Resenha | Homem de Ferro: O Demônio da Garrafa
O resgate de antigas histórias de um personagem heroico é fundamental para que se compreenda, em totalidade, as diferentes abordagens realizadas desde sua criação. Ainda que hoje o vasto material da Marvel Comics, desde seu lançamento, possa impedir uma leitura completa, republicações e edições especiais pontuam com qualidade obras que se destacaram na época e hoje permanecem no cânone.
Homem de Ferro: O Demônio da Garrafa é o primeiro número cronológico da Coleção Marvel Graphic Novels lançada pela Salvat (a história também já foi lançada em versão com capa cartonada pela Panini Comics em 2008). No prefácio desta edição, o editor da Panini Italiana, Marco Lupoi, analisa a trama como um novo movimento dentro do estúdio e uma das bases fundamentais da personagem. Até o lançamento desta história em 1979, Homem de Ferro era considerado um herói aventureiro e, embora com certo índice de vendas, não se destacava como outras revistas, como Hulk e Homem-Aranha, histórias que já traziam breves conflitos internos além da luta contra vilões.
A trama dividida em nove partes aborda o alcoolismo de Tony Stark. e foi responsável por reconfigurá-lo diante do público. Um drama que adensava a personagem, indo além da impressão de um frívolo playboy milionário. O roteiro de David Michelinie e Bob Layton com traços de John Romita, Jr. Bob Layton e Carmine Infantino se desenvolve de maneira bem distinta das sagas contemporâneas. Hoje o tema da história é apresentado com começo, meio e fim em um arco específico. Nesta época, porém, a história do alcoolismo atravessa aventuras diversas, mostrando pequenos indícios do abuso da personagem até uma edição derradeira – com a icônica capa de Stark suando com uma bebida ao lado – quando constata sua condição.
Em comparação, é evidente que o impacto narrativo é diferente do das histórias atuais, principalmente na abordagem sobre este problema, sutil e pontual. Três histórias atravessam a problemática como um crescendo, em uma trama que aborda uma sequência narrativo-temporal como se acompanhássemos os dias de Tony Stark, missão após missão. Fator que justifica um desequilíbrio maior quando a bebida começa a dificultar seu trabalho heroico.
Mesmo de estilo claramente diferente da atual editoria da Marvel, O Demônio da Garrafa acrescentou uma nova camada dramática a um personagem explorando um vício comum, fator inerente à condição humana, desconstruindo a perfeição do conceito super e aproximando Stark do leitor pelo viés humano. Um ganho que deu maior destaque para o Homem de Ferro.
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