Crítica | John Wick: Um Novo Dia Para Matar
O cinema de ação dos anos oitenta era conhecido por estabelecer em seus filmes uma marca, normalmente tendo um roteiro descompromissado e abordagem estética repleta de adrenalina. Com o tempo, a fórmula se desgastou e os action movies passaram a ter discussões mais aprofundadas, como visto em Identidade Bourne e suas continuações. Inúmeras tentativas de resgatar o estilo antigo ocorreram, entre elas, a junção de brucutus em Os Mercenários. No entanto, De Volta ao Jogo, de Chad Stahelski e David Leitch foi um produto que conseguiu não só retomar a antiga abordagem como revitalizar visualmente a temática, pegando emprestado também alguns elementos do cinema de Paul Greengrass, Christopher Nolan e outros, e ajudando a solidificar uma nova modalidade de classificação, o Gun-Fu que mistura artes marciais com armas de fogo.
Para a sequência, John Wick: Um Novo Dia Para Matar, ficaria somente Stahelski, uma vez que Leitch está se dedicando na direção da continuação de Deadpool. A percepção era que a saída do cineasta que era responsável pelas coreografias e dublês faria com que a sequência fosse inferior, mas não foi o que ocorreu. Keanu Reeves volta ao papel que o fez retornar ao panteão de bons heróis de ação, primeiro encerrando o arco do primeiro filme, depois se enfiando em mais uma rede de dívidas, cobranças e juramentos de fidelidade.
O retorno de Derek Kolstad – roteirista do primeiro e criador dos personagens – ao texto garante um bom desempenho ao script que, mesmo sem ser brilhante, consegue ter a mesma aura de urgência e correria desenfreada do original, tendo nesse alguns detalhes maximizados. É como se o universo de Wick se expandisse, tanto em níveis de perigos, quanto em disputa de poder e perseguição.
Se De Volta Ao Jogo prestava uma bela homenagem aos filmes de herói de Sylvester Stallone, Tom Cruise e do próprio Reeves, neste há alguma referências muito bem enquadradas a Comando Para Matar e O Predador, ambos com Arnold Schwarzenegger, repaginando inclusive um clichê do gênero ação, ao estilizar as comuns sequências de super armamento dos heróis, recriando à maneira John Wick os momentos em que o protagonista vai até um armamentista para obter um arsenal capaz de destituir qualquer ditador de sua republiqueta genérica. Além de engraçado, tal momento faz paralelo também com os filmes de espiões de 007, Triplo X e afins, ainda que soe mais original que esses.
Apesar de não ter um argumento que busca grandes reflexões, há uma inteligência formidável nesta continuação. Se no primeiro filme o mote era que a qualquer sinal de fogo o barril de pólvora – o protagonista – poderia explodir, nesse a mensagem é ligada a inevitabilidade do destino, além de um desenvolvimento do clichê de que não se pode driblar a própria natureza.
Questões como sociedade do controle e onipresença do poder paralelo também são retratadas em participações especiais surpresas que aproximam o filme dos clássicos estadunidenses de Paul Verhoeven, no sentido de denunciar a violência excessiva do mundo moderno através de irônicas passagens de tempo e lutas. A trajetória de Baba Yaga segue com o mesmo folego e espírito implacável de antes, sem se permitir cair no clichê de ser uma continuação que tem pouco a apresentar além das repetições, retomando muito dos acertos anteriores, e preocupando-se também com o futuro da própria franquia