O ofício do jornalista televisivo, especialmente daquele que entra ao ar em tempo real, envolve uma série de contratempos possíveis, como ações inesperadas da natureza, atitudes de populares e confusão com palavras ou sentenças capciosas. O início do filme de Steven Brill, Walk of Shame mostra exatamente isto com uma sequência de trapalhadas de comunicólogos, âncoras, repórteres e comentaristas, como a protagonista Meghan Milles (Elizabeth Banks), cuja ambição inclui apresentar o KZLA, principal informativo do canal 6, onde trabalha.
Em meio à subida na carreira que tanto tenciona, a protagonista é abandonada pelo namorado, algo que até então não foi mostrado ou construído, mas que abala muito o bem estar da moça. Paralelo a isso, há a sua recusa para a vaga de apresentadora. Motivada por suas amigas mais próxima, vai para uma balada e lá se enfia numa ode ao álcool e à boêmia. Sua jornada é estranha, até encontrar Gordon (Jamers Marsden), um galante bartender e escritor que a leva para a casa dele, uma vez que ela está ébria demais para dirigir.
A altura dos dezenove minutos de fita, uma reviravolta ocorre, e a moça eleita para o jornal é afastada por motivos de polêmica sexual, uma vez que fotos íntimas da moça vazaram. Isso faz com que Megan seja a escolha regular para o trabalho, já que não se meteu em sarilhos semelhantes. Para atender à ordem de seu empresário, decide ir embora, e a partir daí começa uma longa cruzada pela cidade que envolve uma série de confusões, quase sempre estabelecendo uma indefinição entre o seu emprego e serviços de prostituição – talvez a sacada mais engraçada do roteiro.
Depois de se enfiar em situações das mais loucas com traficantes do “gueto”, ela tem de recorrer ao seu temido ex-noivo para tentar sair daquela situação, mas como já era esperado, ele não a ajuda. Ela vivencia muitas das coisas comuns à vida dos que vivem à margem da sociedade, assim como aprende um pouco o modo de operar das gangues comerciantes de crack. O desfile que ela faz vestindo um Marc Jacobs de cor amarela – um refinado vestido, segundo um dos personagens – só grafa ainda mais a maluquice que é a sua odisseia.
A experiência de Steven Brill com comédias (A Herança de Mister Deeds e Meu Nome é Taylor) não o resguardou de erros primários, como o de estabelecer as possibilidades humorísticas em avatares não confiáveis, a começar pela atriz principal. Elizabeth Banks é bonita, mas nunca foi capaz de segurar sozinha a jocosidade de seus filmes. Quando acompanhada de profissionais mais experientes como Seth Rogen, Paul Rudd ou Steve Carell, funcionava, sendo na maioria das vezes escada para os comediantes. Outro fator fraco é o excesso de piadas baseadas em sotaques de estrangeiros e de grupos minoritários.
A comicidade das situações dificilmente alcança o espectador, especialmente aquele (mal) acostumado aos longas de Judd Apatow e Kevin Smith nos quais Banks brilhou antes. A tentativa de transformar o comunicador da notícia na notícia em si – uma vez que a “moça de vestido amarelo” vira um evento – poderia ser um artifício interessante, mas a premissa não se concretiza como algo realmente válido. Pouco antes do final, a moça que não conseguia um dólar e meio para o ticket de ônibus tira um coelho da cartola, arrumando um helicóptero em meio à hora do rush, numa manobra deus Ex Machina. Ela chega ao ponto em que opera o milagre do quarto poder estadunidense unicamente para contestar a principal história e passar à audiência uma mensagem edificante, que acaba gerando a possibilidade de mergulhar no jornalismo investigativo, em um reality show. Mas tudo isso é posto de lado em nome do novo casal que surge ao horizonte, mas que não convence em momento algum, visto que não há qualquer química entre o casal. A Minha Casa Caiu entrega uma comédia de erros previsível: não ofende o público, porém causa pouquíssimo alento.