Crítica | Raya e o Último Dragão
Animação em longa-metragem dos estúdios Disney, Raya e o Último Dragão usa como pano de fundo as múltiplas lendas sobre as criaturas draconianas, entre as presentes no panteão chinês e crenças ocidentais. A trama apresenta o lendário reino de Kumandra, uma terra antes composta de bravos guerreiros que se dividiu após uma briga irracional e gananciosa entre os homens, não restando então qualquer esperança de mudança desse triste cenário, exceção feita a personagem que dá título a obra.
Há um vácuo de poder e moralidade em Kumandra, já que no evento anteriormente citado boa parte dos cidadãos mais valorosos foram transformados em pedra após o tal embate. Entre os vitimados estão parentes da pequena e destemida Raya.
A história do filme dá conta da tentativa dela de provar sua coragem e valor reacendendo e reinventado algumas histórias que antes eram encaradas como contos infantis para enfim se tornar realidade. Nesse contexto, a jovem e um grupo de estranhos, porém carismáticos personagens, vão atrás da lenda de um dragão que estaria ainda ao alcance da humanidade.
A animação é bastante bonita tecnicamente, na introdução já se percebe um mundo colorido, com personalidade e mitologia próprias, além de um claro discurso de valorização da natureza, mostrando a deterioração desse mundo que se tornou um lugar árido, sem vida e distante do colorido passado glorioso exibido nos primeiros momentos da animação.
No passado deste universo, a civilização era versada quase na totalidade em artes marciais, e isso é bem mostrado nas coreografias de luta. Há intenção de referenciar os filmes do gênero Wuxia (filmes de época que misturam fantasia com artes marciais), além da clara inspiração em filmes de luta pouco referenciados em animações ocidentais, como Merantau e Ong Bak. Em alguns pontos ele lembra um pouco os filmes antigos de Jet Li, como Era Uma Vez na China, e as produções dirigidas por Jackie Chan, sobretudo 1911 — A Revolução.
O filme tem condução dupla de Don Hall, do elogiado Operação Big Hero e Carlos Lopez Estrada, do live action dramático Ponto Cego. A mistura de estilos tão díspares ajuda a fortificar uma abordagem diferenciada. Apesar disso, Raya e o Último Dragão tem questões pontuais, como um desfecho apressado, como a recente animação elogiada (e superestimada), Soul, embora a obra de Hall e Estrada não seja tão mal resolvida quanto o filme da Pixar. Fato é que mesmo não sendo perfeita, a trajetória da heroína é simbólica e reflexiva, e que não parecem forçadas ou sem sentido diante das questões mitológicas reais homenageadas aqui.