Resenha | Interrompidos – Alê Motta
A capa árida de Interrompidos (Editora Reformatório), da escritora Alê Motta, denuncia a natureza seca e severa que permeiam os microcontos do livro. Histórias ásperas, estranhas, surpreendentes, irrompem em frases curtas e precisas. O leitor é tomado de assalto pelo inusitado ou por não esperar tanta intensidade em pequenos relatos, mas eis o impacto dos textos bem escritos: nocaute.
O objetivo dos contos é desenvolver um contexto e um conflito a partir do mínimo de palavras possíveis. O autor, portanto, deve trabalhar com o descritivo que pode ser escrito e as imagens de sugestão sob as entrelinhas ou espaços em branco da história. Logo, o escritor tem que ter habilidade para escrever apenas o essencial e, com isso, o leitor conseguir montar todo o quadro desenvolvido pela história curta. É um ofício que exige concisão e precisão.
Quando é bem executado, como é o caso do livro em questão, o resultado são nocautes literários (mais ainda que os referidos a Julio Cortázar sobre a teoria do conto). Some isso ao fato de Motta preferir histórias marcantes e assustadoras, e você vai começar a deduzir que o “Interrompidos” na capa, também tem a ver com facas, cortes, lâminas que transpassam com uma ação rápida e potente o marasmo literário do leitor.
Destaque também para as fotos que acompanham os contos. Em preto e branco, a autora busca captar o movimento das paisagens esquecidas, uma casa de barro, uma trilha de pedra entre árvores outonais, um cemitério, muros, árvores, o desconcerto dos vazios, fotografias que completam a trama afiada do livro. As imagens também contam histórias; talvez os cenários dos microcontos? Ou trata-se do real pelo real, sem filtro colorido e sem maquiagem?
Por fim, apesar de um livro composto por pequenos contos, Interrompidos, é para se ler aproveitando a densidade que as histórias encerram; violência, terror, estranhamento, mas também relações amorosas, familiares, e humor (negro, algumas vezes). Em adicional, é livro que pode ser usado por outros escritores como referência ou professores de Literatura buscando bibliografia para esse gênero literário. Leitura mais do que recomendada.
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Texto de autoria de José Fontenele.
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