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  • Crítica | Conflitos Internos II

    Crítica | Conflitos Internos II

    Após Conflitos Internos, os diretores Andrew Lau e Alan Mak retornam a historia do Inspetor Lau Kin Ming, dessa vez focado na descoberta que um recruta que foi expulso, é irmão de um chefão do crime organizado, que é contratado para trabalhar disfarçado. Lançado em 2003, a trama se passa onze anos antes do primeiro capítulo, nos anos noventa, com Hon San (Eric Tsang) mais jovem, sendo sua primeira cena comendo lamen, tal qual um de seus momento clássicos no original.

    O fato de ser no passado ajuda a reforçar o lema do tempo ininterrupto, que é dito no inicio da trama, onde se repete a premissa de falar sobre crenças antes da ação propriamente, no original, abordou-se os infernos mitológicos chineses, nesse, é citado o inferno contínuo.

    Uma das questões mais problemáticas da franquia é resolvida nesse, a trilha sonora  incidental é bem menos invasiva que no outro longa, e mesmo que se passe na década anterior ao lançamento nos cinemas, a historia parece mais moderna, muito por conta de uma música menos intrusiva, que é mais um elemento que compõe, e não um prenunciador de sentimentos e sensações.

    A trama desse parece bem mais sangrenta, mais preocupada em parecer visceral, possivelmente por conta de sua época, emulando o tipico cinema de ação noventista. Há bem menos diálogos expositivos, é como se os espancamentos, o sangue e as pessoas queimadas vivas falassem mais diretamente ao espectador do que as discussões dos bandidos poderosos com os seus capangas. Lau e Mak não tiveram receio em reinventar o formato de sua historia, não são tão presos a formulas e conseguem seguir em frente e até apresentar um certo ineditismo.

    Há claro um apelo sentimental as forças policiais de Hong Kong, mas também se justifica essa valorização, uma vez que é mostrado como o crime organizado é implacável e o quanto esse mal assola todo o mundo mesmo sem intercâmbio ou troca de informações entre os países.

    O longa é cheio de tensão, mas o nível dos infiltrados é bem diferente do que se viu antes, se nota que tentar atrapalhar o lado oposto por meio de pessoas dentro do esquema é velho como o mundo, tal qual era mostrado no cinema policial hollywoodiano dos anos 70 com Serpico, a aposta aqui é em algo mais emocional, de caráter familiar, como se o sangue pudesse gerar um tipo de contrato de fidelidade mais difícil de quebrar. Contra ele, pesa o fato de haverem cenas de perigo com personagens que já se sabe que dez anos após, estariam vivos, então se antecipam alguns plots.

    Conflitos Internos II consegue abordar bem a temática da capítulo anterior, com um frescor novo e com uma exploração temática que alguns momentos, o coloca na frente até da obra de 2002, agravando boa parte dos problemas e acrescentando camadas a mitologia própria do jogo de gato e rato tradicional da franquia.

  • Crítica | Conflitos Internos

    Crítica | Conflitos Internos

    Andrew Lau e Alan Mak realizaram Conflitos Internos, obra que aborda o tema da criminalidade organizada em Hong Kong e que geraria além de continuações, uma adaptação muito premiada de Martin Scorsese com Os Infiltrados e essa refilmagem de certa forma ofuscou este longa, ao menos para o ocidente. É curioso que a cena de abertura se dê com uma música instrumental bem forte, passando por imagens em animação CGI bastante datadas, que simbolizavam os Oito Infernos da mitologia local, mostrando lagos de fogo e enxofre, bem comuns a mitologia judaico cristã que predomina nas crenças ocidentais.

    As cenas subsequentes dão conta de uma conversa entre marginais, pessoas que mesmo vivem fora da  lei ainda possuem alguma espiritualidade, de certa forma, emulando tanto a Cosa Nostra da família Corleone em O Poderoso Chefão, quanto o brasileiro Cidade de Deus, em que os traficantes cariocas rezam ao cristão, ou apelam para entidades afro brasileiras.

    Em alguns momentos, o filme lembra a linguagem tipicamente televisiva de programas policiais, variando entre momentos de tensão extrema e outras humorística em um período bem curto entre eles. A trilha sonora também tem um estilo diferenciado, que varia entre  o típico das fitas de ação de Hong Kong e os filmes de ação dos EUA, e por mais que isso possa parecer genérico na descrição pura e simples, ao compor com as imagens de cenário, compõe um bom quadro, embora em boa parte das vezes, soe bastante intrusiva.

    Ao mesmo tempo que a historia busca ser atemporal, dá para notar o quanto ela é calcada no seu tempo, seja nos cabelos descoloridos ou nos rabos de cavalo curtos dos bandidos, ou nos pôsteres de filmes americanos, com arte em mandarim que se vê nos cinemas onde reuniões secretas ocorrem.

    O receio de ser pego, como infiltrado ou de ser encarado como traidor era um perigo real e iminente, agravado após a cena absurdamente bem pensada e bem feita do encontro no telhado e o destino do chefe policial, Chefe  Wong (Anthony Chau-Sang Wong). Por mais sentimental que possa parecer o desfecho dela, acompanhada de uma musical com notas melancólicas.

    Lau e Mak conseguem apresentar uma obra seminal, de intrigas e mentiras, repleta de tensão, como cena que Sam (Eric Tsang) está depondo, pois o receio não é só dos que podem ser entregue, mas também dos que estão de fora do bunker onde há a confissão. A quantidade de personagens que interagem nessa sequencia é enorme, e resume bem todo o modo que o filme protagonizado por Tony Chiu-Wai Leung e Andy Lau conta sua historia seriada, mostrando todo um mundo conflituoso, que varia entre os luxos proveniente do dinheiro sujo e o receio de ser pego, seja pelos crimes, ou por conta das pessoas serem infiltrados, tudo isso com uma universalidade ímpar, que torna a sua historia fácil de encaixar em basicamente qualquer cidade grande do mundo.