Crítica | A Múmia (2017)
A falta de produtos originais faz Hollywood requentar fórmulas antigas com uma tática falida, apresentando tais produtos ao público como se fosse algo novo. Dark Universe, da Universal Studios é apenas mais um expoente desse filão, assim como é o universo da Marvel, DC, Monstros Gigantes (com Godzilla e Kong), e claro, como eram os clássicos de Monstros da Universal. A Múmia, de Alex Kurtzman, é a gênese disso, e como ocorre com seus personagens, parece haver uma maldição sobre sua cabeça.
A Múmia teve seu primeiro filme em 1932, protagonizado por Boris Karloff em seu papel menos inspirado até então. Nesse ponto, a nova versão é bem fiel, já que tem um Tom Cruise cansado e nada inspirado, na pele do cafajeste bonzinho Nicky Morton, um sujeito que atrás de enriquecer, acaba parando no território da antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Lá, se demonstra uma amizade entre ele e Vail (Jake Johnson), além de uma rivalidade/affair com Jennifer (Anabelle Wallis), uma arqueóloga idealista, bastante diferente de Morton.
No prólogo, é mostrada a origem da criatura, no caso, a princesa egípcia Ahmanet, executada pela (desperdiçada) Sofia Boutella. Essa construção é repleta de boas ideias, mas também se demonstra cheio de problemas de execução, com uma exploração pueril do viés de maldição via sedução, sem conseguir replicar sequer os bons momentos da versão de Stephen Sommers, em 1999, uma vez que esse jamais se aceita como um filme trash, levando-se a sério demais.
Quanto aos aspectos técnicos, há muitos equívocos, a começar pela fotografia que abusa da neblina e escuridão, matando qualquer chance de susto ou pavor que poderia ocorrer através das aparições do monstros. Os efeitos também são fracos, em especial quando aparecem animais, as escalas de tamanhos são confusas, mostrando normalmente ratos tão grandes quanto gatos e besouros que tem tamanho menor que baratas. O roteiro segue na confusão, tendo entre argumentistas e roteiristas seis pessoas diferentes. Atira-se para todos os lados e pouco se acerta, em especial no tocante as motivações dos personagens, que variam entre a credulidade e o ceticismo muito facilmente.
A base do filme abuso do maniqueísmo. Não faz sentido a luta do bem contra o mal que é pretendida e claramente o texto tenta alcançar algo que não há como atingir. A pretensão de estabelecer um novo universo a se explorar faz com que as fragilidades dramatúrgicas fiquem ainda mais evidentes, tornando até as participações de Russel Crowe como Henry Jekyll algo caricato e banal. Sua personalidade aliás é de qualidade risível, uma vez que varia entre exposições bobas e show-off de transmutação e discursos piegas e vazios sobre a dicotomia entre humanos e monstros.
A solução final para a resolução da tal maldição soa tão esdrúxula quanto a vista no recente Esquadrão Suicida, já que grande parte dos poderes envolvendo a tal múmia não ocorreriam se a organização de Jekyll não intervisse como o fez. Apesar de mirar muito alto A Múmia é bastante aquém de seu potencial, servindo apenas como um pontapé muito capenga para a nova franquia do Dark Universe, não convencendo sequer no final que estabelece para si, repleto de contradições que só denigrem as poucas coisas boas levantadas na história.
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