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  • Crítica | Jovens Adultos

    Crítica | Jovens Adultos

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    A comprovação do talento de Jason Reitman, ou uma fortuita sorte, se deve ao fato de que seus três primeiros filmes – únicos, até então – são excelentes longas metragens. Histórias que mesmo em retratos diferentes equilibravam-se no drama cotidiano.

    Em seu quarto filme da carreira, Jovens Adultos, Reitman retrata a problemática de adultos que, mesmo em uma idade madura, não saíram da fase adolescente. Seja pela negação de responsabilidades ou pela incapacidade de assumir sua maturidade.

    Mavis Gary é uma escritora de uma série de livros para adolescentes frustrada com sua própria vida. Ao receber um convite em comemoração ao nascimento do filho de um ex-namorado, decide retornar a cidade onde foi criada com o intuito de tentar reconquistar seu grande amor do colegial.

    Reitman sempre dedicou seu olhar a personagens imperfeitas de alguma maneira. O vendedor de cigarros que não se importa com as perdas humanas de seu trabalho, a adolescente que engravida sem a verdadeira percepção do fato, o homem que se sente confortável somente em aviões. Dentro das personagens aquebrantadas trazia a tona um elemento humano primordial que identificava o público.

    A concepção infantil de Mavis chega a afastar de assustadora. Retira um elemento carismático de personagens anteriores pois explicita a frivolidade. Causa desconforto e não gera uma reflexão mais profunda como, até então, trabalhava o diretor, pois não há razão para o vazio da personagem além da negação de seu próprio fracasso.

    Ao retornar a um instante anterior de sua própria vida, a escritora aos poucos percebe sua anacronia. Mas a composição de tal sentimento soa tão em descompasso que sua história chega ao fim sem identificar de fato sua mensagem. Se é que há uma.

    Talvez desejando que dentro e fora de sua história existisse um vazio, a roteirista Diablo Cody – em seu quarto roteiro de longa metragem – tenha falhado na mensagem. A sensação é de que o material bruto continha uma história com mais força daquela que foi contada. Mas que não deixa de destacar o talento que, além de Reitman, a roteirista tem em explorar singularidades que abalam a todos.

  • Crítica | O Impossível

    Crítica | O Impossível

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    Ler que um filme é baseado em fatos reais em sua introdução sempre é um diferencial para o espectador na forma como ele enxerga a história ao longo da projeção. O Impossível, dirigido por Juan Antonio Bayona, vai contar o drama do casal espanhol María Belón e Enríque Alvarez – que no filme são interpretados como um casal inglês – que sobreviveram, junto de seus três filhos pequenos, ao tsunami que devastou a Ásia em 26 de dezembro de 2004.

    Filmes que contam histórias de catástrofe geralmente seguem um padrão de quererem explorar as calamidades em si. O diferencial de “O Impossível” é tratar mais proximamente das consequências do tsunami e, principalmente, das emoções passadas pelas vítimas. Isso por si só traz uma carga dramática mais expressiva à narrativa – e em nenhum momento de maneira forçada -, tendo em vista que o espectador vai basicamente acompanhar os protagonistas a superar seus limites físicos e emocionais, buscando pelos seus entes queridos e por salvação em meio ao caos e a destruição deixada pela natureza. Ao longo da trama somos apresentados a dramas de personagens secundários, que ajudam a imergir ainda mais o sentimento deixado pela catástrofe.

    Ewan McGregor e Naomi Watts são os grandes destaques do filme, interpretando o casal protagonista. Ambos demonstram uma atuação excelente ao passar a intensidade dos sentimentos vividos pelos personagens no contexto. O Impossível se demonstra um excelente drama e que garante emocionar a maior parte do público.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • Crítica | Batman: Ano Um

    Crítica | Batman: Ano Um

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    A DC Animated Universe tem realizado um bom trabalho em animações direcionadas para o home vídeo. Realizam com consciência as adaptações de suas tramas e sempre optam por histórias fechadas que funcionem de maneira a entregar um bom filme sem que o espectador tenha que ser leitor das revistas em quadrinhos.

    Recentemente, a editora tem investido em histórias clássicas, definidoras dentro do universo da personagem. A ideia é positiva, porém um tanto perigosa. Conhecemos tais histórias clássicas pela composição de narrativa e desenho. Uma adaptação pode ser um risco se muda os traços da história ou tenta amenizar o texto original.

    Em Batman: Ano Um os traços de David Mazzucchelli e cores de Richmond Lewis são emulados para que a adaptação tenha semelhanças com a versão original. A composição escura e um tanto assustadora se perde por causa da formatação. Há cenas retiradas com perfeição do gibi, outras estilizadas em exagero, resultando em um pequeno desequilíbrio.

    Mesmo com a pouca metragem, o ritmo não é tão frenético quanto no original, que abrange um longo espaço de tempo em cenas curtas, apresentando a evolução de Batman em sua jornada inicial de herói e Gordon reconhecendo a corrupção de Gotham. A tentativa de não perder o formato criado por Frank Miller retira a pouca liberdade que a animação poderia ter, escondendo tanto o herói que a história mais parece apenas o ano um de Gordon, e não o ínicio da longeva parceria dos amigos.

    A transposição da história para as telas, como aconteceu com o também clássico O Cavaleiro das Trevas, tira parte de sua identidade e não consegue uma nova à altura. Os desenhos bem compostos, com estilo cinematográfico, são bonitos por si, mas parecem destoar do elemento original e não apresentar uma das melhores histórias do morcego à altura.

    Ouça nosso podcast sobre Batman: Ano Um.

  • Resenha | Grendel: Preto, Branco, & Vermelho

    Resenha | Grendel: Preto, Branco, & Vermelho

    Dizem que o conto é um dos, senão o mais desafiador, dos gêneros literários, por exigir do autor o talento para desenvolver toda uma estrutura narrativa (com começo, meio e fim) de modo conciso. Se for verdade, que a narrativa curta testa de modo definitivo o repertório especulativo do autor, Matt Wagner provou na minissérie Grendel – Preto, Branco, & Vermelho, esforço colaborativo vencedor do prêmio Eisner de Melhor Antologia, em que artistas de diferentes estirpes aliaram traços distintos a seu sempre afiado texto, ser um escritor de grande calibre.

    Abordando sob diferentes óticas o submundo nova-iorquino em que atua o jovem gênio do crime Hunter Rose, o primeiro a carregar o nome Grendel, numa reformulação que remonta às origens oitentistas do personagem, o roteirista, junto ao talentoso time de ilustradores, constrói um vil universo por meio de histórias não interligadas que têm apenas duas coisas em comum: o invariável equilíbrio entre as cores preto, branco e vermelho, e a quase cômica perversidade do protagonista.

    Baseado em um dos três antagonistas do poema épico Beowulf, Grendel é o maior dos vilões de mundo sem heróis, onde o sobrenatural e o urbano se cruzam. Às vezes reconhecido por terceiro como o chefe de um império do crime de proporções inimagináveis, outras tratado como uma lenda urbana ao estilo Batman, e mais comumente referido como o diabo em pessoa, o personagem é vilanesco em sua essência – fato que o leitor verifica ao acompanhar lapsos de sua infância, juventude e ascensão criminosa em histórias que vão desde o mais puro suspense com características noir (como A Marca do Diabo e O Advogado do Diabo, vencedora do prêmio Eisner de Melhor História Curta) até o horror psicológico (A Língua do Diabo; A Maldição do Diabo), passando pelo humor negro ortonesco (A Testemunha do Diabo; O Taco do Diabo) e a tragédia (Réquiem do Diabo e A Diva do Diabo).

    Retratando um assassino implacável, um manipulador cínico, o texto não apresenta nenhum traço de moralismo nas relações do carismático vilão com seus inimigos, aliados ou mesmo com sua sobrinha, único ser pelo qual nutri algo que se assemelha a afeto – desse modo, Hunter Rose, ou melhor, Grendel se torna querido pelo leitor de modo inusitado, único: através de sua maldade cativante.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.

  • Melhores filmes de 2012, por Pedro Lobato

    Melhores filmes de 2012, por Pedro Lobato

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    Eis que 2012 chegou ao seu fim e pudemos conferir uma série de lançamentos para todos os gostos e estilos. Na minha lista de TOP 10 2012 de hoje, gostaria de compartilhar com vocês quais, em minha opinião — portanto, ignorando a opinião da crítica especializada —, foram os melhores filmes lançados no Brasil no ano em que o prometido apocalipse deveria ter chegado, mas não rolou. Desse modo, como os maias se associaram ao clube do “vocês também estavam errados”, vamos à minha lista:

    10. Mercenários 2

    Seria injustiça da minha parte não colocar esta obra-prima dos filmes de ação neste top 10. Assim como no primeiro filme, Sylvester Stallone volta com sua equipe de brucutus para simplesmente explodir e atirar em qualquer coisa que se mova (ou não, se for considerar as inúmeras construções que são simplesmente destruídas). E como não gostar de ver Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis e, principalmente, Chuck Norris em ação? Mercenários é uma franquia divertida, que homenageia os clássicos filmes de ação dos anos 80/90 e que mostra que este tipo de filme ainda tem espaço no mercado cinematográfico atual. Mal posso esperar pelo terceiro filme desde já.

    9. Shame

    O filme dirigido por Steve McQueen nos apresenta um personagem obcecado por sexo (beirando um nível doentio), inserido em um mundo vazio, sem cores e sem sentido. O protagonista, interpretado por Michael Fassbender, domina este drama com uma atuação arrebatadora, enquadrando o ator como um dos mais promissores da atualidade. O fato de o diretor ter explorado tão bem os dramas psicológicos do protagonista e seu estado emocional vazio através de excelentes escolhas de planos de filmagens e capturando o melhor de Fassbender faz com que Shame seja um dos melhores filmes de 2012.

    8. As Aventuras de Tintin

    Sempre fui fã dos quadrinhos de Hergé e mais ainda da antiga animação. Juntos, ambos fizeram parte da minha infância de uma maneira muito boa. Quando vi o primeiro trailer da adaptação cinematográfica realizada por Steven Spielberg fiquei muito empolgado, e essa empolgação foi atendida de maneira muito satisfatória. Ver Tintin, o capitão Haddock, os inspetores Dupont e Dupond, além do cachorro Milu, foi uma experiência nostálgica e fantástica. Não apenas uma animação muito bem realizada, mas um filme de ação e aventura divertidíssimo.

    7. O Hobbit – Uma jornada inesperada

    Talvez um dos filmes mais esperados em 2012 e, mesmo sendo contra a decisão de Peter Jackson de fazer uma trilogia para o mesmo, fiquei extremamente satisfeito com a adaptação do meu livro favorito do J.R.R Tolkien. Temos uma atuação fantástica de Martin Freeman como Bilbo Bolseiro, embarcando em uma aventura épica junto de uma companhia de anões que querem tomar seu reino de volta de um temível dragão. A qualidade visual do filme é uma atração à parte, ainda mais ao se considerar a novidade trazida a nós por Jackson: o High Frame Rate (a filmagem a 48 frames por segundo). O HFR é excepcional e se mescla bem com a forma como a direção do filme foi conduzida, mostrando batalhas dinâmicas e muita empolgação.

    6. 13 Assassinos

    Takashi Miike é um ícone do cinema oriental. Conhecido principalmente por usar de violência gráfica extrema em seus filmes, em 13 Assassinos ele faz um remake de um filme clássico de samurais. Um filme marcado por diálogos ricos, atuações expressivas e uma violação bem feita. Influenciado fortemente por Akira Kurosawa, Takashi Miike consegue fazer um dos filmes de samurai mais significativos dos últimos anos.

    5. Vingadores

    A Marvel ao longo dos últimos anos foi produzindo filmes de seus heróis com o objetivo final de chegar no projeto Vingadores. Eu, particularmente, não coloquei muita fé no filme, pois acreditava ser impossível lidar com tantos heróis ao mesmo tempo. Minhas expectativas baixas foram colocadas por terra e o que vi foi um filme de super heróis de verdade, descontraído, com um humor bacana e ação frenética. Joss Whedon conseguiu fazer acontecer, dando destaque a todos os heróis de uma forma justa e mostrando que esse sonho era possível.

