Crítica | Insubordinados
Primeira parte da Trilogia da Vida Real, Insubordinados é um longa metragem do diretor Edu Felistoque, que fala sobre a fuga da realidade angustiante através da arte. A câmera acompanha a escritora amadora Janete Guerra (Sílvia Lourenço), que passa a maior parte dos seus dias em um hospital esperando a melhora de seu pai, que tem um grave quadro de saúde. Nos corredores da casa de saúde, a moça começa uma história ficcional com pitadas de auto biografia, trazendo a luz o alter ego de Diana, uma delegada que guarda um sem número de semelhanças com sua criadora ainda que não seja uma cópia exata da mesma.
Todo o entorno da policial é bastante parecido com o da escritora. Criadora e criatura dividem as mesmas feições e interprete e mesmo os elementos mais sutis do filme tem motivo narrativo para ali estar, em especial a fotografia em preto e branco, que casa muito bem com o estado de melancolia da espera pelo retorno à saúde do patriarca, além de funcionar como antecipação da moral dúbia no romance policial.
Felistoque realiza um filme econômico não só no orçamento (que é baixo) mas também em questões melodramáticas. A tática de não apelar para rompantes emocionais exagerados acaba tornando a experiência em assistir ao filme rica, que mesmo com toda sua sobriedade, não soa pobre. A escrita de Janete tenta emular Truman Capote , tendo na sub história comentários semelhantes as obsessões vistas em A Sangue Frio, tocando uma metalinguagem dentro de outra metalinguagem. A explicação pode parecer confusa, mas funciona bem dentro do filme.
Insubordinados possui uma duração curta de aproximadamente 82 minutos, que passam bastante rápido dada a fluidez da trama e despretensão do script. A melhor abordagem do longa mora na persona de sua protagonista e não em sua imaginação, trecho esse que seria expandido nos episódios vindouros Hector e Toro, lançados no circuito em 2016, seguindo um pouco do estilo que Felistoque apresentou neste, mas tendo sua própria identidade visual e narrativa.