Vamos direto ao ponto: vale a pena ler apenas um volume dessa obra monumental que é Peanuts Completo? A resposta é: com certeza! Difícil é não querer ler os outros volumes…
Peanuts Completo é uma coleção que se propõe a publicar da primeira à última tira de Charles M. Schulz, cada volume correspondendo a dois anos de publicações diárias e dominicais (exceto o primeiro volume, que abraça três anos). As tiras diárias diferenciam-se por serem, via de regra, de apenas quatro quadros, enquanto as dominicais possuem três linhas com oito ou mais quadros. No Brasil, a L&PM Editores já lançou sete dos vinte e cinco volumes previstos, com uma qualidade e acabamento bastante superior a outros produtos da casa (que é especializadas em livros de bolso).
O volume quatro da obra registra todas as tiras publicadas entre os anos 1957 e 1958. Os personagens mais conhecidos de Schulz começam a ganhar os traços e contornos com os quais ficaram conhecidos até hoje. Lá pela metade do livro vemos Snoopy ganhando algumas de suas principais características (no primeiro volume ele aparenta ser um cãozinho beagle normal), principalmente andar sobre duas patas.
O estilo aparentemente inocente das histórias de Schulz contrasta em muito com o de outros autores que utilizam a infância como temática de suas tiras. Enquanto a Mafalda do argentino Quino é altamente politizada e preocupada com questões globais de sua época e Calvin, de Bill Watterson, é extremamente criativo e agitado, Charlie Brown está muito longe disso. Questões políticas são tratadas de muito leve (quando tratadas!), e a imaginação exacerbada de Calvin contrasta com a dura realidade do bom e velho Charlie Brown. O garoto lida diariamente com frustrações, decepções e o peso de suas próprias limitações. Cobrado constantemente pelos seus amigos por coisas que ele supostamente deveria dominar, Charlie Brown está menos preocupado com a fome no mundo (como Mafalda) do que com que cara vai aparecer na escola amanhã após ter perdido o jogo de beisebol.
As piadas recorrentes ganham bastante espaço durante a construção das personalidades de cada criança. Lucy se afirma como a maior implicante do mundo, ganhando inclusive troféus para provar. Linus não consegue se separar de seu cobertor – objeto de transição entre sua primeira e segunda infância. Schroeder, que era um bebê no primeiro volume, passa a ser religiosamente devotado à vida e obra de Beethoven, ignorando todas as investidas românticas de Lucy. “Chiqueirinho” (sempre grafado entre aspas) tem um espaço considerável também, estreando nas tiras alguns anos antes do brasileiro Cascão, de Mauricio de Sousa. Snoopy rouba a cena cada vez que aparece, e vai se tornando mais humanizado pouco a pouco.
Mas são os fracassos de Charlie Brown (ainda sem seu apelido “Minduim”) que nos fazem ao mesmo tempo rir e se identificar com esse universo. O leitor sabe que Charlie Brown vai se dar mal, mas espera e torce por ele mesmo assim! Esse sentimento de empatia nos faz lembrar de nossas próprias frustrações, e de como rir disso nos ajuda a deixá-las para trás. Tanto que o próprio Schulz já disse que suas épocas mais produtivas eram as que ele estava passando pelos piores problemas pessoais! Charlie Brown não é um garoto perfeito, não é audacioso, não é sequer inteligente. Mas é por ser um garoto comum que temos essa empatia quase que imediata com ele.
Das personagens retratadas na edição, Violet é a única que tem tão pouco destaque que quase não aparece. Além disso, figuras mais conhecidas como Patty Pimentinha, Marcie, Sally e Woodstock ainda não tinham sido criados e portanto não são vistas no volume.
Não é necessário ter lido os três livros anteriores para apreciar Peanuts Completo Volume 4, que funciona independentemente das outras edições. Mas a vontade de ler os outros certamente será maior ao terminar a última tira!
Compre Aqui: Peanuts Completo – 1957 a 1958