    4. Argo

    Se Michael Fassbender é um dos melhores atores, Ben Affleck tem se mostrado um dos melhores diretores atualmente. Affleck atinge um patamar acima em seu terceiro trabalho como diretor nos cinema em Argo. Explorando o conflito entre Irã e EUA no final dos anos 70, Affleck nos apresenta uma direção segura, criando uma tensão meticulosa no espectador e sem incorrer em um patriotismo gratuito, muito comum em filmes desse tipo. Até agora Ben Affleck tem acertado em todos os seus trabalhos como diretor, melhorando cada vez mais a qualidade de seu produto, portanto, o jeito é continuar torcendo para que ele continue com o bom trabalho.

    3. Indie Game: The Movie

    Por essa ninguém esperava, mas o terceiro lugar desta lista vai para este fantástico documentário que procurou mostrar um pouco de como funciona o universo dos jogos independentes. Focando principalmente em Edmund McMillen, Tommy Refenes (criadores de Super Meat Boy) e Phil Fish (criador de Fez), o documentário explora os diversos aspectos do processo produtivo e criativo de um jogo independente, que se aproxima mais de uma obra autoral, que reflete a personalidade, a história e os sentimentos de seus autores, em comparação ao mercado de jogos mainstream. Qualquer um que saiba o que é se dedicar a trabalhos artísticos (seja eles de qualquer natureza) vai se identificar com os entrevistados. Impossível não se emocionar, torcer e vibrar junto com os desenvolvedores ao saber que seu jogo virou um sucesso (mesmo sabendo que ele já tinha feito sucesso, antes de ver o filme). Com certeza um dos melhores e mais emocionantes documentários que vi em toda minha vida.

    2. Drive

    Aqui temos mais um ator que se mostra em destaque atualmente: Ryan Gosling. Um ator versátil e que faz um excelente trabalho neste filme, que é uma homenagem ao cinema clássico dos anos 80. Uma obra-prima envolvente e de qualidade é o que posso dizer a respeito deste filme. Interpretando o “driver”, Gosling consegue transmitir muitos sentimentos, mesmo falando apenas duas dúzias de palavras por toda a extensão do filme. Muitas vezes era apenas necessário visualizar seu olhar, iluminado pela iluminação das ruas de Los Angeles enquanto dirigia, para compreendermos um pouco mais dos sentimentos e aflições de um personagem de que sabemos tão pouco. Tanto o forte contraste utilizado nas filmagens e nas ambientações escolhidas quanto a trilha sonora retro-cult (contando principalmente com a participação de Kavinsky e College na contribuição desta ambientação) ajudam ainda mais no envolvimento com a trama e na especial relação com os filmes policiais da década de 80. O roteiro simples é compensado com sua execução muito bem realizada. Uma experiência que, por mais que olhe para o passado, apresenta muito de inovador e jovem. A combinação da direção de Refn com a atuação de Gosling é impecável e merece ser valorizada.

    1. Batman: The Dark Knight Rises

    Os marvecos que me perdoem, mas o terceiro filme da trilogia dirigida por Christopher Nolan foi algo grandioso e merece a primeira colocação dessa lista. De longe, de todos os filmes dessa lista — dos quais eu gostei bastante, cada um à sua maneira —, Batman TDKR foi o que me deixou mais empolgado. Eu vibrei como um fanboy das antigas assistindo ao filme, que possui uma história profunda, com referências históricas, críticas sociais e que se fecha muito bem nesta conclusão. Nolan mostrou ao mundo um novo modo de enxergar super heróis e foi esse seu maior mérito com sua trilogia do Batman.

    Enfim, esse foi o meu top 10. Espero que vocês tenham gostado de minhas escolhas. Deixem nos comentários o que vocês acham a respeito e o que acham que deveria estar aqui. Vamos esperar que 2013 nos agracie com filmes cada vez melhores.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • Top 10 – Melhores Games de 2012

    Top 10 – Melhores Games de 2012

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    Se no Top10 de Cinema, disse que foi um ótimo ano para o cinema, tanto autoral e principalmente Blockbuster, nos games não podemos dizer o mesmo para os grandes jogos Triple-A. Já nos independentes aí sim, tivemos obras primas.

    A primeira coisa, para a lista principal valem apenas os jogos lançados em 2012, em qualquer plataforma que seja. Portanto, não é possível jogar tudo, até pela disponibilidade de cada console, PC e etc. Outro ponto importante é, não gosto das séries Assassin’s Creed, tampouco Halo, sendo assim, aqui não estarão. Chega de firula e vamos à lista:

    10 – Torchlight II
    Se Diablo III foi uma grande decepção por vários motivos, Torchlight II, despretensiosamente cumpre o que promete. Nada sobre contar uma grande e boa história, nem de entregar o ultimato em gráficos. Mas sim, toda a ganância e violência de espadas e magias frenéticas de um bom Dungeon RPG randômico. O visual com boas melhoras do I para o II complementam a evolução de um jogo que não traz nada de novo. Mas tudo que se propõe a fazer, é muito bem executado. Talvez minha única crítica ao jogo, seja novamente quanto a longa duração da história principal.

    9 – X-COM: Enemy Unknown
    Sempre gostei dos antigos X-COM, e a franquia que há muito não recebia um lançamento, ganhou um sucessor à altura, com mais um exemplo de um gênero que precisava de uma sacudida e inovação que é a estratégia baseada em turnos. De todos os pontos do jogo, acho que o principal é o seu balanceamento e a “recompensa” que o jogo oferece para o jogador dedicado e interessado em fazer um bom gerenciamento de recursos.

    8 – Vessel
    Descobri Vessel através de algum dos Humble Indie Bundles, e que boa surpresa. Apesar de considerar a extensão do jogo alongada demais, os puzzles inspirados e desafiadores conseguem manter o jogador com vontade de continuar a jornada. O trabalho gráfico de Vessel também é ótimo, com um visual meio steampunk, faz um uso criativo da física de líquidos na construção da identidade visual. Outro ponto interessante é a inventividade do produtor, ao contornar problemas de falta de orçamento para contar a ótima história do jogo, o que em uma grande produção seria feito através de uma cut scene, ou coisa do tipo. Aqui incorpora elementos, como quadros, lousas, que ainda dão um toque a mais no produto final.

    7 –  I Am Alive
    Survival em geral, é um gênero que precisa de inovações, e I Am Alive traz um pouco disso ao gênero, colocando a procura pelos ínfimos recursos do jogo, junto a um interessante conceito da barra de stamina quase sempre no limite da sobrevivência, além do próprio uso de armas, muitas vezes num sentido intimidatório.

    O jogo tem algumas inconsistências de roteiro a meu ver, mas ainda assim, vale a pena pela tentativa de inovação, resultando num trabalho final interessante, mesmo que num jogo menor de um grande estúdio.

    6 – Counter-Strike: Global Offensive
    Em CS: GO, o que conta mesmo é o fator nostálgico. CS 1.5/1.6 vai sempre figurar entre os meus jogos favoritos. Por isso, Counter-Strike: Global Offensive acerta, justamente por resgatar um jogo tão clássico, sem mexer no cerne principal, que é a sua total simplicidade, deixando a cargo do jogador que ele decida até onde ele quer levar o jogo. O revival traz todos esses elementos, dando um respiro e vigor a série, além de trazer boas novas adições, como armas e novos modos de jogo.

    5 – Botanicula
    Adventure-point-and-click? Tô dentro, sempre. Apesar de Botanicula não poder ser considerado exatamente um adventure, e sim um jogo de exploração point-and-click, por seus puzzles, não serem exatamente brain-teasers, e focar mais na coleta de itens espalhados pelo mundo. Além disso, é claro que não é só o gênero que faz o jogo, e é na parte autoral e artística que está o brilho de Botanicula. Com cenários desenhados e belíssimos, trilha sonora que caminha perfeitamente na linha tênue entre o exótico e o irritante, compõe muito bem o clima. Além do bom trabalho de construção dos personagens, que não falam, mas que te ganham a simpatia logo no inicio da jogatina.

    4 – Superbrothers: Sword & Sworcery EP
    Numa primeira olhada, esse jogo parece mais um conceito, que pouco tem a oferecer a não ser o bom trabalho gráfico. Porém, ao avançar e deixar-se levar à imersão do jogo, qual não é a surpresa ao descobrirmos uma épica e intrigante aventura. Com uma mistura de elementos inusitados, Superbrothers: Sword & Sworcery EP se mostra um ótimo jogo, com trilha sonora fantástica e um visual retrô 8-bits da maneira que deve ser feito, usando elementos clássicos como inspiração, mas usando tudo que a tecnologia vigente nos permite, quanto a cores e nuances, dando ao jogo uma identidade quase mágica.

    3 – Journey
    “Jogo de Arte”, assim com o cinema de arte, é um novo termo. E usando essa nomenclatura que não gosto, mas admito que assim podemos defini-lo. Journey é tocante, envolvente e único, com uma trilha sonora absurdamente boa, e esmero visual incrível. Tudo isso me leva a dizer sem medo de errar, que Journey é o melhor exclusivo de PS3 de 2012.

    2 – Max Payne 3
    Max Payne 3, tem um problema sério de repetitividade e uma história mais longa do que deveria no gameplay principal. Ainda assim, a construção de um ótimo roteiro, todo baseado na própria auto-destruição de Max, fazendo isso como o fio condutor da história, somado ao primoroso trabalho gráfico, não só realista, mas como as câmeras e fotografia dignas de um bom diretor de cinema, fazem de Max Payne 3 esse jogão.

    1 – FEZ
    FEZ é um jogaço, Gomez, o personagem principal, é um dos personagens mais carismáticos dos últimos tempos. A jogabilidade é um absurdo de boa. O trabalho visual beira a perfeição, aliado a uma trilha sonora com um cuidado especial para compor toda a atmosfera do jogo. Com diversos mistérios criptográficos e o trabalho autoral latente feito em FEZ, já o colocaram na minha lista de melhores jogos de todos os tempos.

    0,5 – A decepção do ano – Diablo III
    Sério, já não tenho mais paciência nem vontade de falar de Diablo III. Os problemas são tantos que já me cansam só de pensar. Inclusive tem um texto gigante aqui no Vortex, justamente sobre isso: Os sete pecados da Blizzard. Vou me limitar apenas a relembrar do pior dos problemas, que é o “Cheat” pago, mais conhecido como Casa de Leilões, que numa atitude bem à moda Blizzard (Activision) de ser, limitou por completo o drop de bons itens durante o jogo, apenas para estimular as vendas por dinheiro de verdade, na maledicente Auction House. Ganhando um percentual de cada transação, agora a Blizzard tem um lucrinho extra, e pode bancar os servidores para todo mundo jogar online, mesmo que Single Player. Vá a merda Blizzard.

    Vamos às menções honrosas começando justamente por Assassin’s Creed 3, veja você. Eu, como já disse antes, não gosto da série, mas tenho que admitir, é um bom jogo. Dustforce, mais um independente irado, que vai arrancar o seu sangue. Castle Crashers, que não é de 2012, mas para PC foi lançado apenas esse ano. Shatter, mesma coisa de Castle Crashers. Por último Sleeping Dogs, que gerou uma grande expectativa para mim, justamente por ser um fã de Sandboxes, e na realidade é um jogo legal, mas nada além disso.

    É isso, chegamos ao fim de mais uma listinha mequetrefe. Deixe a sua lista aí nos comentários também, ou então concorde, discorde, fique à vontade.

  • Resenha | Garotas de Tóquio

    Resenha | Garotas de Tóquio

    Garotas de Tóquio é uma HQ erótica publicada em 2006 pela editora Conrad, que reúne sete breves histórias, escritas e desenhadas pelo mangaká francês Fréderic Boilet. A maioria publicado originalmente pela revista japonesa Manga Erotics.

