O lançamento de uma produção cinematográfica baseada em um romance literário sempre amplifica o interesse do público em relação a obra original e, naturalmente, o mercado editorial acompanha a demanda lançando novas e antigas traduções para a escolha do público.
A obra de F. Scott Fitzgerald entrou há dois anos em domínio público. Facilitando o lançamento as diversas edições diferentes no país já que não há necessidade de exclusividade e de se pagar pela obra original.
A gama de publicações deixa a escolha mais difícil, ainda mais se refletirmos quais critérios utilizaremos para selecionar uma edição para a leitura. Preço? Bom acabamento? Tradução? Ciente dessas dúvidas, comparei cada edição disponível no país para venda com a esperança de que isso ajude alguns leitores a escolher qual exemplar comprar.
Desde já todas as diversas traduções e edições devem ser consideradas. Mas às vezes um pequeno diferencial é definitivo para levarmos o livro para casa ou deixá-lo na prateleira da livraria. Assim, comento brevemente cada edição tentando ao máximo expor detalhes positivos e negativos da edição como um todo, seja tradução, ou o livro físico em si, como objeto.
A pesquisa foi realizada com o apoio das informações levantadas pela tradutora Denise Bottmann, críticas e referências de outros blogs e outras consultas realizadas no site de uma livraria virtual.
O Grande Gatsby foi lançado no país em 1962 pela Civilização Brasileira. Brenno Silveira assina a primeira tradução que, ainda hoje, é referência por sua qualidade. Silveira é um dos grandes tradutores do país, com Edgar Allan Poe, Nabokov em seu currículo e um estudioso que já publicou um livro teórico sobre o difícil trabalho de produzir uma versão em outra língua de uma obra.
É a tradução mais reeditada no país e foi com ela que conheci a narrativa de Fitzgerald. O livro foi o quinto volume da Biblioteca da Folha lançada em 2003 e ainda hoje, devido ao grande número de exemplares impressos, encontra-se disponível a um preço barato em diversos sebos.
A edição mais antiga em catálogo foi lançada pela Record, primeiro em edição normal, depois, em 2007 em formato de bolso pela BestBolso. Durante este tempo, em 2005, a L&PM lançou uma versão de William Lagos que permaneceu fora de catálogo desde então para retornar ano passado em edição com capa semelhante aos lançamentos das outras obras do autor.
Tanto L&PM quanto BestBolso seguem o tradicional padrão de seus lançamentos. A primeira possui o livro mais em conta do mercado e possui outros romances do autor em seu catálogo, todos tendo em comum as capas retiradas de belas pinturas de Tamara de Lempicka. Há uma edição com a capa do filme, porém, em contato com a Editora nos foi informado que ambas as capas estarão disponíveis.
A BestBolso, com tradução de Roberto Muggiati, apresenta uma capa estilizada, semelhante com a que seria lançada anos depois pela Penguin / Companhia. O ponto negativo da edição, que também possui preço convidativo, é a capa mole que amassa rapidamente e não dá sustentação para o livro.
As duas edições concorreram entre si até 2007, quando a Penguin / Companhia das Letras, em tradução de Vanessa Barbara, lançou nova edição. Seguindo o clássico formato Penguin com uma imagem e uma tarja preta informando nome e autor. Por ser uma edição de bolso – em tese, já que o preço não é módico – não há orelhas, apenas a capa de frente e verso, mais resistentes que as da BestBolso mas não ideais para que o livro não se danifique rapidamente. No Blog da editora há bons textos da tradutora a respeito da execução de seu trabalho, que poderiam ser incluídos na edição.
Com o lançamento do livro, lançam-se mais quatro novas traduções, todas buscando um diferencial extra que seja convidativo para o leitor.
A Leya é a única que não se aproveita explicitamente do filme. Produzindo uma capa que aposta no conceito estético da década de vinte mas que exagera no requinte, deixando-a um pouco poluída ou brega demais. A tradução é de Alice Klesck.
O blog Monte de Leituras, de Alfredo Monte comenta as diferentes novas traduções e considera que a tradução de Klesck produz deslizes desnecessários.
[…] quando não peca por destruir a beleza do estilo fitzgeraldiano, pleno de ressonâncias e reminiscências (ainda mais no seu auge), peca por dificultar a compreensão de certos trechos. Por exemplo, no final do capítulo 8 (quando Gatsby espera uma mensagem de sua amada Daisy): “Ninguém telefonou, mas o mordomo ficou sem dormir, esperando uma ligação até as quatro da tarde—até bem depois de haver alguém para quem pudesse transmitir caso ligassem”!!!!????
