Na academia, o primeiro desafio de um estudante de Cinema é entender a importância da ação, como dar à imagem a força de contar uma história. E conseguir empenho de um público, a partir de ações, é o sinal mais claro que algo está funcionando. Custódia é o longa-metragem de estreia do francês Xavier Legrand e além de ser uma aula de como desenvolver uma narrativa através da imagem, é um dos dramas mais aterrorizantes dos últimos anos.
Custódia segue as retaliações de um casal recém divorciado após decidirem na justiça sobre a guarda do filho mais novo Julien (Thomas Gioria), então a pressão fica sob o garoto que se nega a ficar com o pai, o acusando de ser uma pessoa violenta. O filme também acompanha a filha mais velha Joséphine (Mathilde Auneveux), que está prestes a completar dezoito anos.
Xavier Legrand constrói um drama de imprevisibilidades, se na cena de abertura as intenções dos pais são turvas e encobertas pelas defesas de suas advogadas, aos poucos elas vão ficando mais evidentes quando o jovem Julien deve ficar entre elas. É puramente crível a situação que o filho se encontra, ela é contada por sua perspectiva e dá ao filme a atmosfera que o marca. Com uma câmera na mão que mira através de vidros sujos e a longas distâncias, Custódia vai ganhando pontos com sua força.
Os diálogos são rasgados e carregados, eles vêm depois de segundos de silêncio onde tivemos acesso apenas às reações das personagens, mas como já dito, Xavier aposta na imprevisibilidade. Até um ponto não sabemos a veracidade de alguns fatos, pois ele deixa de lado o maniqueísmo, estabelecendo Custódia como verossímil e absolutamente contemporâneo. Certa sequência, em uma festa, é um jogo de olhares, sussurros e ações mais tenso que bons thrillers de tão real, é de uma direção impecável.
O final, se já tenha pesquisado o mínimo sobre o longa você sabe disso, é o assunto mais comentado do filme desde que passou por Veneza, e é inegável o quão impactante ele é. O trabalho de Legrand até ali ganha uma justificativa mais do que satisfatória e assusta ao se chocar com decisões tomadas desde os primeiros minutos de filme. É assustador e de difícil digestão.
Excelente trabalho de estreia do diretor e com uma sequência de incríveis atuações, Custódia finaliza como um olhar sensível e forte sobre uma sociedade que libera e recebe violência nos meios mais íntimos, sobre uma juventude que espera se espelhar, mas que tem que crescer o quanto antes para sobreviver.
–
Texto de autoria de Felipe Freitas.