A tragédia pulsa em Lady Macbeth, produção baseada na obra do russo Nikolai Leskov, em referência explícita a uma das grandes obras do dramaturgo William Shakespeare. Dirigido por William Oldroyd em primeira incursão nos longa-metragem, a trama acompanha a jovem Katherine, presa em um casamento por conveniência.
Com uma narrativa transposta do cenário original do romance para a zona rural da Inglaterra em época vitoriana, é a insatisfação e o tédio que move a personagem central. Representante da época, a mulher vive em um casamento infeliz, além de se sentir incomodada com a própria condição e os costumes rigorosos da época em que, mais do que uma esposa, a mulher era como um papel figurativo na sociedade, sem autonomia. É a partir desse misto de inconformismo e tédio que Katherine assume um caso amoroso.
O roteiro de Alice Birch segue a mesma estrutura formal da época vitoriana. Constrói-se com frieza para analisar a personagem central como se evitasse um julgamento prévio, deixando ao público qualquer observação. Ainda que a tônica da emancipação feminina se destaque inicialmente, a cada ação de restrição, a personagem corrói o senso moral até destruí-lo. De uma adúltera se transforma em assassina, evidenciando o aspecto trágico da história. Evitando qualquer análise psicológica sobre a ação da personagem, abordando sua opressão, a observação sobre a autonomia feminina, perde-se um pouco do brilho narrativo.
A composição cênica é bela com detalhes bem estruturados tanto em figurinos como na fotografia, contrapondo ricos cenários com o vazio sentimental e existencial de Katherine. Porém, sem estabelecer nenhuma nuance para sua vida tediosa, falta um movimento que humanize a personagem e, ao menos, compreenda-se suas ações. Talvez o vazio seja proposital, como para justificar os atos violentos da personagem. Porém, o resultado é uma narrativa sem apelo dramático, fria ao extremo, sem nenhuma paixão que justifique, de fato, a pulsão da tragédia.
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