[…]
No original se lê: “No telephone message arrived, but the butler went without his sleep and waited for it until four o´clock—until long after there was any one to give it to if it came”. E na tradicional tradução de Brenno Silveira: “Não houve qualquer recado telefônico, mas o mordomo ficou sem dormir, até as quatro horas, à espera de algum chamado—até muito depois da hora em que qualquer pessoa poderia transmiti-lo, se alguém telefonasse”.
O trecho citado por Monte explícita a importância de uma boa tradução na leitura de uma obra. Tornando-se uma dica sempre procurarem a respeito dos tradutores ou da tradução quando encontrarem obras em edições diferentes. Percebam o quanto uma mesma frase leva o leitor para caminhos diferentes. O original não possui uma cadência truncada como na tradução de Klesch, muito bem versada por Silveira. São nesses pequenos pontos que uma boa tradução se torna muito mais atraente.
As três seguintes edições utilizam-se da mesma capa licenciada do filme. Não achei necessário reproduzir as três.
A Landmark segue com a linha de lançamentos bilíngues apresentando a obra original depois da tradução realizada por Vera Camargo Silva Guanieri. São 234 páginas com as duas versões do romance, o que deixou as letras um tanto miúdas, podendo afastar alguns leitores apesar da capa dura com sobrecapa, ambas com a imagem do filme.
A Tordesilhas, com tradução de Cristina Copertino – que também traduziu para o selo O Último Homem Bom – tem como chamariz o prefácio do livro escrito em 1934 pelo autor, demonstrando a lucidez de Fitzgerald em relação a sua obra.
O selo Tordesilhas tem sido uma interessante editora com lançamentos diferenciados que sempre prezam pelo quesito técnico e pelo bom acabamento de suas edições. Levando em conta este histórico, é a provável melhor nova tradução.
A única edição que não tive em mãos foi a da Geração Editorial que também repete a capa do filme. Notícias informaram que Clara Averbuck realizaria a tradução mas, após atraso, o texto foi passado para Humberto Guedes. Acontece que Guedes é heterônimo de Wlliam Lagos que produziu nova tradução para esta editora assinando com nome diferente. No blog de Rachel Cozer afirmou que tentou ao máximo produzir uma tradução diferente, mantendo-se no limite aceitável de sinônimos que não traísse a obra original de Fitz. Além do romance há um texto de Ruy Castro.
No total, são sete traduções disponíveis no mercado. A pluralidade de versões sempre é interessante, até mesmo para quem deseja compará-las. Porém, a evidente estratégia mercadológica parece disfuncional quando há muitos outros grandes livros que carecem de ao menos uma tradução nova.
De qualquer maneira, as opções estão a escolha do leitor. Quem não se importa com livros usados, a edição da Coleção Folha é a melhor em custo / benefício pela tradução clássica e competente. Aos que preferem o livro novo, a L&PM vence pela também boa tradução de Lagos e por ter outras obras do autor em catálogo.
Das novas edições, se o trecho apontado anteriormente for um padrão na tradução da Editora Leya, melhor não escolhe-la. Já tive o desprazer de ler traduções mal elaboradas e somente gostar de um livro em uma segunda leitura em boa tradução.
A Landmark pode compensar para quem deseja pagar um bom preço na tradução e no original. Mas fiquem atentos as letras menores que as habituais e ao fato de que muitos livros importados tem preço bem barato no país, ainda mais clássicos.
A Tordesilhas parece a escolha mais acertada por apresentar um prefácio do próprio autor. Mesmo em poucas palavras, normalmente, tais textos são excelentes para compreender melhor os escritores por trás das narrativas.
Para não ficar de fora, destaco uma edição internacional lançada pela Penguin. No exterior, a editora dedica-se a produzir coleções exclusivas com a obra completa de diversos autores. O relançamento da obra de Fitz ganhou edição de luxo em capa dura e sobre capa com padronização em art-deco que também rementem à década de vinte, como a da editora Leya, mas sem cair no exagero.
Com as diversas opções, mesmo que a próxima frase seja uma dessas afirmações de senso comum, o leitor só não pode ficar sem ler o romance. É considerado um dos grandes da literatura e, particularmente, um dos meus preferidos também.