Carnaval de Meus Demônios (Balão Editorial), de Guilherme Petreca é uma novela gráfica sem texto, uma história em quadrinho sem diálogos; apenas os personagens, os enquadramentos, o ambiente e o espaço vazio. Não por acaso é uma obra falante, plena de significados e recortes.
O conto gráfico parte da figura simbólica de um menino com seu balão para o encontro com um inusitado ser onírico. O ente desconhecido funciona como uma espécie de arauto aos outros demônios que também se encontram próximos. A indefinição dos seres, do ambiente, e da própria jornada do personagem principal cria lacunas que, acredito, serão preenchidas pela experiência do leitor. As interpretações podem ser as mais variadas: será uma passagem de idade do menino? Um desafio dificílimo? Uma dívida mortal? Uma dívida sendo cobrada? Um sonho? Uma versão de universo? Uma história de amor às avessas?
Apesar das poucas páginas, Petreca consegue desenvolver uma eficaz narrativa onde tateamos o vazio ecoante do indeterminado. Guiamo-nos apenas pelo grafismo em preto e branco que transmite beleza, sutilidade e emoção à história. Algumas formas lembram o burlesco, o circense, enquanto conferem uma pitada onírica (ou alucinógena?), ao corpo da obra. Outro ponto interessante, as máscaras que marcam a narrativa são também instrumento de inexatidão; elas conferem mais possibilidades interpretativas ao todo e nos deixam intrigados com o que escondem.
Livro que trabalha muito bem o vazio, as páginas negras, o significado que se esconde ao redor do que é pintado. Este talvez o fascínio da história: o vácuo da reflexão. A inquietação de tentar explicar a beleza dos traços que nos acompanham.
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Texto de autoria de José Fontenele.
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