Sieranevada mistura o modo clássico de contar histórias do cinema romeno, através da direção intervencionista de seu realizador Cristi Puiu com uma câmera intrusiva que se assemelha demais com o estilo de documentário fake conhecido por mockumentary. A história segue o dia de Larry (Mimi Branescu) um homem comum, de baixo auto estima e riso fácil que se submete a praticamente todas as ordens externas dadas a si. A trama toda se passa no dia do sepultamento de seu pai em uma tarde em que passará com a sua família.
A questão é que ao chegar na casa de seus parentes, a família é mostrada em uma formação de loucos, com homens e mulheres tendo discussões ferrenhas a respeito de política, religião, militarismo e teorias da conspiração. O conjunto de personagens é diverso, tendo desde uma senhora idosa e marxista, que é esposa de um sujeito falador e inconveniente, que gosta de alfinetar os parentes por causa do conservadorismo que supostamente todos vivem, até um parente mais jovem que acredita em toda sorte de manipulação por parte dos Estados Unidos nos atentados ocorridos pelo mundo.
O fato do drama ocorrer três dias após o ataque terrorista ao semanário de Charlie Hebdo faz acirrar ainda mais os ânimos, causando discussões homéricas, normalmente acompanhadas pelo riso franco de Larry, fator que faz o próprio público rir junto. O atraso do padre dá espaço a trama de quase três horas propicia uma série de entreveros moderados entre os parentes, onde tudo ocorre num espaço curto de tempo e em um espaço físico ainda menor.
Próximo ao final, o ritmo cai e a comicidade idem, com um enfoque desnecessário em um personagem mal urdido e mal interpretado. Ainda assim, esta face da discussão matrimonial serve de exemplo para Larry, do que não seguir sendo um alerta para seu próprio cotidiano. Sieranevada tem altos e baixos durante sua longa exibição, mas acaba sendo um bom registro sobre a intimidade e identidade do homem comum de seu país e sobre a diversidade de pensamento de uma sociedade com a civilização já solidificada.