    Nas histórias o leitor é colocado como voyeur daquelas situações e aventuras sexuais. Observando não só o sexo, mas também o exibicionismo do autor sobre seu processo de criação, ao nos mostrar como ele consegue as modelos, como ele as deixa no controle da situação, talvez até numa tentativa de poupar o seu esforço criativo para a hora de transpor o material fotografado ou filmado para o nanquim. Mas também aproveitando as fantasias das jovens, e a espontaneidade da interação, juntamente com a tão comum fixação do artista por suas musas inspiradoras.

    Existem boas diferenças na parte sexual de cada história, algumas mais explícitas, outras mais sutis, com poesia e sentimento, além de passagens apenas emocionais. Nesse ponto também é interessante notar o uso dos diálogos, pois dão o tom de intimidade entre os pares, quanto mais as pessoas falam entre si e se expressam verbalmente, menos intimidade e sentimento há entre elas e vice-versa.

    O ponto alto do álbum fica para a arte, com desenhos que mantém uma “linha mestra” do autor, mas que variam bem de estilo entre cada um dos contos. Alguns com muitas cores fortes e marcantes, outras com tons mais frios, predominando azul e cinza. Alguns com traços mais sutis e levez, outras com o traço mais fino e marcado, puxando o desenho para o realismo com cores mais claras e vivas.

    Envolvido ainda com a arte, há um aspecto interessante sobre as mulheres que servem de inspiração e populam as páginas, pois o autor não usa super gostosas com atributos perfeitos, saídas de algum reality show ou programa de humor de domingo a noite. Nada de peitões, bundas enormes em posições sexuais acrobáticas para incitar o erotismo. Mas sim, mulheres comuns, com imperfeições, sutilezas com uma pitada de timidez, em situações cotidianas como um passeio no parque ou uma conversa com a parceira na cama. Isso tudo torna não só as histórias, como também aquelas jovens, críveis, fazendo com que a carga de erotismo fique por conta do leitor. E não explícita pelo artista forçosamente.

    Garotas de Tóquio é uma boa escolha num gênero de HQ não muito difundido no Brasil, talvez a extensão do livro deixe um pouco a desejar, fazendo com que queiramos mais. Porém, o preço de R$ 9,00 é bastante acessível para um álbum no formato 21,5 x 27,5, com papel e impressão impecáveis, fazem valer a compra e a leitura.

  • Crítica | A Viagem

    Crítica | A Viagem

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    Após atravessarmos as quase infinitas e desnecessárias três horas de A Viagem — o título original é Cloud Atlas. Vai entender esses tradutores brasileiros… —, chegamos ao fim da jornada com um sorriso no rosto. Primeiro pelo alívio de o filme ter terminado. Depois, por realmente termos achado muito engraçado tudo aquilo que os irmãos Wachowski (Matrix) e Tom Tykwer (Corra, Lola, Corra) pretendiam nos apresentar como um estudo de grande profundidade filosófica.

    Pelo menos em tese, ‘A Viagem’ seria uma investigação sobre como os atos de cada pessoa influenciam a vida dos outros, seja no passado, presente ou futuro. Isso é mostrado ao público por meio de seis histórias interligadas que se passam entre 1849 a 2114.

    O conceito era interessante. Pena que ficaram só na intenção.

    A produção passa boa parte do tempo tentando embasar suas teorias em frases vazias, mas pretensamente cheias de sabedoria. Quer um exemplo? Veja: “Não importa se nascemos num tanque ou num útero: somos todos puro-sangue”. Quer outro? Segura aí: “Meu tio era cientista, mas ele acreditava que o amor era real”. E por aí vai…

    O filme é registrado numa escala que tem o mesmo tamanho de sua pretensão. Tudo parece grandioso, maior que vida, colossal. Tudo é feito para iludir os olhos do espectador. Não caia nessa: ‘A Viagem’ tem tanto conteúdo quanto uma casa vazia e, ao fim de sua exibição, sentimos na boca aquele gosto amargo de auto-ajuda.

    As caracterizações feitas em Tom Hanks, Halle Berry e Hugh Grant deveriam acentuar os aspectos dramáticos dos personagens. Porém, a maquiagem têm efeito contrário e deixa todos com visuais risíveis. Poucas coisas são mais desastrosas para uma obra que se pretende muito séria do que se transformar num espetáculo provocador de risos involuntários. Justamente o que acontece aqui.

    Único ponto positivo: o cuidado com a luz na fotografia concebida por Frank Griebe e John Toll.

    Importante: até agora, ‘A Viagem’ arrecadou apenas US$ 26 milhões dos US$ 100 milhões que custou. Logo, corre o sério risco de ser o maior desastre financeiro cinematográfico do ano. Uma espécie de John Carter de 2013.

    Sabemos o quanto Hollywood costuma ser implacável com pessoas envolvidas em projetos que resultam em tamanho prejuízo. Diante disso, é possível especular que o futuro da dupla que concebeu ‘Matrix’ seja um pouco mais complicado. Na melhor das hipóteses, a escala de produção diminuirá bastante e eles terão que topar orçamentos mais modestos.

    A única certeza que temos até o momento é que o filme é a maior piada involuntária dos últimos tempos.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Demolidor

    Crítica | Demolidor

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    Nos primeiros minutos de um documentário, que acompanha o primeiro disco desta versão de diretor, um dos editores faz comentários a respeito de sua metragem. Diz que para o lançamento do filme a opção foi reduzir um pouco da ideia original, deixando-o mais ágil e com mais cenas de ação, diferentemente da ideia do diretor, Mark Steve Johnson, que procurava algo mais denso e fluido, com momentos para explicações e um pouco menos de ação.

    Este pequeno trecho simboliza a diferença entre um editor pago para realizar um filme blockbuster sem se importar com sua qualidade e outros que tentam, mesmo em filmes neste formato, manter uma base narrativa.

    Demolidor foi a primeira adaptação de quadrinhos a ser um sub-produto dos sucessos anteriores. Pouco dinheiro foi investido no projeto, cuja missão primordial era um arrecadamento médio. Sem mais ganas, o resultado desse pensamento se tornou nada promissor. O descompasso é tão claro que o fraco diretor lançou sua própria edição do filme, com minutos a mais, tentando melhorar a fraca história e recuperar um pouco de sua imagem perante os fãs de quadrinhos.

    Mesmo trabalhando com um material bruto inexpressivo, seu trabalho tem um ganho positivo em relação ao original, mas nada excepcional. Os erros desenvolvidos na trama estão concentrados em sua estrutura. Nenhuma edição poderia salvá-la.

    A começar pela obtusa escolha do elenco — como colocar o gordinho Ben Aflleck para fazer o ágil Demolidor quando, por ator cogitado na época, Matt Damon seria mais indicado para o papel até fisicamente. Sem deixar de lado excessos de liberdade poética, transformando o rei do crime em negro e o Mercenário, grande vilão do Homem Sem Medo, em um patético personagem nas mãos de Colin Farrell, que despontou em um filme de Joel Schumacher e, depois de entregar mais uma atuação competente, vem desapontando desde então.

    Com um pouco mais de duas horas de duração, a nova edição deixa a trama mais explicada, tentando se aprofundar no drama de Matt Murdock. Mas a falta de credibilidade que Affleck passa, de um cego canastrão, não dá espaço para que se compreenda seu heroísmo.

    É lamentável que um personagem tão excelente como Demolidor tenha sido o escolhido para ser o primeiro filme B de quadrinhos, elemento parecido com o que aconteceria com o Quarteto Fantástico mas, dessa vez, voltado ao entretenimento familiar.

    Murdock é o herói que possui uma das carreiras mais estáveis nos quadrinhos, com sagas memoráveis, além de ser carismático. Nas telas virou uma mistura insossa de senso comum e de atores mal selecionados, que culminam na Electra Natchios de Jennifer Garner.

    Ouça nosso podcast sobre Ben Affleck.

  • Melhores filmes “alternativos” de 2012

    Melhores filmes “alternativos” de 2012

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    Lista de melhores filmes é um negócio repetitivo e a essa altura eu suspeito que vocês já entenderam que Cavaleiro das Trevas é uma certa unanimidade por aqui. Então, honrando minha fama de menina dos filmes “cults” e nêmesis do Jackson, eu faço a lista de melhores filmes hipsters/alternativos/falados em línguas estranhas/não entendo nada, mas tá bonito.

    Primeiro: essa não é minha lista de melhores filmes de 2012, em uma seleção que fosse só pela minha preferência entrariam um bom número de blockbusters. Pelo critério totalmente intuitivo e arbitrário dos filmes que caberiam aqui Drive ficou de fora (mas é de longe um dos melhores filmes do ano), mas eu vou considerar uma menção honrosa, porque o lançamento não foi tão grande assim.

    Em segundo lugar, o critério: filmes lançados em circuito no Brasil em 2012. Doeu um pouquinho esse critério porque eu tive que deixar de fora filmes incríveis que vi em mostras, festivais ou por meios menos oficiais e que só vão entrar aqui em 2013. Enfim, ficam para a próxima. A única exceção é um filme lançado lá fora em 2012, mas que não chegou aqui de forma nenhuma, achei que a lista pseudo-intelectual merecia um desses.

    10. Amores Imaginários
    Na verdade é um filme de 2010, um beijo para as distribuidoras brasileiras! Xavier Dolan, o diretor, ficou famoso em 2009 com Eu Matei a minha Mãe, filme pequeno, de baixo orçamento, que ele mesmo atuava, quase com cara de trabalho de graduação de estudante de cinema e que ainda assim foi a escolha canadense ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Amores Imaginários é mais bem elaborado, mais maduro e bem dirigido, mas ainda mantém o que é tão interessante em Dolan: essa auto-exposição tão descarada, quase crua. Ele atua novamente e os personagens são mostrados em toda sua fragilidade, cheio das ilusões estúpidas de quem começa a se apaixonar. O roteiro e o ritmo do filme têm alguns problemas, mas a honestidade faz valer. Bônus para excelente trilha sonora.

    9. Martha Marcy May Marlene
    Esse é o que não chegou aqui, mas eu aposto que daqui uns dois anos, quando a Elizabeth Olsen virar estrela de comédias românticas indies, ele chega. Elizabeth Olsen é a irmã boa atriz daquelas gêmeas de filmes da sessão da tarde que de repente surgiu do nada com esse filme em Sundance. Ela faz Martha, uma menina que foge de um culto e tenta se reintegrar na sociedade. A fotografia é escura, suja, e o filme flerta com o terror psicológico. É perturbador e todo o barulho em volta de Olsen tem razão de ser, já que tudo depende da capacidade dela de convencer o espectador do seu medo e sua paranoia.

    8. O Gato do Rabino
    Eu vou para sempre promover animações de países que não sejam Estados Unidos e Japão e a França tem um bom histórico. O Gato do Rabino é adaptação de uma HQ e tem roteiro e direção do próprio autor. A animação em si é linda, com um traço cuidadoso, todo cheio de detalhes. Os personagens são carismáticos, o roteiro bem feito e engraçado. O filme faz um ótimo trabalho em colocar um ou outro diálogo filosófico sem atrapalhar o ritmo e a ironia do Gato torna tudo divertido e adorável.

    7. Moonrise Kingdom
    Ok, ok, esse foi um lançamento consideravelmente grande, mas quem vai argumentar que o Wes Anderson não é hipster? Melhor filme dele desde Os Excêntricos Tenenbaums, com duas crianças lindas e um ar de ironia com um tema sério. Eu gosto particularmente de como ele transforma tudo em uma versão miniatura de um filme de guerra, assim como as crianças são versões pequeninas dos conflitos adultos. É leve, divertido, bonito, mas meio dolorido lá no fundo.

