Os primeiros minutos do filme de Gabraz já demonstram seu caráter ensaístico, com uma cena com a câmera estática, mostrando dois personagens interagindo, mas sem ouvir suas falas, graças ao barulho de um avião que pousa ali. Interlúdio é um filme pouco mais de cinquenta minutos, que tem em sua proposta de contar uma história de um casal em busca de inspiração artística usando elementos herméticos e líricos para evocar essa busca.
Vanessa (Vanessa de Michellis) e Duda (Jiullian Gonçalves) embarcam em uma nova cidade. Lá tem contato com a natureza de maneira direta, discorrem sobre inspiração e ensaiam afim de encontrar a identidade para o som que tentam fazer. O decorrer do filme é econômico em palavras, tendo a comunicação entre personagens e público a música provinda das jam sessions.
É curioso como esse filme dialoga com Sutis Interferência, filme de Paula Gaitán que investiga a vida de Arto Lindsay, com a notória diferença entre os períodos das carreiras retratadas, já que Lindsay já é um artista consolidado, e ao que tudo indica, a das personagens em tela ainda está em formação.
A fotografia em preto e branco ajuda a estabelecer o caráter de extrema experimentação tanto em relação a cinema quanto a música, sendo este Interlúdio um belo exemplar de híbrido entre os dois formatos artísticos, sem necessidades de maiores explicações para a total compreensão da questão central do filme, que é a exploração da jornada rumo a inspiração do criador de arte.