Correndo em paralelo com a revista mensal Marvel Star Wars, Marvel Darth Vader começa a partir do fracasso na queda da Estrela da Morte, com o lorde sith tendo de pagar pelos erros na tal batalha. A postura arrogante e invasora do Darth faz um paralelo com a audácia de seu filho, em O Retorno de Jedi.
O fato de a visita ao seu planeta natal ser pessoal causa um tremor ainda maior na história, uma vez que a aproximação entre os parentes fica cada vez mais evidente, além de acirrar os ânimos ao extremo. É discutindo com Hutt que o líder do governo expressa algo interessante para o cânone, de que o truque da manipulação é uma prática jedi, enquanto os sith usam uma força opressora sobre os seus inimigos, normalmente matando estes.
Os quadros do lendário desenhista Salvador Larroca (conhecido pelos números de X-Men, Excalibur e Quarteto Fantástico) são belíssimos, muito bem enquadrados e construídos em especial no final da primeira edição, onde o antigo residente de Tatooine avassala com uma tribo de Tusken Raider, em uma referência óbvia ao seu acesso de fúria em Ataque dos Clones. Impressiona como mesmo os momentos de fortes emoções da trilogia prequel funciona melhor em mãos que não envolvam os esforços de George Lucas.
O primeiro arco, denominado apenas Vader, dura seis edições, com roteiros de Kieron Gillen (responsável por Wolverine – Origem II e pelos números recentes de Homem de Ferro e Novos Vingadores). O principal mote da revista é mostrar a ascensão da personagem após o fracasso ocorrido em Uma Nova Esperança. Para isso, são mostrados personagens novos e antigos. Dos veteranos, o destaque vai para o Grande General Tagge, o mesmo que discutiu com o antigo jedi à bordo da estação espacial, e que agora estava acima do protagonista. Dos novatos, o destaque é a arqueóloga Doutora Ama Aphra, que faria parte de um esforço organizado para interesses pessoais do sith. Seu diferencial estava em sua nave, Ark Angel, que se camuflava como um asteroide.
O fato de não ter uma tropa atrás de si faz Vader procurar alternativas, montando então uma força tarefa a fim de encontrar o seu alvo. O ideal para si é recorrer a uma tática antiga, tendo que lançar mão de droids, que não discutiriam suas ordens, o que faz o personagem retornar a Geonosis, como no Episódio II. As declarações dos nativos, de que o Império devastou sua fábrica e recursos, demonstra um método parecido com o de Gengis Khan, de consumir e terra-arrasar o território dos opositores.
Apesar de ter boas idéias em conceitos, a composição dos caçadores de recompensa soa maniqueísta, com a presença de uma dupla de droids e um wookie negro (Triplo Zero, BT-1 e Krrsantan Negro respectivamente), em uma versão “cavaleiros negros” dos heróis da resistência. As motivações dissonantes de Aphra e Vader fazem perguntar o motivo de ambos estarem juntos, uma vez que não há grandes motivos – além evidentemente do pagamento – para alguém com o ethos tão incorruptível agir a favor do Império. Todo o pragmatismo do déspota não combina com o maniqueísmo infantil da composição visual dos personagens, fazendo tudo soar falso.
A viagem a Son Tuul, no anel externo é tão genérica que faz até confundir suas locações com as de Tatooine, já que lá ocorre uma reunião dos body hunters, como se houvesse um sindicato destes. A ideia já é risível isolada, só piorando quando as conversas começam, onde Aphra propõe um grupo de ajuda mútua entre os mercenários.
Como na série de quadrinhos Star Wars, o desfecho do primeiro arco é decepcionante por ter um conteúdo raso e bobo. O projeto de substituir a presença de Vader por ciborgues que manejam o sabre de luz é pífia, e não condizente com as atitudes de um conhecedor da força como é Sidious, mesmo que o artificio dentro da revista esteja lá unicamente para causar ciúmes em seu aprendiz, e claro, para fortalecer Tagge.
Exceto pela rivalidade estabelecida entre Vader e Tagge, quase não há nada de positivo a se destacar em detrimento dos antagonistas. Larroca consegue captar bem as palavras organizadas por Gillen, pondo nas páginas toda a raiva incontida entre ambos, bem como registra em imagens a batalha de egos ocorrida entre os dois, estabelecida desde o primeiro filme. Surpreende que tal aspecto tenha sido tão pouco explorado anteriormente, mesmo no Universo Expandido, e talvez resida aí o maior mérito desta nova versão multimídia de Star Wars.
A descoberta – finalmente – da identidade do homem que destruiu a Estrela da Morte tem a mesma pouca força que na outra revista, e não justifica o montante de coincidências baratas, tampouco faz tornar-se palatável a pouca inteligência do personagem em não ter qualquer percepção da verdade.
Sombras e Segredos começa com o protagonista se sentindo duplamente indignado, primeiro por perceber que seu mestre já guardava possíveis substitutos para si por mais de vinte anos – como já foi citado antes – e por perceber que seu filho estava vivo, o que faz um paralelo com o passado sentimental que ele refuta. Curiosamente as duas situações emergenciais se anulam, fazendo-o ter necessidade de ter uma postura mais enérgica e pontual ao invés de demonstrá-lo letárgico e combalido como seria o normal. Vader finalmente volta a ser o Vader da trilogia clássica.
O tom das aventuras com Aphra são demasiado agridoces, ao ponto de soar estranho essa abordagem em uma publicação focada num vilão já consolidado. Vader não é mais Anakin Skywalker, e todo o entorno seu, incluindo até as péssimas cópias malignas dos droids pontuam isto, exceto a presença da caçadora de recompensas que ganhará uma revista própria. Também soa contraditória o fato dela permitir o sadismo por parte de seus capangas, já que ela aparenta um otimismo forte demais para seu ofício, sendo essa característica uma ressalva que talvez aponte para o seu código de ética estabelecido e diferenciado, que na melhor das hipóteses, mostrará mais a frente que há um passado nebuloso e pesado para a personagem.
Há uma revista inteira dedicada a ida dos protagonistas a Naboo, unicamente para confirmar um fato que já estava descoberto, ratificando que ao final de A Vingança dos Sith, o corpo de Padmé tinha um holograma que disfarçava uma falsa gravidez. A tática é redundante e só serve para mostrar que o informante de Naboo – nunca antes mencionado – foi fiel ao ponto de esconder que o parto havia sido de gêmeos, e portanto, seriam dois e não um alvo para o lord das trevas.
O último número mostra Vader prosseguindo na investigação a respeito do rebelde caçado, dando demonstrações de poder inimagináveis, como a derrubada de uma Y-Wing somente com o sabre de luz, que é enviado a força como uma lança e destrói uma das partes traseiras da nave. O roteiro é muito corrido e o segundo arco termina sem uma conclusão minimamente satisfatória, carecendo de clímax, tudo para preparar o caminho para o crossover entre revistas, chamada Vader Down. O resultado final deste Darth Vader é decepcionante em comparação com o potencial dos conceitos estabelecidos.
É melhor que o Star Wars mas confesso que ainda queria ler uma história que mostrasse com qualidade o potencial de Vader como vilão. Ele é o fodão, todo mundo o teme-o mas porque? Ele é o mestre da frase feita em muitas cenas e com isso fica mais parecendo um vilão diva do que um vilão temido. Dá pra perceber que ele tece um plano paralelo aos desejos do Império mas falta uma profundidade que mostre isso de fato. É um personagem incrível e icônico e as vezes parece que sabe disso dentro das histórias.