Manifestações de Junho de 2013 no Brasil e Praças dos Indignados no Mundo é o pequeno livro da Editora Vozes, escrito por Maria da Glória Gohn, doutora em Ciência Política, que dá voz ao movimento em doze capitais brasileiras, com insurgências populares que começaram graças ao aumento súbito do preço da passagem do transporte público na maioria das praças brasileiras.
Gohn chama os manifestantes de “indignados”, mostrando essas pessoas abraçando questões mais populares, ainda que também exista um foco em questões ligadas a classe média. As fases bem distintas das manifestações também têm uma boa explanação e exemplificação. Entre os atos pacíficos e a ação dos Black Blocks, o livro elenca as três conquistas que o historiador Perry Anderson afirmava: o despertar político dos jovens, a compreensão do empoderamento social no recuo ao aumento das tarifas (rapidamente revertido e piorado logo depois) e o levantamento da questão da distribuição escandalosamente distorcida das despesas públicas no Brasil.
Essas conclusões envelheceram mal na maioria dos casos. A política está na boca do povo, mas se fundamenta em situações problemáticas, como mentiras em épocas de eleição ou decorrentes delas. Claro que esses eventos não poderiam ser previstos na realização deste livro, mas também é impossível não associar uma coisa a outra. Dito isto, é difícil lê-lo e não achar que a leitura daquele momento foi ingênua, ainda que julgar hoje já sabendo o uso que movimentos direitistas desonestos fizeram da revolta popular seja um esforço fútil e desonesto.
O livro tem duas partes, sendo a primeira Manifestação dos Indignados no Brasil: antes, durante e depois de junho de 2013, e a segunda de outros manifestos pelo mundo, em praças da Europa e Ásia e EUA. Da parte inicial, há uma breve explanação das tentativas do governo federal em dialogar com as demandas das manifestações, mas não há tanto detalhamento sobre os problemas dos governos estaduais, que em sua maioria, tratava as pautas com desdém.
O perfil do Movimento Passe Livre ou MPL é bem detalhado. O grupo já agia em protestos na época da gestão de Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo e sua jornada é ainda melhor explorada no livro 20 Centavos: A Luta Contra o Aumento. Por outro lado, por mais que gaste um tempo considerável falando das óbvias fragilidades dos movimentos e como as manifestações, a visão sobre eles é bastante positiva, e nisso, o estudo serve de bom contraponto à tese simplista de que as manifestações de 2013 deram origem a queda de Dilma Rousseff e mais tarde, na eleição de Jair Bolsonaro em 2018.
O trecho destinado aos manifestos mundiais e suas praças se debruça sobre a Primavera Árabe, voltado as manifestações na Praça Tahrir no Egito, que tinham em comum o fato de serem marcadas via redes sociais. A autora não é simplista, destaca que a queda do ex-presidente do Egito Hosni Mubarak foi fruto dos protestos dos jovens, mas ainda de maneira coadjuvante, com muita ação da Irmandade Muçulmana. Na Europa, se fala da Praça Syntagma em Atenas, de Puerta Del Son em Madri, além de Willy Brandt Platz (Frankfurt) e Praça Taksim (Istambul). A escritora visitou esses lugares e detalhou as reclamações sobre o arrocho econômico em alguns desses pontos – sobretudo na Grécia.
Por fim, sobre o Occupy Wall Street fala-se brevemente a respeito dos apoios de famosos, como o diretor de cinema Michael Moore, além de citar que uma das pautas era a taxação de grandes fortunas e outros impostos sobre os mais abastados, mas nisso a autora é bastante breve e superficial. Manifestações de Junho de 2013 no Brasil e Praças dos Indignados no Mundo é uma boa introdução para quem não sabe praticamente nada sobre os protestos de 2013, já que não apresenta quase nada novo, exceção aos bons resumos dos movimentos internacionais, mas que no fim, não passam disso, resumos bem escritos.
Compre: Manifestações de Junho de 2013 no Brasil – Maria da Glória Gohn.