Este mangá de volume único lançado pela Editora JBC é vendido como “um conto de fadas para adultos”. Tal definição é controversa e soa bem pretensiosa, muito semelhante à obra em si. A artista japonesa Natsume Ono aposta em um traço diferente da maioria dos mangás e numa narrativa com poucas falas. Por conta disso, O Homem que Foge não vai agradar todo mundo (e foi este o meu caso).
É possível ler as 200 páginas em poucos minutos devido às poucas falas. A autora mantém um ritmo narrativo com muitos quadros mudos, o que dá muita agilidade e dinamismo à obra. No entanto, ainda que isso seja um de seus maiores méritos, talvez seja o seu maior defeito: o minimalismo não funcionou tão bem, tornando a história vazia e pueril durante boa parte de seu desenvolvimento.
Na trama, existe uma lenda em que um urso habita a floresta local e somente crianças podem vê-lo. Quem passar um dia inteiro com esse urso terá um desejo realizado. E o tal “homem que foge” está relacionado a esta lenda.
A história é voltada a um público adulto e mais maduro. A questão debatida aqui é a fuga dos problemas e o “eu contro o mundo”, e isso realmente é discutido de forma interessante. Entretanto, não há um grande desenvolvimento nesses temas e muitas coisas são deixadas em aberto. Algumas pessoas vão enxergar profundidade, introspecção e reflexão na história. Eu vejo uma tentativa de enganar o público, tal como alguns “jogos artísticos” ou filmes que não entregam nada e fingem ter discussões profundas quando, na verdade, te oferecem um fiapo de história que pode ser interpretado de infinitas formas. Assim fica fácil ter diversas interpretações.
Ao longo dos cinco capítulos, pouca coisa relevante é mostrada, e só há um desenvolvimento real nas últimas páginas. É muito estranho passar dezenas de páginas e não ter muito o que se discutir. O próprio estilo de arte remete a isso, traços finos e que parecem não ter qualquer arte-finalização, quase feito às pressas, repleto de rabiscos e traçados tremidos e bastante simplificados. Isso foi claramente proposital, basta ver a obra anterior de Ono, House of Five Leaves, onde os desenhos possuem melhor acabamento. De certa forma, as ilustrações “desleixadas” fazem sentido dentro do contexto do mangá, ainda que cause um certo incômodo e até mesmo artificialidade dentro da própria proposta da autora.
Recomendo esta obra com ressalvas. Por mais que existam sutilezas e aspectos interessantes — principalmente em sua conclusão —, O Homem que Foge promete muito e entrega pouco, soando bastante vazio no final das contas. A obra tenta fugir dos mangás convencionais, o que é um mérito, mas se mostra pretensiosa. Consigo ver pessoas gostando do mangá, mas definitivamente não é para todo mundo. Se tiver oportunidade, leia, tire suas próprias conclusões, vai demandar poucos minutos do seu tempo e, quem sabe, a história consiga falar algo pra você.
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