina assassina dos mares (tubarão – shark) criou uma obra digna de estar no topo do pedestal trash do cinema.

    Afinal, o que esperar desse filme? O que esperar de uma ideia desse nível? Um filme merda, claro! A galera do tênis verde vai detestar, xingar, gritar, massacrar o filme. Já os amantes do malfeito vão adorar!

    O trailer faz imaginar que o filme será apenas um furacão trazendo tubarões que irão cair sobre as pessoas e mata-las alucinadamente. Porém, um ponto positivo foi criar um ambiente onde os tubarões pudessem passear pela cidade e se divertir. O tornado/furacão/tufão/ciclone traz inundação às ruas, e com isso os tubarões poderão ter acesso a grande parte da cidade, aumentando a carnificina.

    O filme custou uma mixaria para ser produzido, então não podemos esperar grande primor técnico. Os atores são horríveis, dentre eles a Tara Reid, que, dentre os trabalhos de maior destaque estão American Pie e o “excelente” Alone in the Dark, do mestre Uwe Boll.

    Em muitos momentos, a edição faz com que o céu escureça de repente, e logo depois se ilumine. Ed Wood ficaria orgulhoso!

    Sem contar que, em determinadas cenas, o trânsito de veículos está completamente normal, como se o mundo não estivesse sendo assolado por um Sharknado. Provavelmente seria muito caro conseguir um alvará da prefeitura pra fechar as ruas, então vai assim mesmo! A câmera ajuda na previsibilidade do filme, onde o personagem prestes a morrer é enquadrado num plano mais aberto, onde o espectador já espera o tubarão cair sobre o infeliz personagem.

    Para os amantes dos tubarões, do trash, do bizarro e dos efeitos especiais baratos, este filme é obrigatório, uma das grandes surpresas do ano.