Talvez a melhor forma de explicar Mondo Urbano para o leitor seja o texto de Rafael Grampá, publicado no prefácio da revista, comparando o ofício de um quadrinista com o de um músico, que esta à caça de uma banda. Tal problema de incompatibilidade é compartilhado entre os dois tipos de artista, pois a parceria entre artistas da nona arte também é difícil e requer a união entre pessoas confiáveis, claro, com uma fina sintonia bastante difícil de encontrar. A fúria incontrolável unida à violência disparatada mostra suas garras já no capítulo um, a agressividade do Rock é a tônica da história.
Mateus Santolouco e Eduardo Medeiros mostram no argumento suas grandes influências musicais, citando trechos de canções nos inícios dos episódios. A arte de Rafael Albuquerque (de Vampiro Americano, Savage Brothers, Bezouro Azul e Superman /Batman) traz legitimidade até a selvageria presente no ritmo de bater de cabeças e riffs de guitarra em altíssimo volume, além de capturar como ninguém a violência dos atos do protagonista, emulando os efeitos do uso excessivo de entorpecente.
A arte entre os capítulos se alterna entre um desenhista e outro, fazendo com que as produzidas por Rafael tenham um tom um pouco mais sério em suas abordagens. O roteiro abusa de clichês ligados ao rockstar, tratando de viagens alucinógenas, boatos a respeito de pactos satânicos e tantos outros elementos aludindo figuras ilustres do Hard Rock e do Rock Clássico. Escatologias e piadas de cunho adulto permeiam todo o mote da história, como a overdose que os autores adeptos do Sexo, Drogas e Rock ‘n’ Roll tanto sonhavam em ter como fim.
Os signos escolhidos pelos autores são emblemáticos. A Banda De-mo representa o sucesso máximo dentro do nicho, permeado de boatos que beiram o impossível para explicar sua trajetória de sucesso. A fama repentina de Van Hudson (líder do grupo) tem uma razão para ter sido assim tão caricata quanto sua alcunha, com uma origem aventada junto a um boato satânico. Sua morte é envolta por muitos mistérios. A droga nova, chamada Fuckdrina remete a busca pelo barato perfeito. A variação de estilo cai muito bem, entre o cartunesco, mas nada infantil, abordagem até o clássico sério lápis de Albuquerque, que contrasta as porralouquices mostradas nas páginas.
O roteiro brinca muito com os sonhos dos músico iniciantes, com as luxúrias, abusos e regalias de um rockstar, com o sucesso musical e consequente legião de fãs. O epílogo lembra muito o drama da segunda temporada de Californication, onde Hank Moody (David Duchovny) investiga a vida do produtor musical Lew Ashby (Callum Keith Rennie), até sua morte por overdose. A estética escolhida tem mais a ver com espécimes do Rock internacional do que com os “pauleiras brazucas”, o que o torna o drama universal. Mondo Urbano é um ótimo exercício autoral da parte dos três realizadores, que sabem dosar suas referências, mantendo uma respeitosa reverência àqueles que estes veem como mestres.