    6. Pina
    Eu reclamo muito por aí que o 3D é um recurso legal, mas que o cinema não chega a explorar criativamente, além de ser uma forma de deixar tudo mais “bonito” e tentar evitar pirataria. Junto com Hugo, Pina é a exceção. Pina é um documentário do Wim Wenders sobre a Pina Bausch, ícone da dança contemporânea e amiga pessoal do diretor, cujo principal objetivo era explorar a relação dos corpos com o espaço do palco. Wenders não faz um documentário sobre a vida dela, mas sobre o trabalho da coreógrafa e assim o uso do 3D espelha toda a investigação sobre a ocupação do espaço. Wim Wenders é um dos melhores documentaristas em atividade e esse filme é plasticamente a coisa mais bonita que eu vi em muito tempo.

    5. Habemus Papam
    Ou: se Woody Allen fosse italiano e católico. É o mesmo tipo de humor auto-irônico, paranóico e inseguro, mas por um outro viés e até um pouco mais escrachado. Nani Moretti dirige e atua como um psicólogo chamado para lidar com um Papa em crise existencial. O filme aponta todos os dedos possíveis para a igreja e o conservadorismo da sociedade italiana e desconstroi a imagem dos cardeais até chegar ao absurdo, sendo sempre um pouco melancólico, mas principalmente engraçado.

    4. Um Alguém Apaixonado
    Porque não é uma lista esnobe suficiente se não tiver filme iraniano. Melhor: filme de diretor iraniano filmado no Japão. Eu confesso e aviso: talvez seja o melhor exemplo da minha definição de “não entendo nada, mas tá bonito”, mas ainda assim vale a pena. É sobre a relação entre um velho professor e uma jovem prostituta com um namorado horrível. Sobre as escolhas irracionais que as pessoas fazem e, sim, claro, sobre pessoas apaixonadas. É mais uma reflexão do que respostas, mas é um exemplo maravilhoso do que o cinema é quando desiste de dar respostas.

    3. A Separação
    Porque eu não me satisfaço com só um filme iraniano. Ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, Bafta, Urso de Ouro em Berlim e mais um monte de prêmios e eu prometo que por mais que filme iraniano tenha fama de chato não é o caso desse. O diretor, Asghar Farhadi, fala das contradições entre a imagem de um Irã ultra-religioso e a modernidade que na verdade existe lá dentro e, da mesma forma, seus filmes integram o ritmo contemplativo pelo qual o cinema iraniano ficou famoso com elementos do cinema comercial. Seu filme anterior “Procurando Elly” era quase um thriller e aqui o mistério move boa parte da trama. É angustiante, claustrofóbico e um tanto genial. Mostra um Irã que nós não estamos acostumados a ver e reflete sobre o país, mas tudo em cima de uma narrativa bem feita e um filme envolvente.

    2. No
    O cinema latino-americano vem soltando coisas ótimas, inclusive de países inesperados, como o Peru e o Uruguai, mas o Chile andava meio quieto desde Machuca (2004). “Não” compensa isso. Em 1988 os chilenos deveriam votar em um plebiscito que diria “sim” ou “não” para o governo do General Pinochet e o filme se centra no publicitário responsável pela campanha que deveria convencer o povo a dizer “não”. “Não” tem um roteiro tão bom, tão bem amarrado e cheio de boas tiradas que é até difícil apontar exatamente porque ele acabou em segundo lugar nessa lista. O filme flui e trata do tema de forma honesta e leve, sem medo de revirar um tema complexo e é bem dirigido, atuado, fotografado sem ser correto demais.

    1. Fausto
    Eu fiz uma crítica dele aqui e não sei se cabe falar muita coisa mais. Quando o Sokurov fez a Arca Russa eu fiquei fascinada, mas achei que faltava ancorar aquilo, dar uma narrativa, conseguir tornar esse cinema de sensações que ele faz um pouco mais palatável e Fausto faz tudo isso. É experimentação e estética, mas tem também uma narrativa forte, é cheio de diálogos sobre a vida, a morte, a efemeridade da beleza e o mal, mas também expressa essas contradições na fotografia, na direção de arte e na montagem. Fausto é um dos melhores exemplos do que é o cinema como arte, ao mesmo tempo apontando para toda uma tradição e sendo original. É difícil, é lento, definitivamente é um filme que requer investimento, mas é o melhor encontro de forma e conteúdo desde Asas do Desejo.

    Texto de autoria de Isadora Sinay.

  • Resenha | Conan: A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos

    Resenha | Conan: A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos

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    A Mythos Editora já há algum tempo vem publicando materiais recentes envolvendo o Gigante de Bronze, o mais atual deles é o encadernado que reúne os arcos A Filha do Gigante de Gelo e À Mercê dos Hiperbóreos, com roteiro de Kurt Busiek, arte de Cary Nord e Thomas Yeates, além do premiado trabalho de cores de Dave Stewart. (mais…)

  • Crítica | Atração Perigosa

    Crítica | Atração Perigosa

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    Depois de surpreender o público com uma boa direção em Medo da Verdade, Ben Affleck dá sequência a sua nova carreira sem se desapegar de uma história policial. Atração Perigosa comprova que Affleck não teve sorte de principiante e, ao contrário de sua naufragada carreira como ator, apresenta domínio ao narrar uma história.

    Baseada no romance Prince Of Thieves, de Chuck Hogan, a trama se passa em Boston, no bairro de Charlestown — alardeado no início do filme como um local conhecido pelo alto índice de assaltos a banco, um ambiente em que pais passam seus ensinamentos aos filhos como uma tradição.

    Doug MacRay (Affleck) é o mentor de um grupo de ladrões que, mesmo em um assalto bem sucedido, decide levar uma refém como segurança. Encarregado de resolver a situação, Doug se aproxima da moça à procura de um novo rumo para sua vida.

    A tensão se produz tanto dentro do próprio grupo, com MacRay desconfortável ao executar um novo golpe que colocaria o grupo em desnecessário destaque em investigações policiais, como na relação que estabelece com a vítima Claire, que acreditar viver um relacionamento saudável.

    Além da direção bem executada também nas cenas de ação, a fotografia de Robert Elswit destaca a crueza do ambiente de uma cidade que não parece encontrar espaços para a ternura e para novas oportunidades de mudança de vida. Porém, a temática de ladrão arrependido que busca mudar de vida não é nova.

    Com a receptividade positiva do filme, Affleck reconquistou parte do carisma perante ao seu público e planeja realizar uma continuação desta trama que, mesmo com algumas qualidades evidentes, me deixa com a sensação de que poderia ser melhor. Ainda que não consiga explicar a razão.

    Ouça nosso podcast sobre Ben Affleck.

  • [Na Vitrola] Top 10 – Melhores Discos de 2012

    [Na Vitrola] Top 10 – Melhores Discos de 2012

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    2012 foi um grande ano para a música com diversos ótimos discos lançados em todos os estilos musicais, logicamente, se você esperava menção deles na grande mídia se deu mal. Após muita dificuldade, consegui comprimir minha lista de álbuns para dez dos meus preferidos, apesar de não ser tão eclética quanto a lista de 2011, procurei diversificá-la, dentro do possível, espero que curtam.

    Leonard Cohen – Old Ideas

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    Depois de anos afastado do cenário musical, Cohen fez um de seus melhores discos, unindo canções intimistas repletas de melancolia e pitadas de humor que apenas um quase octogenário como ele poderia fazer. Cohen utiliza sua voz cada vez mais grave para falar sobre espiritualidade, dor, amor opressivo e sexo, demonstrando ser extremamente relevante ainda hoje.

    Dinosaur Jr. – I Bet On Sky

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    Após a reunião do Dinosaur Jr. em 2007 com Beyond, o trio demonstrou que mesmo anos afastados ainda tinham uma química incrível. Em 2009 veio Farm, excelente álbum e a comprovação de que a banda tinha vindo para ficar. Três anos depois, I Bet on Sky só comprova o que os discos anteriores já haviam deixado claro, a capacidade de composição da banda e a consolidação de um ótimo retorno com uma sequência de três ótimos álbuns, todos completamente despretensiosos.

    Blackberry Smoke – The Whippoorwill

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    Apesar de ainda pouco conhecida por aqui, o Blackberry Smoke pouco a pouco vem fazendo barulho. A banda existe desde 2000 e The Whippoorwill é seu terceiro álbum de estúdio e consolida a banda como uma das melhores da atualidade. Junte The Faces, Lynyrd Skynyrd, Rolling Stones, Hank Williams e Allman Brothers e você terá uma ideia do que esperar do álbum. Discaço!

    Black Country Communion – Afterglow

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    Com dois álbuns lançados e uma tensão entre o quarteto, Afterglow parece ser o último disco do Black Country Communion. Uma pena. Afterglow marca o auge do supergrupo formado por Glenn Hughes (vocais e baixo), Joe Bonamassa (vocais e guitarra), Jason Bonham (bateria) e Derek Sherinian (teclados) e um entrosamento maior entre eles, algo que ainda soava um tanto “artificial” nos discos anteriores. Só nos resta torcer para que os integrantes se entendam e continuem nos presenteando com trabalhos como Afterglow.

    Chris Robinson Brotherhood – Big Moon Ritual

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    Com o hiato do Black Crowes, o vocalista da banda, Chris Robinson, decidiu se mexer e juntou alguns amigos e gravou Big Moon Ritual. O álbum tem uma sonoridade setentista interessantíssima, cheia de referências de blues, soul, country, e claro, rock and roll. Daqueles discos para você deixar os problemas do mundo de lado e focar nos pequenos prazeres da vida.

    Danko Jones – Rock And Roll is Black and Blue

    danko-jones

    Rock And Roll is Black and Blue marca o retorno do trio canadense à velha forma. Após dois álbuns medianos, o Danko Jones entrega um discaço cheio de peso, agressividade e um ecletismo rítmico em seu som, tudo isso com a simplicidade típica da banda. Daqueles pra ouvir repetidas vezes e não enjoar.

    Patti Smith – Banga

    Patti-Smith-Banga

    Banga é um retorno às origens de Patti Smith, dada as similaridades com seu álbum de estréia, Horses. Assim como Horses, Banga mergulha num universo poético aberto às abstrações e inúmeras referências, de Tarkovski à Amy Winehouse. Extremamente reflexivo e denso, onde cada audição pode lhe proporcionar novas sensações.

    Flying Colors – Flying Colors

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    Flying Colors é o supergrupo formado por Casey McPherson (vocalista), Steve Morse (guitarra), Dave LaRue (baixista), Neal Morse (teclados) e Mike Portnoy (bateria) e trazem como influências elementos de progressivo, funk, folk e heavy metal, o resultado é um álbum excelente. Esse caldeirão de ideias entrega um álbum riquíssimo, cheio de belas canções e extremamente acessível.

    Bruce Springsteen – Wrecking Ball

    Wrecking Ball

    Bruce Springsteen entrega discos que são retratos de uma época. Wrecking Ball não é diferente dos demais, Springsteen põe o dedo na ferida e escancara para o mundo o registro de uma sociedade entregue à ganância e corrompida pelo dinheiro. Álbum irretocável e com muito a dizer sobre o caos que vivemos. Siga o conselho do compositor e “Get yourself a song to sing and sing it ‘til you’re done. Yeah, sing it hard and sing it well. Send the robber barons straight to hell”, eu farei o mesmo…

    The Porters – Rum, Bum and Violina

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    O The Porters resgata um rock and roll despretensioso daqueles para se ouvir enquanto você aprecia uma cerveja gelada. O vocal rascado e rouco de Volker Grünner se encaixa perfeitamente na proposta da banda, tudo isso aliado a ótimos arranjos de violinos, banjos e acordeões, tudo isso numa pegada punk-rock cheio de influências de country, folk e música celta. Divertidíssimo.

    É isso aí galera, como puderam perceber, muita coisa teve de ficar de fora para a entrada de outras, aproveitem a oportunidade e deixem suas listas no campo de comentários. E claro, tirem a bunda da cadeira e corram atrás de novos sons.

