Waiting For B. marca a estreia em longas metragens dos diretores Paulo Cesar Toledo e Abigail Spindel. O enfoque de ambos é nos aficionados por Beyoncé Knowles, que aguardam ansiosos pela apresentação da cantora. A condição financeiramente prejudicada deles os faz acampar por duas semanas próximo do local, a fim de conseguir um lugar à frente do palco.
O registro e observação se diferenciam do comum por mostrar pessoas fanáticas pelo trabalho da artista, sobrando muita descontração por parte dos fãs e claro ensaios mil para se adequar as coreografias da integrante de Destiny Childs. Há uma micro comunidade improvisada ali, que faz ter uma convivência forçada entre pessoas que não se conhecem mas que tem muito em comum, além da mesma paixão pela artista e a classe social, há também um forte caráter de discussão, tanto em relação aos preconceitos vigentes ainda no movimento LGBT, quanto da questão do embranquecimento da dita diva, que aos poucos, se distancia da tonalidade escura original de sua pela – aspecto esse destacado pelos próprios fãs.
É curioso notar que apesar de haver uma idolatria enorme a Beyoncé, não há uma adulação livre de senso crítico, ao contrario, os entrevistados tem noção do caráter inalcançável e até elitista da performancer, uma vez que ela não se permite relacionar de maneira íntima com seus fãs, sendo até chamada de recatada quando é comparada com sua contemporânea Rihanna, por exemplo. A escolha por não ignorar essa faceta engessada e careta da musa além de dar credibilidade ao filme gera dúvidas interessantes sobre os motivos que fazem o público LGBT normalmente abraçar uma personalidade tão afeita as classes mais favorecidas, que se vale do discurso popular para fazer sucesso e claro, capitalizar.
O documentário de debruça sobre assunto tabus, usando para isso as falas dos próprios personagens, sem necessidade de panfletar ou fazer um estudo aprofundado sobre os diversos temas sociais. Como o acampamento é próximo do estádio do Morumbi, é natural que durante a espera de dois meses hajam alguns jogos do São Paulo Futebol Clube, e para os que esperam há um receio em demonstrar sua sexualidade homo afetiva, receando qualquer violência via intolerância.
As partes que evidenciam o desespero por estar perto do ídolo são secundários e desinteressantes, quase um despiste para apresentar as histórias de pessoas que conseguiram encontrar sua identidade sexual por meio do exploitation ligado a dança e a cantoria da personagem em si. O intuito é exemplificar essa cultura, tanto que a figura central do show não é apresentada pela câmera e suas músicas só tocam por meio de versões curiosas, nunca os arranjos originais. Nesse ponto, Waiting For B é pleno em qualidade e apresenta uma quadro comum mas ainda assim necessário de se retratar.