Crítica | Tigerland: A Caminho da Guerra
Em 1971 a opinião pública e as autoridades divergiam quanto ao apoio às tropas americanas que estavam no Vietnã. Muitos filmes antiguerra foram feitos nas décadas de 1970 e 1980, e alguns poucos valorizavam o esforço dos jovens alistados. Tigerland: A Caminho da Guerra, de Joel Schumacher, se localiza no território dos Estados Unidos em um campo de treinamento chamado Forte Polk, onde os soldados se preparam para ir a Tigerland, uma província no norte dos EUA que simula as condições climáticas do Vietnã.
O início dá conta dos soldados rasos acordados no susto, onde os oficiais mostram seu poder apenas porque podem. Não demora a aparecer o recruta Rolando Bozz, de Colin Farrell, um sujeito debochado e insubordinado, que veste a máscara de anti-herói, enquanto seu companheiro de batalhão, Jim Paxton (Matthew Davis), vê o conflito como algo engrandecedor, formador de honra e legado. Os dois não teriam muito em comum, fora a indicação de livros e o amor por belas mulheres, mas acabam se tornando amigos e julgam que juntos seria mais fácil lidar com a guerra que se avizinhava.
Os dias dos recrutas em treinamento variam entre poucos momentos de lazer e outros tantos onde o tédio reina, com a rigidez do treinamento causando stress e enfado (seja pela linha dura dos oficiais ou meramente pela aproximação da guerra). Aos poucos o quadro vai mudando e os personagens passam a agir fora da forma de arquétipo que apresentam no início. Bozz evolui da condição de rebelde sem-causa para alguém digno de admiração dos outros soldados e até inspirador em esferas de reflexão sobre o cunho do confronto.
Essa foi a primeira parceria entre Farrell e o cineasta. O ator ainda brilharia no tenso Por Um Fio, mas aqui já se nota uma entrega absurda a um personagem repleto de camadas. Há muita contradição e tridimensionalidade em seu comportamento. Além dele, há um elenco de atores promissores, como Shea Wigham, Clifton Collins Jr. e Tom Guiry. Certamente é Farrell quem brilha mais, como o maestro em uma ópera, e por mais que evidentemente este filme não seja tão genial e impactante quanto Platoon, Apocalipse Now ou Nascido Para Matar, certamente tem sua importância na desconstrução que a cultura pop fez do conflito nas terras asiáticas, assim como ocorreu também com Pecados de Guerra, de Brian de Palma.
Os fatores normalmente ditos como negativos no filme se dá com a fotografia saturada, quase emulando uma fita antiga da época da guerra achada em algum quartel, e certamente, um claro problema de ritmo e dinâmica narrativa, principalmente quando chegam a Tigerland. No entanto, todas as discussões que ele suscita e a construção ética de Bozz fazem do longa de Schumacher superar inclusive esses problemas, sendo possivelmente o filme que melhor desenvolve discussões sobre o modo de vida americano de toda obra do diretor, ao lado de Um Dia de Fúria. Tendo esse caráter de desconstrução ideológica, gera evidentemente muita reflexão sobre a necessidade da guerra e dos conflitos bélicos ao longo de nossa história.