    Menção honrosa: Baroness – Yellow & Green, The Cult – Choice of Weapon , Graveyard – Lights Out, Rival Sons – Head Down, Van Halen – A Different Kind of Truth, Alabama Shakes – Boys & Girls, Michael Kiwanuka – Home Again, Bob Dylan – Tempest, Soundgarden – King Animal, Soen – Cognitive, Lamb of God – Resolution, Neil Young – Psychedelic Pill, Adrenaline Mob – Omertá, Stone Sour – House of Gold & Bones Part 1, Fiona Apple – The Idler Wheel, Aimee Mann – Charmer, Howlin’ Rain – The Russian Wilds, Europe – Bag of Bones, Witchcraft – Legend, Mark Lanegan Band – Blues Funeral, Spectrum Road – Spectrum Road , Orange Goblin – A Eulogy for the Damned e tantos outros.

  • Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

    Resenha | Diablo 3: A Ordem – Nate Kenyon

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    Diablo 3 – A Ordem lançado em março de 2012 nos Estados Unidos e em Junho deste mesmo ano aqui no Brasil pela editora Galera e escrito pelo autor Nate Kenyon – autor de diversas obras literárias da Blizzard, produtora dos games da série, e o livro se passa entre o segundo e terceiro jogo da franquia.

    O livro narra a jornada de Deckard Cain, último sobrevivente da ordem dos Horadrim, que tem como objetivo salvar o mundo dos demônios. Um livro que para os fãs da história do jogo, como é o meu caso, estavam ansiosos para conhecer a literatura de Diablo, entrar no mundo de Tristram e conhecer mais sobre os personagens, principalmente aqueles já conhecidos do segundo jogo, contudo, a decepção só aumentava a cada página lida.

    O desenvolvimento narrativo do autor erra seguidas vezes para contar sua história, o principal deles é que o livro não funciona para quem não conhece a história do jogo, deixando o leitor perdido durante a leitura, se é comum para eu ficar tentando lembrar do segundo jogo para encaixar melhor as coisas, imagina quem não teve contato com os jogos. O próprio autor parece ter percebido esse problema e tentou consertar com flashback’s, no entanto nenhum deles funciona como deveria, perdendo tempo em divagações que contam o que não é necessário e acabam se tornando enfadonhos. O mais difícil é saber o que é pior, a narrativa por meio de flashback’s ou quando está contando o presente.

    Outro problema da narração de Kenyon são seus personagens. Todos são extremamente rasos e em mais de 300 páginas de livro, você chega ao final do livro e não se apega à nenhum deles. Em dado momento, parei e pensei se todos os personagens do livro morressem eu sentiria falta de alguém, a resposta é não. Temos um personagem principal fraco que deveria ser o sábio da jornada, por ser o ancião e o último da ordem dos Horadrim, mas na verdade, é apenas um velho que não sabe conjurar nenhuma magia que preste e está em grande parte do livro perdido, sem saber o que fazer. A Léa, que é uma menina com grandes poderes ocultos, porém, se perde na timidez exagerada por Nate Kenyon e vira apenas mais um personagem sem graça. Mikulov que é pra ser o monge com experiência e força, fica escondido e passa quase despercebido.

    O grande inimigo do livro é Belial, um dos demônios menores, que chega a ser citado no segundo jogo mas não aparece, é outro personagem que você pouco se amedronta e não convence do que é capaz. Façamos as contas, no segundo jogo, você mata os 3 demônios maiores (Mephisto, Baal e Diablo) e 2 dos menores (Duriel e Andariel) e Deckard Cain acompanha tudo isso, quando Belial está planejando seu plano, Deckard Cain diz que a jornada que se passou será “um passeio no parque em comparação a essa de agora”. Exagerou um pouco Nate Kenyon?

    O ponto alto do livro com certeza é o final, não por ter um bom encerramento, mas simplesmente por você chegar ao final da leitura de um livro decepcionante. Nate Kenyon transmite um sentimento de angústia, mas não da forma como ele estava esperando.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Felipe Vieira.

  • Melhores filmes de 2012, por Jackson Good

    Melhores filmes de 2012, por Jackson Good

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    Saudações, nem tão nobres colegas. Chegou a hora da nossa tradicional (é apenas a segunda vez que acontece, mas quem se importa) escolha dos destaques cinematográficos do ano que passou. Houve uma leve mudança em relação à lista anterior, intitulada “Os melhores blockbusters”, agora estão inclusos filmes que não se enquadrariam nessa categoria, por terem orçamento baixo e/ou lançamento limitado. Mas o espírito massa véio permanece em todas as escolhas, afinal este é o Top 10 do cara do blockbuster/cinéfilo de verão. Antes, porém, uma rápida menção desonrosa não ao pior, mas àquele que foi de longe o mais decepcionante do ano: O “Espetacular” Homem-Aranha. Os caras tinham que se esforçar muito, mas muito mesmo, pra tirar o bom e velho Cabeça de Teia desta seleção. E vejam só, conseguiram! Parabéns, campeões. Enfim, vamos à lista, naturalmente de baixo pra cima.

    10. Looper – Assassinos do Futuro
    Bastante controverso, o filme recebeu duras críticas, em especial pelo roteiro não muito bem resolvido e arrastado em diversos momentos. Mas ele ganha pontos por apresentar uma boa direção, cenas de ação bem legais, interessantes conceitos acerca de viagens temporais, e dois Bruces Willis; o próprio e Joseph Gordon-Levitt, numa atuação digna de nota e que supera até a bizarra maquiagem digital. Num ano cheio de decepções, isso bastou para Looper estar aqui.

    9. 2 Coelhos
    Uma produção nacional estar presente nesta lista é deveras surpreendente. Mas não dava pra deixar de fora este divertido filme de ação, como visual ultra estilizado e repleto de referências à cultura pop. O diretor, produtor e roteirista Afonso Poyart mostrou-se claramente influenciado por Zack Snyder, Quentin Tarantino e Guy Ritchie, entre outros, e entregou um produto fora dos padrões do cinema brasileiro. Ainda que peque por alguns excessos, é mais do que louvável ver algo fora dos eternos “gêneros” favela, sertão, Selton Mello e comédias imbecis com cara de televisão.

    8. Poder Sem Limites
    Partindo do já explorado à exaustão estilo handcam, e do igualmente pouco inovador tema “pessoas comuns ganhando superpoderes”, esta modesta produção conseguiu surpreender. O roteiro foi muito bem trabalhado no sentido de tornar humanos e críveis os personagens e suas ações. Em essência, é uma história de origem de um herói – e de um vilão, simples, porém bem contada, coisa que muitos filmes milionários falham em fazer. Destaque merecidíssimo.

    7. Operação Invasão (The Raid: Redemption)
    Sensação em vários festivais pelo mundo desde 2011, o filme indonésio chegou ao Brasil direto para o home video, com um título caprichado. A história trata de uma equipe de elite da polícia de Jacarta invadindo um prédio controlado por traficantes, e se ferrando gloriosamente no processo. As cenas de luta são coreografadas de forma impressionante, uma porradaria épica como só os orientais sabem fazer. Além do melhor uso de uma geladeira desde Indiana Jones 4. Já está programado um remake norte-americano, mas nem precisa dizer que o original é que deve ser assistido o quanto antes.

    6. Dredd
    O policial badass dos quadrinhos britânicos surge bem colocado no Top 10, graças à fiel adaptação estrelada por Karl Urban. Com uma trama bastante similar ao item anterior, mas indo além por trazer um interessante pano de fundo sci fi (e um protagonista mais marcante). Ação constante, violência sem concessões e um 3D bem empregado renderam uma das melhores surpresas do ano, e que infelizmente pouca gente viu, dada a passagem relâmpago pelos cinemas.

    5. Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    Ah, a polêmica. Este era um filme que tinha tudo pra estar no topo da lista (ok, mentira, mas o 2º lugar era garantido), as posições perdidas se devem única e exclusivamente ao roteiro. Foram muitos os elementos forçados, sem sentido prático, presentes em nome de um pretenso conteúdo simbólico, metafórico, subtextual. Se fosse uma obra puramente alegórica, nada de errado. O problema é que ela não é: sacrificou-se toda a contextualização realista tão bem construída pelas duas partes anteriores da trilogia. Ainda assim, é um filme poderoso, com excelente ritmo, direção fantástica e atuações espetaculares. E ainda é o Bátema, porra.

    4. O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
    Outro com potencial pra ser o campeão do ano (quer dizer, o vice), mas nesse caso a colocação se justifica mais pelos méritos dos concorrentes do que pelos seus próprios deméritos. Que se resumem à duração além do necessário e à consequente perda de ritmo, aliás. Peter Jackson mais uma vez está de parabéns por trazer a magia da Terra-Média até nós, com um filme divertido, empolgante e com um visual deslumbrante – que fica ainda melhor no 3D 48 quadros por segundo. Duas cenas de sair e pagar o ingresso de novo: Adivinhas No Escuro e a origem do Escudo de Carvalho.

    3. Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras
    Lá no distante janeiro de 2012 tivemos uma das melhores aventuras da temporada. A segunda parte da franquia que “modernizou” o clássico detetive britânico superou e muito a primeira, com Guy Ritchie caprichando na direção e uma trama épica de conspiração internacional. Sem falar no sensacional embate intelectual entre Holmes e seu nêmese Moriarty, engrandecido por Robert Downey Jr. (o cara do ano) numa atuação inspirada, e Jared Harris mais inspirado ainda.

    2. Os Mercenários 2
    Sylvester Stallone, Jason Statham, Jet Li, Chuck Norris (na melhor cena do ano, sem discussão), Terry Crews, Randy Couture, Liam Hemsworth, Scott Adkins, e também Jean-Claude Van Damme, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger. Nem precisava acrescentar mais nada, mas enfim: outra sequência infinitamente melhor que seu predecessor, assumiu o tom de comédia e acertou em cheio. Grande homenagem ao cinema brucutu dos anos 80 regada a tiros, porrada, mais tiros, explosões e mais alguns tiros. Pode algo ser melhor que isso? Hã, pode.

    1. Os Vingadores
    Repetindo o que foi dito na lista de 2011, empolgação é a palavra-chave em um blockbuster. Assim, esta escolha já estava definida no momento em que o filme foi anunciado. Só uma catástrofe de proporções bíblicas mudaria as coisas. O que seria improvável, tendo em vista a competência da Marvel Studios em construir seu universo cinematográfico e preparar o terreno para a grande reunião de seus heróis. Atendeu às enormes expectativas, entregando ação, diversão, humor, ótimos efeitos visuais e uma trama simples mas que cumpre aquilo que se propõe a fazer. Um filme perfeito? Evidente que não, mas ele é maior que seus defeitos. Os Vingadores é maior que a VIDA.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Resenha | O Buraco da Agulha – Ken Follett

    Resenha | O Buraco da Agulha – Ken Follett

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    Em um romance policial de suspense e investigação quanto menos se souber, melhor. É tênue a linha entre conhecer o argumento base da história e se deparar com elementos que somente no meio da trama são apresentados ao leitor mas que, de alguma maneira, a sinopse insiste em divulgar. Como de costume, sempre evito o resumo da contracapa. Normalmente, falam muito do que não deviam, estragando o que poderia ser uma surpresa.

    A capa de O Buraco da Agulha (Editora Record, Edições BestBolso, 434 páginas) revela a base necessária. O nome de Ken Follett aponta para uma possível trama investigativa com a possibilidade de utilizar-se de algum elemento histórico como pano de fundo. Afirmação corroborada pela suástica vermelha presa a uma agulha, aludindo ao título. É o suficiente para que se comece a leitura.

    Embora não seja o primeiro romance do britânico – o autor havia escrito quatro histórias anteriormente utilizando pseudônimos – é o primeiro que conquistou um grande sucesso e prêmios literários como o Edgar Award, maior prêmio para literatura de suspense e mistério, em 1979. A utilização da segunda guerra como pano de fundo para desenvolver esta história permite um brilho extra para a narrativa. Gera uma tensão ampliada pela ambientação devastada, de um momento histórico sensível em que potências em guerra escolhiam o momento certo para um possível ataque final.

