Lex Luthor é um personagem cujo caráter e código ético sempre foram complexos. Mesmo quando apresentava uma faceta maquiavélica era um homem diferenciado, como há de lembrar que, em meio as suas tantas origens, há sempre a obsessão com o alienígena onipotente, mas não há somente isso, e Lex Luthor: Biografia Não Autorizada explora um pouco dessas questões. Os roteiros de James D. Hudnall mostram uma história de investigação semelhante aos livros de detetive, acompanhados da arte do uruguaio Eduardo Barreto, cujo traço característico torna ainda mais singular por conta das cores de Adam Kubert.
A revista é bem curta, tem apenas 92 páginas. A narrativa se dá pelas palavras do biógrafo e personagem Peter Sands. No começo se desconstrói até a figura pacata do alter ego do Superman, colocando-0 como suspeito de um assassinato. Há muitos elementos de literatura noir e de filmes de suspense, Metrópolis é mostrada em sua fase mais suja e menos higienizada, não é o perfeito lugar pra morar como na maioria das historias do Super.
O herói, aliás, mal é mencionado e isso reforça o tom e espírito da história bem adulta, surpreendentemente madura. Aqui Lex tem origem humilde, um passado que envolve teorias da conspiração em relação ao fato de ser órfão. E envolve também delinquência juvenil e bullying sofrido e implicado. Adulto, ele é acusado de assédio moral, perseguição a quem se opõe a ele e de violência até com parceiros sexuais e amantes.
No encadernado da Panini há também outras duas histórias, uma da Action Comics 23 e outra em Man of Steel 4 de John Byrne. A presença dessas duas origens diferentes ajuda a concluir como funciona a vida de Luthor, que variava entre o cientista louco e o mafioso que parecia uma cópia do Rei do Crime/Wilson Fisk da Marvel, mesmo sendo mais antigo que esse personagem. Na história de Barreto e Hudnall ele tem personalidade própria, embora reúna elementos desses dois estereótipos. O que se vê em Lex Luthor: Biografia não autorizada é uma história de inconsequência e sociopatia, aspectos subalternos à vaidade de seu personagem central, tudo muito bem explorado, certeiro e condizente com as outras contrapartes do vilão e além disso, a capa da revista ainda seria profética, como visto abaixo, com a coincidência de ter a imitação de uma biografia de outro ex-presidente dos Estados Unidos, muito antes de Donald Trump e o próprio Lex Luthor chegarem ao posto de comandante em chefe da nação que “se diz” América.