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  • Resenha | Cantando um Blues – Isaac Soares de Souza

    Resenha | Cantando um Blues – Isaac Soares de Souza

    cantando um bluesCantando um blues, livro de Isaac Soares de Souza, autor de Zé Ramalho: o poeta do terceiro milênio, poeta e letrista, se apresenta como um amigo pessoal de Raul Seixas, e  isso terá muita influência nessa obra.

    O livro traz uma breve introdução ao ritmo negro do sul dos Estados Unidos, destacando suas origens – como a música dos escravos, com o objetivo de amenizar o sofrimento por sua condição, que tornou-se posteriormente algo como a voz dos oprimidos em busca da igualdade, voz essa melancólica e boêmia. Nas palavras do autor: “O Blues é tudo aquilo que a alma humana almeja: Liberdade, igualdade e fraternidade”.

    O livro traça também um histórico do ritmo com essa introdução, colocando suas origens geográficas, as vertentes e os rumos que tomou ao se espalhar pela América e pelo mundo e, com isso, toda a influência na cultura musical que o Blues exerceu e exerce até hoje.

    A partir daí, o livro traz uma série de mini-biografias, dividas em três categorias: “A origem”, “O blues e o Rock’n Roll” e “O Blues no Brasil”. É por meio dessas curtas passagens sobre a vida daqueles que são os personagens principais do Blues, as próprias pessoas, que o autor conduz a história do som do Delta do Mississipi, indo de Charley Patton, Koko Taylor, passando por Muddy Waters até Bob Dylan, Janis Joplin, Eric Clapton e muitos outros.

    Esse modo de conduzir o livro é interessante, pois podermos conhecer nomes importantes para a música que nem sempre são conhecidos do grande público. O autor, inclusive, parece-me tentar mesclar um pouco disso, colocando nomes altamente expressivos ao lado de figuras menos conhecidas. Além disso, fazer um livro dessa forma já o torna interativo quase que automaticamente: assim que lemos sobre um determinado músico, instantaneamente vamos à internet conhecer pelo menos um pouco de sua obra, buscar mais informações, fazendo com a leitura fique ainda mais dinâmica e prazerosa.

    Essa estrutura de pequenas biografias tem dois problemas que não tornam o resultado final ruim, mas que devem ser destacados. O primeiro deles, é que em alguns músicos, pouco é falado da obra em si, focando apenas em alguns aspectos da vida daquele personagem, deixando a obra em segundo plano. Não é o que se espera quando se lê algo sobre expressões artísticas em geral, mas é plenamente compreensível, por questões práticas e limitações de espaço, que sejam feitas algumas escolhas em detrimento de outras. O segundo problema é o questionamento das escolhas do autor. Isso porque ele não deixa claro, em nenhum momento, qual é o critério utilizado para colocar em sua obra determinado músico, talvez de menor expressão, e deixar de fora, por exemplo, um gigante do Blues como B.B. King, que é naturalmente citado diversas vezes no decorrer do livro, tal qual Muddy Waters – mas este segundo tendo o seu “verbete” exclusivo, enquanto B.B. King não. Outro questionamento desse tipo levo no cenário brasileiro, com a inclusão de Raul Seixas, mas deixando Celso Blues Boy de fora. Porém, esse assunto retomarei à frente.

    Um outro ponto altamente positivo do livro é o grafismo e a diagramação de Cantando um blues. Diversos blueseiros contam com a sua caricatura nas páginas – desenhadas por Walter Tierno e Thiago Ivanildo Lima –, todas muito bem desenhadas, que dão um toque de humor e leveza à obra. Além disso, várias páginas contam com um plano de fundo com notas ou instrumentos musicais, feitos com bastante cuidado, o que dá um visual especial para o livro, mas sem comprometer a leitura. Outro ponto ainda ligado ao grafismo são as páginas “especiais”: páginas pretas com letras de músicas icônicas do Blues, ou poemas e letras do próprio autor. Some tudo isso à capa, e até mesmo aos marcadores de página, tudo de extremo bom gosto. Temos um dos livros com um trabalho visual mais belos que já tive em mãos.

    Cantando um blues funciona como uma boa introdução a esse gênero musical importantíssimo não só para a música, mas para toda a cultura ocidental moderna. Porém, isso não quer dizer que está livre de problemas. Então vamos a eles.

    O primeiro problema de Cantando um blues, é uma certa necessidade especulativa do autor. Explico. Quando falando de Bob Dylan, o autor faz comparações entre ele e Raul Seixas, dizendo que o primeiro só é superado pelo segundo. Ele coloca então que Dylan só é mais cultuado que Raul por ser americano, enquanto Raul é um brasileiro, baiano, portanto relegado à condição de sucesso apenas no Brasil. Em fazer comparações eu não vejo problema nenhum, é algo natural. O problema que eu percebo são as bases que você usa para fazer essa comparação. Nesse caso, a base não foi musical ou alguma análise crítica do trabalho artístico, mas uma percepção particular, ou suposição, do próprio Isaac, ligado muito mais a uma questão de fé, ou crença, ou até mesmo devoção pelo próprio amigo (Raul Seixas), do que a uma questão racional lógica.

