Aos 91 anos de idade, sai de cena a tradutora, ensaísta e crítica Bárbara Heliodora, no Rio de Janeiro.
Considerada uma das maiores críticas de teatro do país, Heliodora veio de uma época em que a dramaturgia nos palcos era grande destaque na produção cultural brasileira, e a função do crítico também formava a opinião pública. Rigorosa, era tida como severa e não poupava comentários quando não gostava de uma peça apresentada, um papel que a fez amada pela sua rica análise e temida pelo dramaturgos por seu critério, fator que gerou inimigos intelectuais.
Em 2014, encerrou sua carreira crítica após 28 anos escrevendo para o jornal O Globo. Dedicaria tempo integral a traduções de clássicos da literatura. Clássicos que sempre foram representados com extrema competência e qualidade por seu trabalho.
O amor pela obra de William Shakespeare talvez seja o maior reconhecimento de seu nome através de edições que até hoje publicam sua tradução. Figurando na lista de grande estudiosos do Bardo, Heliodora devotava o amor pelo dramaturgo em traduções definitivas que versavam para nossa língua a composição rítmica e o linguajar apurado do escritor. Através de sua tradução, a obra de Shakespeare foi difundida em palcos na voz de diversos atores famosos ou amadores. Foi além das traduções de suas peças mais famosas, muitas delas lançadas em português pela primeira vez no país e, ainda hoje, como única tradução existente. Sempre analisava as obras situando críticos anteriores e mantendo sua voz própria, demonstrando domínio e conhecimento sobre dramaturgia.
Recentemente, lançou o livro Caminhos do Teatro Ocidental, uma análise da história do teatro de sua época como professora. Sua análise também observou obras do dramaturgo Martins Pena, o qual considerava esquecido pelo Brasil, e destacava o Teatro Elisabetano com ênfase em Shakespeare.
Seu legado se mantém vivo graças à imortalidade do verbo e à potência de suas palavras críticas e bem selecionadas em traduções definitivas. De alguma maneira metafísica, Heliodora encontra-se hoje com o autor ao qual teve maior devoção, despedindo-se também da brevidade da vida.
Sempre presente em suas obras, a morte era um tema recorrente das tragédias shakespearianas. Encerrado o último ato, observando as cortinas fechadas, ecoando as palavras de Macbeth escritas séculos atrás pelo Bardo e traduzidas por sua pena:
A vida é só uma sombra: um mau ator
Que grita e se debate pelo palco,
Depois é esquecido