Novos amores sob o sol
Não há nada novo sob o sol, desde o Eclesiastes somos advertidos sobre isso. E na Literatura, como não podia ser diferente, o que por vezes divide os bons dos maus escritores é a forma como abordam temas visitados por outros. E qual dos assuntos não seria o mais revisitado de todos os tempos que o amor?
André Salviano estreia na Literatura com Amoridades (Editora Rubra), livro de contos que, desde o título, agrega facetas caleidoscópicas sobre o amor e os relacionamentos que por ele nascem ou se sustentam. Uma empreitada ousada por si só, pois o risco de atacar um tema dos mais reutilizados é cair na mesmice, nos lugares comuns ou na própria insuficiência literária. Felizmente aos leitores, “Amoridades” é autossustentável.
O livro utiliza uma parcimoniosa metalinguagem para referenciar o tema (muitas vezes em deleitosa prosa poética), e em seguida investe em poderosas singularidades cotidianas que exemplificam o amor realista, aquele ainda idealizado, fonte de felicidade plena, mas que é alvo de intervenções do séc. XXI. Dessa forma, podemos compreender que a grande discussão que o autor propõe a seus leitores ao longo dos seus trinta e três contos é sobre o amor frente ao quimérico tempo atual.
Os contos são divididos em cinco varais. Cada um deles é uma espécie de pensamento que funciona como um mote para os contos a seguir. Dentro de cada varal, o amor está disperso em ausências, silêncios, tesão, sexo, companheirismo, anseios, ilusões (o leitor decide se boas ou más), romantismo e esperança. Há, portanto, um entendimento sobre o caráter múltiplo do sentimento pleno e os desdobramentos bons e ruins que isso acarreta. Em contos distintos, destaque para o uso da prosa poética pelo autor; algumas frases nos capturam pelo novo, pela poeticidade escondida ou pelos referenciais literários (como as conjugações criadas a partir de autores, “drummondeando” e “clariceando”, por exemplo).
As referências ao Rio de Janeiro compõem o ambiente literário de André Salviano, mas isso não quer dizer que este seja um livro bairrista. O sábio conselho de Tóstoi diz que para ser universal, primeiro o autor deve falar de sua aldeia. “Amoridades” é isso: deita-se sobre o universal a partir da cena carioca (esta tão bem conhecida e frequentada pelo autor). Por fim, destaco o trabalho feito pela editora Rubra, a edição está muito bonita, bem organizada, sem erros e dialoga muito bem com os contos do autor. Livro mais do que recomendado.
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Texto de autoria de José Fontenele.
Compre: Amoridades – André Salviano.