    É neste contexto que Percival Godliman, um estudioso da idade média e antigo colaborador do MI5 é convidado para trabalhar em uma investigação que procura agentes infiltrados alemães dentro da Inglaterra. O embate da narrativa centraliza-se em Die Nadel, ou A Agulha, um dos poucos espiões em atividade em Londres que seria capaz de descobrir informações vitais que colocariam em risco a atividade britânica. É o suficiente para que dois grandes personagens lutem por seus ideais.

    A narrativa de Follett é composta de maneira tradicional. Em cada capítulo apresenta um ponto de vista diferente, equilibrando linhas paralelas da história com as doses precisas de informações e tensão. A escrita segura não tem medo se precisa dialogar mais intimamente com o leitor ou se estender a mais de um parágrafo na descrição de uma cena.

    Apresentando uma história de maneira neutra, sem julgamentos, o autor evita de cair na fácil armadilha de apresentar um lado da guerra como o melhor ou mais correto. Cada personagem convence por sua crença bem enraizada e sua trama chega a tocar em personalidades centrais da guerra como Hitler e Churchill, que dão mais credibilidade ao relato.

    O sucesso da carreira de Follett, as boas vendas e os comentários da crítica se justificam desde o primeiro livro. Demonstrando que, embora alguns considerem a literatura policial inferior as demais, há quem domine seus elementos e produzam estupendas narrativas. Sendo duplamente impressionante que esta tenha sido uma das primeiras narrativas do autor.

    O livro traduzido por Orlando Lemos pode ser encontrado em duas edições de bolso, uma contendo somente este romance (compre aqui) e outra em conjunto com Na Toca do Leão (compre aqui), também de Follett. O sucesso também gerou também uma adaptação cinematográfica realizada em 1981, com Donald Suthlerland e Kate Nelligan, lançando no fim do ano passado em DVD no país pela Classicline (clique aqui para comprá-lo).

  • Top 10 – Melhores Filmes de 2012, por Rafael Moreira

    Top 10 – Melhores Filmes de 2012, por Rafael Moreira

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    É isso aí rapaziada, ano começando, as listinhas de promessas já começam a falhar, retrospectivas, fatos que marcaram, e toda essa baboseira. Aqui no Vortex também somos adeptos de algumas delas, principalmente os melhores do ano. Então antes de falar sobre os melhores filmes, vamos aos critérios utilizados.

    Primeiro, não é uma votação, nem um consenso do site, é apenas uma lista pessoal. Além disso, pouco importa se o filme foi bem ou mal na crítica. O que vale é a experiência ao ver o filme. Tanto que filmes premiados ficam de fora, e outros ignorados podem entrar. Outro ponto a se ressaltar é que na minha lista, o filme tem que ter estreado no Brasil em 2012, independente da data de lançamento no país de origem.

    Fora os critérios, a lista segue ordem de preferência, e também é bom ressaltar que 2012 foi um ótimo ano tanto para o cinema Blockbuster, como para produções menores e o cinema autoral. Pensei inclusive ao invés de fazer TOP 10, colocar um TOP 15. Mas decidi manter os 10 e colocar alguns em menção honrosa. Chega de enrolação e vamos à lista (PS: Os links no nome vão para a crítica do filme).

    10. Mercenários 2
    Você sabe que o ano foi realmente FODA, quando montando uma lista, um dos filmes do ano que mais te agradou, ativou toda a nostalgia dos seus heróis da infância e o espírito massa véio, ficou apenas em décimo.

    A reunião dos brucutus dos anos 80 foi digna de palmas no cinema, emoção, choro. Tudo por causa da galhofada de explosões em que os heróis buscam por vingança e nunca são acertados por nenhum tiro. Reunindo Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Jet Li, Jason Statham, Terry Crews, Van Damme, e por último e não menos importante, o grande, o único, o mito, aquele que faz o filme parar só para fazer uma piadinha com a sua fama, Chuck Norris. Se você não assistiu Mercenários 2, pare de ler e vá ver agora.

    9. Polissia
    Polissia é mais um que eu gostaria de ver em uma posição mais alta, mais ainda assim seria injusto pelo que vem pela frente. Mas enfim, Polissia um filme francês dirigido pela Maïwen, é duro, cru que toca no amago de qualquer um, por lidar com um assunto tão delicado quanto a violência contra a criança. Além de toda a sua crítica social, o filme tem um ponto a mais, pois mesmo tratando de um tema tão complicado como esse, o longa toma algum distanciamento da situação, sem forçar a dramaticidade ou o tom, deixando a cargo da visão do espectador a carga dramática que ele carregará para o filme.

    8. O Hobbit
    Falando francamente, em uma brincadeira de pré-lista, eu tinha colocado ‘O Hobbit’ em segundo colocado, antes mesmo de tê-lo visto, tamanha era a expectativa e fichas apostadas nele. Eis que o filme chegou, e de modo nenhum pode-se falar que o filme é ruim, tanto é que figura na minha lista dos melhores do ano. Porém, o alongamento desnecessário da história, tornando o filme em muitos momentos enfadonho e sonolento, cheio de parenteses que no fim das contas são encheção de linguiça para conseguir fazer 3 filmes sobre a história, o fazem perder muito. Eu esperaria que tais problemas fossem solucionados no segundo filme, mas eu duvido muito.

    7. Millenium: Os homens Que Não Amavam as Mulheres
    Adaptação da obra de Stieg Larsson por David Fincher, um dos meus diretores favoritos. Millenium é um thriller policial forte, violento, que surpreende o espectador a todo momento, repleto de críticas sociais principalmente à nossa hipocrisia coletiva. De quebra ainda temos Lisbeth Salander, personagem construída de forma magistral pela Rooney Mara, protagonizando inclusive, uma das cenas em que mais pude sentir a dor física, apenas por ver uma imagem. O bônus final fica por conta da trilha sonora e o “videoclipe” de abertura, especialidade do David Fincher.

    6. Argo
    Terceiro filme com a direção de Ben Affleck, que conta a história de uma operação da CIA mais parecida com um roteiro de cinema, ou um romance de espionagem, do que realidade. Affleck nos apresenta uma direção clássica, mesclando diversos momentos hilários quando a história permite, com também uma sequência de cenas das mais angustiantes que consigo me lembrar no cinema recente. Além disso o filme ganha ainda mais, por tratar de um assunto delicado como a relação diplomática entre EUA e Irã, sem colocar os iranianos no posto de vilões da história.

    5. Os vingadores
    Vingadores com certeza foi um “evento”. Não preciso falar nada sobre o filme em si, apenas que finalmente foi provado que é possível fazer um filme sobre reunião de heróis com uma boa cadência entre todos, sem se perder em uma história com tantos personagens. Além de ser ótimo ver que um filme de heróis fantásticos não precisa ficar preso na pegada realista que muitos querem adotar como regra para esse universo. Além disso, acho que todo mundo saiu do cinema sem fôlego depois da batalha final de quase 45 minutos, e por último, as sacadas e piadinhas de Tony Stark, como o personagem que dá boa parte da liga do grupo, é ótimo por que é o cara mais carismático do grupo, o Capitão América, o verdadeiro líder, é um escoteiro e ninguém gosta do escoteiro.

    4. As Aventuras de Tintim
    As Aventuras de Tintim, aposto que algumas pessoas vão me chamar de louco ao colocar um filme desses numa posição tão alta, à frente de filmes muito maiores e mais aclamados. O fato é que a nostalgia e a saudade dos bons tempos de infância falaram mais alto aqui. Tintim é a minha série de quadrinhos favorita, praticamente aprendi a ler com essas histórias. Além do próprio seriado que passava nos finais de tarde da TV Cultura. Assim, tudo que antes era receio para uma adaptação que não respeitasse o espírito de aventura e inocência de Tintim, se transformou em uma grande surpresa, nostálgica e emocionante.

    3. Drive
    É fácil definir Drive, um filmaço. Tensão do início ao fim, com uma bela releitura dos filmes de ação dos anos 80, praticamente subvertendo o gênero, colocando um “herói” falho, sujeito a morte em qualquer momento, buscando alguma felicidade em raros momentos em que consegue fugir da sua própria natureza, mas como na fábula, o escorpião sempre será escorpião. A trilha sonora fantástica dá ainda mais esse ar “new-retrô”, enfim nada do que eu fale aqui irá chegar aos pés da experiência de ver Drive.

    2. Hugo
    Hugo, uma grande homenagem de Martin Scorsese à Georges Meliès, mas que não se limita apenas a ele, e se estende a todo o cinema, principalmente aos pioneiros. Que com pouco, ou nenhum recurso, faziam milagres e absurdos com suas histórias, nos entregando mundos mágicos e fantásticos. E se eu senti que faltou alguma magia, um tempero especial ao Hobbit, em Hugo tudo isso tem de sobra.

    Scorsese faz seu primeiro filme em 3D, e com uma temática infantil. E com isso mostra porque é realmente um mestre, versátil, nos entregando uma obra passional, bela e tocante. Vida longa à Hugo e mais longa ainda ao sobrancelha.

    1. Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    Se você leu até aqui sem enganar a ordem, percebeu que faltava O grande filme de 2012. Batimá.

    Batemá é épico, grandioso, um filmaço de ação e que não se limita a ser apenas um filme de ação, deslocado da sua sociedade e do seu tempo. Com metáforas e críticas que vão desde os nossos sistemas políticos e de poder, até a grande desigualdade dos nossos tempos. Com paralelos referenciando a Revolução Francesa e o reino de terror, o filme continua com a sua crítica de como uma sociedade em frangalhos, não só pode, como tende a acreditar em grandes discursos inflamados, que se apropriam de pequenos fatos isolados para conseguir arquitetar uma grande mentira.

    Acredito que Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, tenha sido a escolha mais fácil da lista, e provavelmente a mais polêmica, portanto, externem vossa raiva. 🙂

    0.5 – A Bomba do Ano. Battleship: A Batalha dos Mares

    Alienígenas capazes de viajar milhares de anos-luz em questão de dias, mas burros o suficiente para apanhar de um navio da Segunda Guerra Mundial, que mais parece com uma chaleira velha. Além é claro, de pousar no Hawaii, um lugar ultra ensolarado, uma boa escolha para quem sofre de foto-sensibilidade. Se não bastasse tudo isso, temos um elenco de primeira, contando com Brooklin Deckard, Rihanna, Liam NeLson (pagando o aluguel atrasado, só pode), e por último Taylor Kitsch nos sendo enfiado goela abaixo como protagonista e herói de ação, que não convence nem a mãe dele. E a cereja de merda fica por conta da refilmagem vexatória de um celebre vídeo de youtube em que o ladrão invade a loja de conveniência, se quebra todo e no final ainda é preso.

    Agora vamos para as menções honrosas do ano, que não seguem ordem de preferência, apenas como boas lembranças dos filmes que vieram ao cinema esse ano. 2 Coelhos, um bom filme de ação nacional. Os infiéis de Jean Dujardin, ótima comédia francesa recheada de ironia e polêmicas. Moonrise Kingdom de Wes Anderson, um filme leve que faz diversas brincadeiras com filmes de gênero, lhe deixará com o sorriso no rosto. Get the Gringo, último filme com a participação de Mel Gibson, filme de ação despretensioso, lembrando os anos 80, mas politicamente incorreto. Curvas da Vida, filme com atuação de Clint Eastwood, tem problemas, mas é uma história leve, bem contada, fará o seu dia melhor. O Espião que Sabia Demais, ótimo filme sobre a espionagem de verdade, com bela atuação de Gary Oldman. O Artista, ganhou o Oscar e tudo, mas não me pegou o suficiente para figurar na lista de melhores. Ruby Sparks, uma comédia romântica que não é uma comédia romântica, ótimo filme para ver como um gênero que produz tanto lixo, pode também trazer coisas interessantes.

