Prophecy mostra a relação entre a sociedade e a internet. Muito mais do que uma simples ferramenta, é um ambiente em que qualquer um pode expor suas opiniões. Algo que pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal, principalmente sabendo da facilidade do anonimato. Do simples comentário à disseminação de ódio e idolatria de atos cruéis, tudo pode ser glorificado pelos corajosos anônimos por detrás do monitor.
Eis que um sujeito com máscara de jornal posta vídeos na internet dizendo que vai punir determinadas pessoas ou entidades. O motivo? Fazer justiça, talvez. Uma justiça torta ou justificável? Impossível não lembrar das convicções ideológicas de Light Yagami, o protagonista de Death Note, mas em menor proporção, afinal, mesmo cumprindo suas punições, se restringe a pouquíssimas “vítimas”.
A trama se desenrola basicamente em dois núcleos: o vilão, apelidado de Homem-Jornal (ou simplesmente Jornal) e a divisão da polícia que investiga crimes cibernéticos. A narrativa é dinâmica, não há muita enrolação e, ao longo dos três volumes publicados pela Editora JBC, os detalhes e motivações vão sendo revelados pouco a pouco. Podemos dizer que há um bom desenvolvimento dos personagens, o que não significa algo extremamente profundo. São personagens que cumprem seu papel na história, mas nenhum deles irá marcar o leitor e ser lembrado posteriormente. Talvez a figura do Jornal.
Um ponto interessante é a expressa referência às mídias sociais reais. Além do que, em diversos momentos são mostrados a reação do público em relação aos atos do Jornal, e a tradução tomou o cuidado de manter uma linguagem típica da internet, com abreviações, palavrões e sequências de letras simulando risadas. São elementos que aproximam a história da nossa realidade e nos faz lembrar de nossas próprias experiências na internet.
A narrativa é eficiente e consegue manter o interesse do leitor até o fim, mesmo que o desfecho não seja apoteótico ou memorável. Talvez não tenha sido essa a intenção do autor Tetsuya Tsutsui, mas de forma geral, conseguiu montar uma história verossímil. A sobriedade se reflete no traço firme do autor, que procura não utilizar um viés mais caricato, típico de alguns mangás. As suas escolhas de enquadramentos buscam o tempo inteiro dizer algo para além da trama e de seus personagens, demonstrando bastante maturidade, ao menos do ponto de vista gráfico. Para quem procura um mangá mais pé-no-chão, terá uma leitura agradável.