Documentário de formato moderno, Quanto Tempo o Tempo Tem é o esforço de Adriana Dutra em discorrer sobre a efemeridade da vida, poetizando sobre a pressa, a existência e a vida, através do relato de estudiosos, cientistas políticos, escritores, cineastas e filósofos entrevistados pela realizadora.
Em meio aos depoimentos que são levados pelo estilo despojado da edição, se chega a conclusão de que o relógio mecânico teria um caráter de maior importância do que o fogo e demais invenções que estão no cotidiano do sujeito comum, já que a cronologia é um conceito que vem desde a época dos impérios babilônicos, estabelecendo um paradigma universal e indiscutível, mesmo diante de culturas tão distintas entre si.
Há um comentário inteligente, apesar de bastante óbvio, sobre a dispersão do homem moderno, diante da tecnologia e das interações básicas, em especial via redes sociais. É curioso que tal mensagem seja transmitida também por uma tela, cujo ecrã é bem maior, ainda que a interação com a sétima arte tenha uma intenção muito mais pessoal. A questão da evasão de informação e da super exposição de identidade e personalidade também é execrada, ainda que em níveis amenos, já que o plano do roteiro é sugerir os temas para que o público chegue às suas próprias conclusões.
O aprendizado também é tratado de modo esperto, já que se estabelece o quão rasa pode ser a transmissão de conteúdo e o quanto o avanço tecnológico inverte as relações familiares, bem como o sistema de valores e até a discussão sobre ética e moral, obrigando o homem a sair de sua morosidade, ainda que essa atitude não necessariamente ocorra com o homem ordinário.
As partes faladas em off soam um pouco enfadonhas, e até pretensiosas em alguns pontos, já que usam do lirismo para reverberar o montante de informação apresentado durantes os 76 minutos de duração. O conteúdo do filme é lúdico e analítico sobre algo comum a discussão dos homens desde o início de sua existência, fator que faz valorizar seu objeto de análise, além de tornar universal sua abordagem.