Os anos 1980 e 90 têm sido lembrados com muito carinho pela cultura pop. Essa relação com o período retrata não apenas a idade de quem produz o conteúdo de hoje, mas também como a visão da época está muito ligada a sentimentos de nostalgia e inocência das memórias de infância. Blitzkrieg, quadrinho independente lançado por Bruno Seelig em 2016, trata justamente dos dilemas enfrentados pelas crianças da época e que poderia estar presente em vários filmes da sessão da tarde: amizade, união e a superação dos seus medos.
A história em quadrinhos mostra o dia a dia de quatro garotos entrando na adolescência e lidando com o maior drama possível no colégio: o bullying. Todos eles são atormentados pela figura mais presente nos filmes da época: o roqueiro cujo único objetivo parece ser atormentar a vida dos protagonistas. E destes, só sabemos o nome de dois: Douglas, ponderado e pacifista, e Daniel, que não apenas começa a narrar a história, como dá o seu nome. Blitzkrieg, tática usada pelo exército alemão na segunda guerra, é a forma que eles encontram de superar o drama, derrotando o inimigo antes que eles saibam o que está acontecendo. Algo que vai bem, até que a vida real acontece.
A arte de Seelig mistura a simplicidade nos traços com o cuidado de ter pequenos elementos de referência nas cenas que se desenrolam. Esses elementos não apenas mostram informações úteis, como a época que a obra se desenrola, mas também dos gostos desses garotos. O cenário principal disso é o quarto de um deles, onde vemos desde o videogame e pôster do Esquadrão Classe A até diversos brinquedos expostos, revelando o momento de transição da infância para um período mais complexo e conturbado. O preto e branco, possivelmente uma escolha mais relacionada ao custo e trabalho que à questão estética, não deixa a desejar, mas fica mais vazia quando se conhece a forma de colorização do desenhista em outros trabalhos.
Posteriormente, o quadrinho foi lançado pela Editora Mino com uma continuação sob o título Market Garden. De qualquer forma, Blitzkrieg é mais uma daquelas obras que sabem como te levar para um passeio num outro período, onde o máximo de tecnologia envolvida no contato com alguém era uma ligação e as maiores preocupações eram aguentar um valentão e passar de ano. Essa boa condução, aliada ao tamanho e a condução do quadrinho fazem com que seja uma boa leitura de uma terça feira, enquanto espera na fila do caixa do supermercado e treme de medo de ter estourado o limite do cartão, preocupação muito mais adulta que a do Daniel e sua trupe.
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Texto de autoria de Caio Amorim.