    Fechamos por aqui. Deixem nos comentários a lista de vocês também, se concordam, discordam, acham que eu fiquei maluco. Enfim…

  • Vortcast 22 | Ben Affleck

    Vortcast 22 | Ben Affleck

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    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira, Rafael Moreira, Isa Sinay, Pedro Lobato, Mario Abbade e Carlos Britto comentam sobre a carreira cinematográfica do ator e diretor, Ben Affleck. Partido de seus “ótimos” trabalhos com atuação, as parcerias com Matt Damon, a grande ascensão de sua carreira com o Oscar de melhor roteiro por Gênio Indomável, passando também pela pior fase da carreira com seguidos flops em comédias românticas, até chegarmos em seus notáveis trabalhos como diretor.

    Duração: 93 mins.
    Edição: Rafael Moreira
    Trilha Sonora: Rafael Moreira

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    Comentados na edição

    Vortcast 05: Filmes Marvel
    As caretas de Calvin por Ben Affleck

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    Filmes como diretor ou roteirista

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    Crítica Argo

    Filmes comentados

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    Contato de Risco (Gigli)
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    A Soma de Todos os Medos (The Sum of All Fears) – Compre aqui
    Hollywoodland – Bastidores da Fama (Hollywoodland)
    Dogma
    Procura-se Amy (Chasing Amy)
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    O império do Besteirol Contra-Ataca (Jay and Silent Bob Strikes Back)
    Barrados no Shopping (Mall Rats)
    School Ties

  • Resenha | Fracasso de Público

    Resenha | Fracasso de Público

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    Talvez uma das melhores sensações relacionadas ao consumo de obras de arte seja o da surpresa. Surpresa, não de achar que algo seria ruim mas na verdade foi bom. Falo da surpresa sincera, que hoje somos praticamente privados com tanta informação abundante. Surpresa, de arriscar a comprar um livro, HQ, ingresso de cinema, sem saber absolutamente nada sobre a obra, sem nenhuma expectativa sobre ser bom ou ruim. Surpresa, com uma obra de autoria, até então, desconhecida, que não evoca nenhum sentimento em função de seus trabalhos pregressos. Quando essa obra escolhida ao acaso é também uma obra-prima, talvez isso seja o equivalente a um orgasmo cultural.

    Foi nessas condições que conheci Fracasso de Público, lançado no Brasil em 3 volumes pela Editora Gal. Comprei por indicação de um amigo, mas em função da minha mania de apenas começar uma leitura depois de ter a série completa em mãos. Qualquer palavra sobre a indicação, já havia a muito sido esquecida, e assim como o personagem Ed, eu estava completamente virgem para a obra.

    Fracasso de público é uma HQ independente com roteiro e arte de Alex Robinson, publicada originalmente em 78 capítulos, depois compilados pela editora TopShelf para um volume único de 608 páginas em 2001. A HQ é ganhadora de diversos prêmios e foi hiperbolicamente considerada pela revista Wizards americana, como a melhor HQ independente já lançada até o momento.

    A história trata de um grupo de amigos composto por: Sherman, que é atendente de uma livraria e aspirante a escritor. Ele vai morar com Stephen e Jane, um casal formado por um professor de história boa-praça, e uma quadrinista que odeia Dorothy, a atual namorada de Sherman. O já citado Ed, amigo de Sherman dos tempos de faculdade, além de ter o sonho de se tornar quadrinista, tem um sério problema de timidez com as mulheres e ainda é virgem. Dos principais, temos por último Irving Flavor, um quadrinista veterano criador do mais popular personagem “Nightstalker”, mas que hoje vive em uma situação difícil depois de problemas com a maior editora de quadrinhos, Zoom Comics.

    O roteiro nos entrega uma história cotidiana, comum, sobre a vida daqueles personagens. Boa parte do álbum se foca em seu dia-a-dia. Toda a irritação de Sherman com o emprego que detesta, as frustrações e aspirações sexuais de Ed, a vida em casal ao mesmo tempo pacata e complexa entre Jane e Stephen. Quase como um retrato da vida cotidiana de jovens com seus 20 e poucos anos na cidade de Nova York. Com suas angústias, sonhos muitas vezes distantes, realizações, alegrias ou tristezas.

    Talvez esse seja o maior mérito da HQ, com influência clara de Apanhador no Campo de Centeio, ela transforma uma história sobre o nada, ou pelo menos nada realmente grande ou interessante, em um relato riquíssimo de verossimilhança e aplicabilidade. Envolvente a ponto de podermos imaginar nas situações expostas, como nós mesmos e nossos amigos.

    Alias, os personagens no decorrer da história se tornam nossos melhores amigos de infância durante aquele período. Nos chateamos, aprovamos ou desaprovamos atitudes. Temos ciúmes, gostamos mais ou menos dos pares de cada um deles. Nos sentimos parte do grupo completamente imersos e envolvidos naquele microcosmo, consumindo freneticamente cada página, pois queremos saber mais sobre os nossos fraternos. Em contraste com o sentimento de pesar cada vez maior com o desenrolar e a chegada mais próxima do fim, em que cada um seguirá seu caminho, o leitor com a sua vida, e os personagens imutados para sempre nas páginas do álbum. Esse sentimento é ajudado com o último capítulo e prólogo. Num encerramento que pode até parecer anti-climático, mas que funciona como nossa vida, em que não há grandes conclusões finais para tudo. Apenas observação e constatação do que ficou realmente marcado.

    Toda essa carga emocional e aplicabilidade, muito se deve as próprias referências do autor, é possível sentir a autorialidade latente da história, com Robinson colocando na trama muitos aspectos de sua vida para nossa apreciação. Ao sabermos, por exemplo que o autor trabalhou por sete anos em uma livraria antes de se dedicar full-time aos quadrinhos, isso só se confirma ainda mais. Além das críticas a grande industria editorial, e também aos fãs dela, por momentos chamados de zumbis. Ou também uma personagem que fala em desistir desse mercado porque está começando a pegar nojo.

    Interessante página de perguntas e respostas, que acontece entre alguns capítulos

    Além das inserções pessoais, o quadrinho é abarrotado de referencias à cultura pop em geral. Seja nos desenhos com easter eggs, citações a diálogos de filmes, discussões sobre o melhor filme de um diretor. Dentre uma lista imensa posso citar alguns: Planeta dos Macacos, Beatles, Star Wars, Peanuts, Mafalda, Woody Allen, o já citado Apanhador no Campo de Centeio, e por aí vai. Essas referências, muitas vezes podem soar jogadas em obras que o autor não constrói um cenário ideal para incluí-las, apenas para mostrar que ele conhece e gosta. Mas esse não é o caso de Fracasso de Público, onde tudo se encaixa, você consegue imaginar uma pessoa como aquela retratada, na vida real, fazendo uma citação a Star Wars por exemplo.

    Sobre a arte, ao mesmo tempo que nota-se a evolução das primeiras até as últimas páginas, ainda assim não há nada de excepcional, o que existe é consistência. Além de um esforço muito bem aplicado para dar vida e emoção aos personagens. A sequência de quadro dá ainda mais o tom autoral da história, basicamente seguindo a mente do autor, fazendo malabarismos interessantes, mesclando elementos entre cenas, ou enquadrando separado vários pontos de um mesmo ambiente para mostrar a separação entre os retratados no momento.

    Outro ponto a se ressaltar é que a HQ te leva em vários momentos para uma montanha russa emocional. Passando de sequencias hilárias, para um ou dois quadros depois sofrermos um baque de tristeza ou agonia. O autor trabalha isso muito bem, tanto a dramaticidade sem nunca forçar o tom. Como na comédia que chegam a render crises de riso. Há de se notar que é mais um dos casos em que a HQ é inspirada em nossa própria vida. Em que as situações mudam sem aviso, sem enrolação, os bons ou maus momentos podem ser iniciados ou interrompidos de maneira estanque sem nem bem percebemos o que de fato aconteceu.

    Há também, alguns momentos de tensão na história. Mas por se tratar de uma trama cotidiana, nunca será uma cena entre o super-herói enfrentando o super-vilão para salvar o mundo. Mas sim, uma cena de tensão pré-beijo por exemplo, que se estende por várias páginas, com diálogos atravessados, construindo tão bem a situação de ambiguidade que o personagem está passando. Que ao final do trecho, tive que dar uma pausa na leitura, relaxar e tomar um ar, tenso como nunca poderia imaginar por causa de um simples beijo.

    Fracasso de público é uma das melhores HQs que tive o prazer de ler. Justamente por sua simplicidade, por ser quase um retrato de uma vida que poderia muito bem ser a nossa. Uma história sem grandes reviravoltas, mas que nos faz refletir e observar sobre a nosso próprio cotidiano, nossas escolhas e atitudes, sem nunca versar por qualquer tipo de auto-ajuda, ou julgamentos moralistas, tão comuns nesse tipo de narrativa. Uma obra-prima dos quadrinhos independentes que merece ser apreciada, por qualquer público, habituado ou não com a arte sequencial.

  • Crítica | Anônimo (2013)

    Crítica | Anônimo (2013)

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    Afastando-se do tradicional costume de produções com desastres e catástrofes mundiais, Roland Emmerich se volta para uma teoria a respeito da origem do dramaturgo William Shakespeare, polêmica fundamentada por um estudioso em décadas passadas, afirmando que um dos maiores da literatura mundial era apenas um ghost writer de um nobre inglês.

    Antes que o absurdo gere protestos ou reclamações, Anônimo é um interessante exercício shakespereano. A trama inicia-se no próprio teatro com um ator apresentando a importância do dramaturgo e pedindo ao público um pouco de audácia para ouvir uma outra história sobre a origem deste mito. É a partir dessa história dentro da história – elemento clássico do autor – que conhecemos seu argumento.

    Um dos fundamentos principais para afirmar que William Shakespeare foi apenas um objeto de um escritor desconhecido se relaciona ao pouco material histórico encontrado do dramaturgo. Como um mero ator de teatro, há quem afirme que William não teria formação suficiente para escrever as peças e o fato de ter morrido sem nenhuma posse confirmaria sua função de fantasma. Afirmações que vão contra uma gama vasta de escritores que, mesmo iletrados ou sem uma formação acadêmica, produziram grandes obras literárias.

    No filme, o autor das conhecidas histórias mundiais viria da pena de Conde de Oxford, um apaixonado pelas letras mas que, oprimido pela família, prefere compor suas obras as escondidas. Encontrando na figura deste dramaturgo a possibilidade para escoar, de tempos em tempos, sua produção, alimentando a lenda de William Shakespeare.

    Leitores que possuem afinidade com o bardo podem reclamar do exagero da narrativa mas não devem deixar de admirar diversas cenas famosas de suas peças que, mesmo entrecortadas, aparecem em cena em diversas apresentações. Pois, a potência de Shakespeare foi tão grandiosa que atraiu a própria Rainha além das massas populares que lotavam o teatro para assistir suas obras.

    A produção de Emmerich tem um figurino tão apurado que mereceu a indicação ao Oscar. É curioso compreender porque diretor tenha se interessado por uma história que nada tem a ver com seu projeto constante de destruição mundial. Mesmo valendo-se de uma teoria fraca que tem mais imaginação do que realidade, a história é divertida e não deixa de ser um exercício de questionamento sobre a potência de grandes escritores. Mais importante é que o público saia deste filme desejando saber mais sobre Shakespeare, debruçando-se em sua obra única e ilimitada. Mesmo que Shakespeare não tenha sido este que conhecemos, a força de suas histórias falam por si só.

