Interferências (Suma das Letras), de Connie Willis é um extenso romance new adult com toques de ficção científica que não tem movimento ou evolução. A promessa de jornada de autoconhecimento para a personagem principal – Briddley – não se concretiza e o resultado é uma trama que dá inúmeras voltas ao redor de si, sempre tentando justificar suas 463 páginas, mas sem qualquer sucesso. Exercício para um escritor que leia esse livro: transforme em um conto.
A história é simples: Bridley é uma executiva da Commspam, uma empresa de tecnologia que tem como principal concorrente a Apple. O namorado dela, também funcionário da empresa, pede-a em noivado e, para oficializar a união, ele sugere que façam um EED como prova de amor. O EED é um procedimento cirúrgico que conecta as duas mentes e faz com que compartilhem emoções entre ambos. No universo da história, esse procedimento é feito por alguns casais, mas nem todas as pessoas aprovam a cirurgia por conta de possíveis danos no cérebro. Ademais, há uma ideia de que não é necessária uma cirurgia tão invasiva para demonstrar o sentimento um pelo outro.
Parte do conflito da história é de Bridley com a família irlandesa. Eles não aprovam a cirurgia e ela sequer contou aos familiares sobre o noivado ou a insistência do namorado para que façam o EED. Mesmo assim, ela resolve aceitar o procedimento. O outro conflito é o que acontece após a cirurgia. Bridley não se conecta com o noivo, mas com outro rapaz a quilômetros de distância, também funcionário da Commspam, que ela considera meramente um amigo geek. Se vocês conseguiram entender o meu gancho, já entenderam o livro.
A história demora. É apenas após a página 60 que começamos a entender o conflito principal. Antes, diálogos e mais diálogos sem nada significante. A personagem vital se mostra passiva na maior parte das vezes e, quando confrontada, recua, fica rememorando suas mazelas e não se movimenta. Ela é sempre levada pelos outros e a promessa de uma protagonista feminina ativa cai por terra. Aliás, a passividade da personagem dá o tom de marasmo da narrativa. Longos diálogos, centenas de travessões sem qualquer vivacidade, é como se lêssemos uma xerox sem vida da realidade.
Personagens nada cativantes (o único vivo me parecia ser a avó da personagem principal), uma história de amor que não passa de uma paixonite de conveniência, e uma jornada de autoconhecimento que acrescenta pouco ao final. Decepcionante, eu diria. Connie Willis tem outros livros melhor cotados que este e, se o propósito era apenas marcar um lugar na categoria new adult, temos um lugar mal ocupado. Não recomendo.
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Texto de autoria de José Fontenele.
Compre? Interferências – Connie Willis.