Baseado no imaginário popular ligado ao extremismo religioso judaico, Tikkun é o novo longa-metragem de Avishai Sivan, centrado em Haim Aaron (Aharon Traitel), um jovem versado nos ditames litúrgicos, cujo caráter ainda está em formação, inclusive no que tange suas certezas de crença.
O drama gira em torna das dúvidas do personagem principal e suas dificuldade de viver no ambiente ortodoxo que compreende seu lugar comum. Aaron orbita a força de seu pai, mas jamais se sente pertencente a mesma atmosfera de conhecimento e empatia dos seus. Os preceitos repetidos a si e aos seus irmãos mais moços o coíbem em seus desejos mais íntimos, manifestados em tela através da repressão de sua sexualidade nunca plenamente alcançada.
O estudo da psiquê de Aaron passa essencialmente pela dificuldade que o mesmo tem em dar vazão ou expressar minimamente sua libido. Todas as sua tentativas fracassam, e os artifícios visuais para demonstrar esses reveses não poderiam ser melhor escolhidos. A urdição de Sivan em exibir visualmente a problemática de seu caracter é absurda, com cenas que em uma primeira visualização, parecem sem sentido, mas que são carregadas de simbolismo e alegorias ocultas, especialmente ao retrocesso intelectual a que se atribui o extremismo religioso. Outro fator interessante no roteiro de Sivan, é a condição hereditária, uma vez que o patriarca (Khalifa Natour ) vez por outra, também tem momentos de epifania, provando que os “demônios” não assolam somente a mente “fraca” do incrédulo Haim.
A mensagem presente em Tikkun é reflexiva, associando de modo justo a castração mental e emocional a morte sanguinolento, expressando que a supressão da sexualidade denigre o humano, reduzindo-o a um espectro inanimado, descaracterizado de alegria, vida, ânimo ou vontades próprios. A crítica ao judaísmo não exagera na acidez, o que permite paralelos com tantas outras religiões e ideologias que tem na não discussão, o cerne de seu pensamento. A trajetória do herói falido não encontra redenção, edificação ou soluções tranquilas, ao contrário, carrega-se em uma ambiguidade representativa que não encontra eco nas suas atitudes e ideário normativos, tendo somente nessa representação um resquício de evolução de quadro.