  • Melhores Animes de 2012

    Melhores Animes de 2012

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    Tentei por bastante tempo, mas falhei em pensar numa introdução que não parecesse já ter sido usada por Sérgio Chapelin em alguma Retrospectiva da Globo. Então não farei introdução. Quero apenas, antes de ir à lista daquelas que, em minha opinião, foram as melhores animações lançadas no Japão em 2012, dizer que elaborar esse Top foi difícil e que o resultado final não me agradou muito. Vejam bem, muitas das séries com grande potencial desse ano começaram somente em outubro, e, portanto, ainda se encontram na metade no momento em que elaboro esta lista. Já outras se equiparem em qualidade com títulos que entraram na seleção final, mas, por razões que nem eu sei explicar em pormenores, optei por deixar de fora. É, não tem jeito. A vida é feita de escolhas e tudo. Só gostaria de fazer menções honrosas a Kyoukaisenjou no Horizon II, Tsuritama, Natsuyuki Rendezvous, Nisemonogatari e Magi, que, caso se tratasse de um Top 15, seriam os nomes complementares. Bem, parece que escrevi uma introdução. Mas tanto faz. Segue o que interessa:

    10º – Kuroko no Basket

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    Devido a um boom de popularidade que há muito não se via, em menos de um ano o primeiro trabalho de Tadatoshi Fujimaki na maior antologia para garotos do Japão, a Shonen Jump, passou de série constantemente ameaçada pelos cortes editoriais a segundo mangá mais vendido da Terra do Sol Nascente. Canalizando desde uma imensa (e ainda em expansão) base de admiradores até preocupantes ameaças de morte ao autor, Kuroko no Basket foi um dos poucos títulos que causou comoção em 2012. E um dos motivos foi, indubitavelmente, uma adaptação animada de 25 episódios concedida pelo estúdio Production I.G.

    Se apropriando de um já conhecido modelo de mangás de esporte, que consiste na escalada do nada ao topo despendida pelos membros de uma equipe colegial sem prestígio, o anime lança mão de todos os clichês do gênero: intermináveis treinamentos, o estabelecimento de rivais, o desenvolvimento de habilidades inverossímeis (não, nada de bolas que pegam fogo), o fortalecimento de laços de amizade, etc. Aliando momentos de descontração ao frenético ritmo de partidas muitíssimo bem animadas – apesar de alguns problemas orçamentários que levaram ao reaproveitamento de tomadas aqui e acolá –, Kuroko no Basket aproveita uma fórmula já utilizada por muitos para, no fim,  empolgar como poucos.

    9º – Hyouka

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    Ao deixar de entregar a terceira temporada de Suzumiya Haruhi no Yuuutsu em 2012, ano em que o retorno da milionária franquia às telas era dado como quase certo, o Kyoto Animation decepcionou um sem número de fãs. Em vez de voltar a explorar as aventuras da série de light novels mais bem-sucedida da história, o estúdio optou por lançar duas produções inesperadas: uma totalmente original (Chuunibyou demo Koi ga Shitai!) e uma adaptação de 22 episódios da série de livros de Honobu Yonezawa (Hyouka). Esta, uma infantilidade de mensagem duvidosa. Aquela, um curioso slice of life pautado nos mistérios banais com que se deparam os integrantes de um Clube de Literatura Clássica – que, ao contrário do que sugerem os primeiros episódios, acaba surpreendendo.

    A animação deslumbrante propiciada pela anormal soma investida no projeto, a direção segura de Yasuhiro Takemoto, competente ao apimentar o cotidiano com enquadramentos e cortes criativos, e uma trilha sonora indescritível, que comporta tanto faixas originais quanto composições de monstros da música clássica como Johann Sebastian Bach e Gabriel Fauré, conferem a Hyouka personalidade e carisma similares ao que encontramos no melancólico dia-a-dia em seus bons personagens.

     8º – Psycho-Pass

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    Responsável pela franquia Ghost in the Shell, que talvez seja o maior expoente da temática cyberpunk no âmbito das animações, o Production I.G resolveu revisitar os futuros tecnocráticos distópicos em Psycho-Pass. Passado num universo em que o estado mental dos indivíduos é arduamente monitorado por um sistema que os divide entre cidadãos saudáveis e criminosos latentes (aqueles que, devido à conturbação mental, podem cometer crimes violentos a qualquer momento), a série aborda a rotina de um departamento de Segurança Pública responsável por investigar casos atrelados a pessoas que perderam o controle, e que – julgadas sumariamente pelo sistema, sem nenhum intermédio humano – devem ser ou encaminhadas para tratamento ou eliminadas.

    Com roteiro de Urobuchi Gen (Phantom: Requiem for the Phantom; Puella Magi Madoka Magica; Fate/Zero) e direção de Naoyoshi Shiotani (Blood-C: The Last Dark), esse thriller de ação provou ser um dos mais interessantes trabalhos originais em um ano no qual imperaram as adaptações. Mesmo que problemas pontuais possam ser apontados, os casos instigantes e ótimas cenas de ação de certo garantem seu lugar nesta lista.

     7º – Tonari no Kaibutsu-kun

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    Após o péssimo Sengoku Collection, o Brains Base, estúdio que vem se destacando nos últimos anos por contornar com criatividade as limitações financeiras, se redimiu ao transcrever para o audiovisual a comédia romântica Tonari no Kaibutsu-kun, primeiro grande hit da autora de mangás para garotas que atende apenas por Robiko.

    Assim como Kimi ni Todoke, projeto anterior do diretor Hiro Kaburaki, com o qual é impossível não traçar um paralelo, Kaibutsu-kun parte de um pressuposto mais velho do que andar pra frente (“opostos que se atraem”) e proporciona uma diversão simples e descompromissada, voltada para adolescentes. Dispondo de um carnaval de cores e personagens carismáticos, a animação, assertiva ao conseguir encaixar melodrama em meio a piadas quase ininterruptas, mostra-se apaixonante.

     6º – Joshiraku

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    Nas discussões totalmente aleatórias que surgem durante os encontros de um grupo de cinco garotas, o gênio do humor Kouji Kumeta, aclamado por Sayonara Zetsubou Sensei, esconde um leque de ácidas criticas não só à atual indústria do entretenimento japonês, levada pelo fenômeno moe ao cúmulo do escapismo, como também à política e às tendências (ou doenças) sociais de sua terra. Esse é o mote de Joshiraku, mangá que muitos acreditavam ser impossível adaptar. Frente a essa descrença, o J.C Staff, estúdio conhecido por irritar fãs ao modificar diversas obras, tinha que fazer desse premeditado erro um grande acerto. E fez. Em um ano muito bom para as comédias, em que tivemos os hilariantes Thermae Romae, Binbougami ga! e Danshi Koukousei no Nichijou, nenhuma outra conseguiu tocar Joshiraku, que, com um humor ríspido, porém inteligente, se sagrou campeão em arrancar gargalhadas.

    5º – Fate/Zero (2nd Season)

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    Corridos alguns meses, a segunda temporada de Fate/Zero veio para fechar a trajetória de uma das Guerras do Santo Graal. Tendo eliminado na primeira parte a necessidade de introduzir personagens e explicar o universo, os 12 episódios restantes se ocuparam de entregar os confrontos épicos, sanguinolentos e imprevisíveis prometidos.

    Contando com a mesma equipe e o mesmo orçamento descomunais do Ufotable, o anime contém, sem sombra de dúvida, as melhores lutas vistas na TV japonesa em 2012. Já no tocante a cenários, fluidez da movimentação e qualidade geral da animação, apenas o já citado Hyouka poderia barrá-lo. Em suma, um deleite visual, que peca apenas por seu final anticlimático.

     4º – Natsume Yuujinchou Shi

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    Tudo o que foi dito no texto do ano passado, quando a terceira temporada do sempre excelente Natsume Yuujinchou recebeu a medalha de bronze, pode ser repetido aqui. Não há muito a acrescentar. Trata-se de uma das mais envolventes séries da atualidade, que, em seu 4º amontoado de 13 episódios, repetiu o feito dos anteriores: encantar o espectador a cada episódio.

    Destoando da dinâmica de “causo da semana” que permeou os anos anteriores, um fio condutor mais nítido fez desta a temporada mais focada no mundo dos exorcistas e na prática de tal ofício – aspectos que eram antes apenas mencionados vez ou outra sem maiores explicações. Por conta disso, para desespero dos fãs que preferem as aventuras breves e autocontidas, arcos de dois ou mais episódios dominaram Natsume Yuujinchou Shi. Contudo, essa pequena alteração não turvou a essência da série.

     3º – Empate:

    JoJo’s Bizarre Adventure

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    O segundo mangá mais longo da história da Shonen Jump, contando com 107 volumes publicados e ainda em produção, já recebera três versões animadas no passado, resultando num fracasso maior que o outro. Quando ninguém mais acreditava que JoJo’s Bizarre Adventure algum dia pudesse ser dignamente adaptado, o pouco expressivo David Production surpreendeu a todos, entregando um dos mais empolgantes e espirituosos títulos do ano. Qual foi o segredo? Um orçamento assombroso, uma equipe imensa e a utilização das mais modernas técnicas de animação? Não! Pelo contrário: pouco dinheiro investido – o que obrigou o time de produção a se virar com uma animação pouco movimentada, que recorreu a onomatopeias soltando na tela e outros recursos criativos para gerar emoção – e fidelidade à obra original foram os trunfos. Resgatando o clima dos animes oitentistas através de seu character design retrô e de uma trilha sonora saudosista – que conta, por exemplo, com Roundabout, da banda britânica Yes –, Jojo’s promove uma oportuna viagem ao passado.

    Uchuu Senkan Yamato 2199

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    Remontando o longínquo ano de 1974, o remake de um dos maiores clássicos de Leiji Matsumoto veio para apresentar às novas gerações uma Space Opera tradicional, com todos os seus clichês e exageros. Em uma guerra interplanetária contra um império expansionista, os tripulantes da espaçonave Yamato devem cruzar a galáxia a fim de encontrar um meio de salvar o que restou da Terra. Amalgamando excelentes batalhas de fragatas cósmicas e personagens que despertam empatia (tanto os mocinhos quanto os vilões), o estúdio Xebec foi feliz ao recontar essa história, que mostra ainda ser atual.

     2º – Uchuu Kyoudai

    SB3

    Quando o A-1 Pictures anunciou Uchuu Kyoudai, adaptação do famoso mangá homônimo de Chuuya Koyama, muitos pensaram que um projeto de longo prazo, com no mínimo um ano de duração, e que, por conta disso, se daria ao luxo de dispor de uma narrativa mais lenta, seria difícil e, por que não dizer, chato de se acompanhar semanalmente. Foi assim que pensei na época, admito. Agora, passadas quase 40 semanas, me sinto muito feliz por constatar que quebrei a cara. A falta de pressa, observa no cuidado com que cada personagem, evento e diálogo é construído provou ser o grande atrativo de Uchuu Kyoudai.

    Intercalando passado, presente e futuro num clima novelesco, o anime narra a história de dois irmãos que desde a terna infância desejam se tornar astronautas. Uma vez que o mais novo deles realizou o sonho, o mais velho precisa superar seu ceticismo e encarrar seus medos a fim de não ficar para trás. Fruto de uma ostensiva pesquisa, Uchuu Kyoudai aborda de modo realístico as questões cientificas, assim como aquelas que concernem à rotina das agências espaciais. Desse modo, crível e gradualmente, o anime se tornou parte da rotina de milhares de espectadores, que aguardam ansiosos por mais um capítulo dessa jornada.

    1º – Sakamichi no Apollon

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    Jazz!

    Oito anos após sua última obra-prima, Samurai Champloo, de 2004, Shinichiro Watanabe (Cowboy Bebop; Macross Plus), talvez o maior diretor de animes televisivos de todos os tempos, com o respaldo do Tezuka Productions, decidiu se aventurar em sua primeira adaptação: o romance de época de Yuki Kodama, Sakamichi no Apollon. Passado em 1966, o enredo entrelaça as histórias de jovens que se veem unidos por uma paixão em comum: o jazz. Paixão essa que sabidamente também é compartilhada pela dupla que comandou o projeto; o já citado diretor e a lendária compositora Yoko Kanno, responsável por pontuar musicalmente cada uma das viradas do roteiro.

    Seja em belas composições originais, seja em versões de clássicos de gigantes como Art Blakey, John Coltrane, Miles Davis, Horace SilverDuke Ellington e Chet Baker, a música é a essência de Sakamichi no Apollon, que, ao longo de 11 episódios, reuniu drama, comédia e romance numa homenagem musical, retratando um conturbado período da história do Japão sob uma ótica sensível. Um trabalho de mestre, que não poderia ocupar outra posição.

    Texto de autoria de Alexandre “Noots” Oliveira.