    Outro problema, infelizmente também ligado ao próprio Raul Seixas: por mais que o autor defenda que este era um fã do Blues, e sua música tenha um quê desse ritmo, sabemos também que esse genero têm influência em praticamente toda a música moderna, o que não faz com que toda música moderna seja Blues. Portanto, evocar em demasia um artista cuja obra definitivamente não se caracteriza pelo ritmo do Blues, agravando-se ainda o público alvo, desejando uma introdução ao que é esse ritmo, me parece uma tentativa de imputar algo que não condiz com a verdade.

    Não me entendam mal, gosto muito de Raul Seixas, acho sua obra inestimável para a música nacional. Porém, não o considero um expoente do Blues, pelo simples motivo de que ele não o é. Também não acredito que o autor o faça de má fé. O que penso apenas é que ele deixa extravasar sua amizade com Raul Seixas para suas palavras, para o papel, prejudicando assim a própria qualidade do trabalho – que seria mais completo, e mais condizente com a realidade, incluindo outros nomes do Blues nacional, como o já previamente citado Celso Blues Boy (que começou sua carreira com o próprio Raul Seixas), ou Blues Etílicos, entre outros, estes sim verdadeiros expoentes do Blues brasileiro.

    Um último problema que vejo em Cantando um Blues é o texto referente J. J. Jackson. O texto destoa, e muito, do restante do livro. O estilo passional e vibrante do autor dá lugar a um texto frio, distante, com aspectos publicitários até. Ao final vejo uma nota dizendo que realmente a autoria do trecho é de Esmeralda Nascimento e não de Isaac Soares de Souza. Fui à internet saber um pouco do tal J. J. Jackson, que, de acordo com o texto, seria um dos maiores estouros musicais do Brasil. Eu já tinha ouvido falar dele por sua regravação de Stand By Me, mas nada além de ouvir falar. E qual não foi a minha surpresa ao ver que o texto era uma reprodução idêntica da página do músico. Segue o link: http://www.jjjackson.com.br/historia.html. Eu não entendi os possíveis motivos de uma inclusão como essa. O fato de ser escrita por um terceiro não é o problema, o problema é que sai completamente do tom do autor e do livro, causa estranheza imediata, tanto que me motivou a buscar e encontrar a fonte original do texto. Ou teria o site do músico transcrito integralmente o trecho do livro? Não sei, mas é algo que gostaria de esclarecer.

    Exceptuando esse problema com J. J. Jackson explicado no último parágrafo, eu diria que, apesar de alguns deslizes aqui e ali, ainda assim é uma leitura introdutória bem interessante para aqueles que gostam ou querem conhecer um pouco sobre esse ritmo de doze compassos marcantes e envolventes que é o Blues. Gênero esse que, segundo Clint Eastwood, juntamente com o Jazz, é o único estilo musical verdadeiramente americano. Cantando um blues conta ainda com um bônus primoroso que é o trabalho gráfico impecável. Somando ainda a escassez de obras sobre o tema na nossa língua, com certeza é um livro a se indicar.

    Atualização: Minhas ressalvas anteriores sobre a indicação do livro, que se davam à inclusão de um texto do músico J.J. Jackson, em tom oposto  ao restante da obra foram esclarecidas no segundo comentário da postagem, pelo próprio autor do livro. Peço então que ao final da leitura, seja lido também o comentário do próprio Isaac Soares de Souza, em que ele reconhece meu apontamento. Com isso, retiro minha ressalva anterior em que questionava a indicação do livro, e agradeço a transparência do próprio autor e editora, que se dispuseram a esclarecer o assunto.

  • Agenda Cultural 26 | O Proibidão

    Agenda Cultural 26 | O Proibidão

    Bem Vindos à bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Mario Abbade (@fanaticc) e Bruno Gaspar se reúnem com os convidados Darkonix (@darkonix) e Laivindil (@laivindil) do JCast em uma conversa muito louca sobre musicais, vampiros transsexuais, cultura japonesa e outras maluquices. Ouça por sua conta à risco.
    OBS: Se você é menor de idade, não tem senso de humor e não sabe o que é sarcarmo passe longe deste episódio.

    Duração: 102 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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  • Resenha | A Autobiografia – Eric Clapton

    Resenha | A Autobiografia – Eric Clapton

    Eric Clapton - AutobiografiaTraçar toda a trajetória de qualquer celebridade, que viveu intensamente os excessos dos anos 60/70 não é uma tarefa fácil, o que falar quando a pessoa em questão é Eric Clapton.

