De Kim Longinotto, Fotografando a Máfia é um documentário sobre uma figura italiana, a fotografa Letizia Battaglia, que tinha por especialidade na juventude e na vida adulta, registrar ações e conseqüências da Máfia e da Cosa Nostra por todo o território italiano, seja nos lugares provincianos ou nas zonas urbanas.
Letizia, já idosa, narra sua própria historia, e costura o roteiro através de sua vida pessoal e o interesse que sempre teve em denunciar os atentados mafiosos e as conseqüências sanguinárias disso. Sua paixão por fotografia e por registrar a vida e a verdade esbarravam na condição de casada que tinha, e toda essa discussão sobre o âmbito pessoal é um pouco desinteressante, em especial se comparado ao belo trabalho que Battaglia cumpria.
Seu esforço quase sempre passava por mostrar como era a vida e tragédia dos funcionários criminosos rasos. Corpos mutilados, famílias órfãos de pais ou de filhos mais velhos eram eventos comuns no interior e nas cidades grandes italianas. O exemplo de Corleone é assustador, uma vez que é dito que a cidade que tem só quinze mil habitantes tem também 4 mil analfabetos e 3 mil desempregados. Longinotto usa a narrativa d seu filme para afirmar o óbvio, que a dificuldade do Estado em chegar nesses confins facilita a proliferação da criminalidade, assim como a carência de oportunidades.
Ao menos, há demonstrações da vida imitando a arte, como foi no julgamento de Salvatore Totò Riina, que emulava um Michael Corleone diante do tribunal como foi em O Poderoso Chefão – Parte II, negando participação criminosa mesmo que fosse evidente que ele tinha.
Apesar do já citado enfado das desventuras amorosas da protagonista, as fotos das mortes fazem o filme valer a pena. Battaglia poetizava sobre o sangue e sobre o gore real que povoava e ainda povoa a Itália. A escalada da violência era tão bem registrada por si que ao se cercar disso, ela resolveu agir de maneira mais veemente, se tornando vereadora. Sua carreira política era voltada para defender operações de perseguição aos gangsteres, como a Operação Mãos Limpas, e isso dá chance ao documentário de falar sobre o combate a máfia.
Nesse ponto, o caráter e intuito de Fotografando a Máfia se perde um pouco, embora a exploração de figuras como Don Liggio, Bernardo Provenzanno, Salvatore Totò Riina e principalmente do juiz Giovanni Falcone, que para ela, era um herói. O espectador que não conhece muito a respeito da Máfia realista tem aqui um bom exemplar de estudo de caso, que não fecha os olhos para a violência, soando até moralista na maioria das vezes.