    Primeiramente tenho que parabenizar a Editora Planeta, por publicar esse tipo de material por aqui, que tem sido tão raro e com uma qualidade tão boa, não só da pelo valor histórico e musical, como pelo material utilizado: capa, tradução e papel. Apesar de tudo isso, não sou um grande adepto de ler biografias, mas esta se fez necessária, não só pelo apreço que tenho pela obra do Clapton, mas também por trazer todo o relato de quem viveu uma vida de excessos, rodeado por artistas que estão entre os melhores e que fez parte do panteão do Rock and Roll.

    Eric Clapton, assim como Keith Richards e alguns outros poucos, foi contra todas as previsões daqueles que achavam que eles não chegariam aos 30 anos, motivo esse ao fato de vivenciarem mais do que ninguém o lema sexo, drogas e rock and roll. Hoje, mais do que tudo, Clapton é um sobrevivente e mantém uma sólida carreira de quase cinco décadas.

    Sua biografia está longe de ser sobre O rockstar Eric Clapton, mas sim a pessoa por trás da guitarra, dando ênfase maior em todo aspecto pessoal de Clapton. O livro acaba deixando de lado passagens de sua vida que seria deveras interessante para os fãs que queriam conhecer um pouco mais sobre seus muitos encontros com músicos famosos, detalhes de shows históricos e acaba optando por um mergulho profundo na psiquê do guitarrista.

    Já no seu início conhecemos um pouco de sua juventude sofrida e que refletirá diretamente em sua vida, ao descobrir que as pessoas que foram apresentadas como seus pais por boa parte de sua infância, são na realidade seus avós. Sua verdadeira mãe, após um tórrido romance com um soldado canadense, que servia ocasionalmente na Inglaterra durante a Segunda Guerra, fica grávida aos 16 anos, e por viver em uma época  conservadora, seus pais assumem a criança como sendo filho deles. Com o término da Guerra, o soldado retorna para seu País e família, deixando a mãe de Clapton sozinha e nunca mais retorna. Um tempo depois, sua mãe se casa e vai morar na Alemanha, deixando Clapton aos cuidados dos avós. Sua mãe sempre foi apresentada como sua irmã mais velha, apenas no fim de sua infância descobre que se tratava de sua mãe. Talvez por tudo isso, seu amor pungente pelo blues seja sua maior influência.

    Mesmo não dando um enfoque maior para o lado musical, Clapton relata detalhadamente como foi parar no Yardbirds, a criação do primeiro super-grupo, o Cream, que era formado Ginger Baker (bateria) e Jack Bruce (baixo/vocal), além de Clapton. Sua vontade de querer apenas se expressar através da música, fica evidente ao relatar sobre a criação do outro super-grupo Blind Faith, formado por ele, Baker, Steve Winwood (Teclado/vocal) do Traffic e Ric Grech (baixo) do Family, que buscavam apenas diversão, com a pretensão apenas de levar algumas jams e lançar algo em decorrência disso, após o grupo assumir diversos compromissos e obrigações, os membros perceberam que estavam fazendo novamente o que não queriam e decretaram seu fim.

    O livro também relata toda a produção do álbum da banda fictícia Derek and The Dominos, que não traz informações de Eric Clapton, pois ele mesmo não se sentia seguro e queria que ouvissem seu trabalho pela sua qualidade, não por ele ser Eric Clapton. Durante boa parte de sua vida, Clapton parece não ter se encontrado como pessoa, se mostra inseguro, deslocado e auto-destrutivo.

    É nesse disco que Clapton faz sua declaração de amor reprimida há muito tempo por Pattie Boyd, esposa do seu amigo, George Harrison. Aqui, Clapton despeja todos os seus sentimentos ao relatar sobre esse período de sua vida, de como tentou reprimir o que sentia, e de como tentou acabar com sua vida, através do álcool e heroína. Nessa época, seu gasto semanal com heroína era cerca de 30 mil libras. Contudo, foi nesse período sua melhor fase musicalmente e seu relacionamento com Pattie Boyd talvez seja o mais importante entre tantos fracassos em sua vida amorosa.

    A ausência de seus pais, seu relacionamento com Pattie, sua dependência com as drogas, a morte de seu filho, todos esses fatos são relatados de forma extremamente sentimental, soando como um desabafo ao poder contar um pouco de tudo o que passou. Clapton se despe de todos os mitos que envolve sua personalidade e faz um relato sentimental, apaixonante e muitas vezes agoniante de toda sua trajetória, em um leitura fluída e agradabilíssima e sob o pano de fundo de um blues tocado ao longe.

    Clapton se tornou mais que um Rockstar, mas um mito para todos os amantes de Blues e Rock and Roll e deixa grafado na história a tão pichada frase dos muros londrinos: Clapton is God.