Crítica | The Tax Collector
David Ayer sempre foi tido como um nome promissor. Seu passado como oficial da marinha dos EUA, além de sua adolescência em South Central, um dos bairros mais violentos de Los Angeles, lhe garantiram conhecimento de causa para tratar de filmes policiais ou que envolvessem algum tipo de rotina militar. Aproveitando-se disso, Ayer foi roteirista do ótimo Dia de Treinamento e de outros bons filmes como U-571: A Batalha do Atlântico e parecia natural sua transição para a cadeira de diretor. Depois de um início mediano com Tempos de Violência, estrelado por Christian Bale, o diretor/roteirista passou por altos (os ótimos Marcados para Morrer e Corações de Ferro) e baixos (os ruins Os Reis da Rua e Sabotagem). Porém, vieram os péssimos Esquadrão Suicida e Bright, dois filmes tão ruins que parecia que não havia como piorar. Só que piorou muito e a prova é esse tenebroso The Tax Collector.
Na trama do filme, David e Creeper são dois homens que trabalham como cobradores para o mafioso Wizard. Porém, quando Conejo, um antigo rival do chefão chega em Los Angeles, uma guerra entre organizações ameaça explodir e David se vê dividido entre defender os interesses do seu patrão e sua família.
The Tax Collector é um filme equivocado do início ao fim. O erro já começa na proposta de roteiro que, além de clichê, é pessimamente desenvolvida. Durante toda a primeira metade do filme acompanhamos a dupla de protagonistas andando pra lá e pra cá coletando dívidas, travando diálogos risíveis e fazendo pose numa tentativa de mostrar que o negócio de proteção oferecido por Wizard é algo extremamente complexo, quando é simples até demais. Nada que não tenha sido mostrado em vários outros filmes do gênero policial desde que o cinema foi criado. Pra piorar, Ayer entope o filme de tipos estereotipados que só fazem deixar o espectador ainda mais desinteressado pelo que se passa na tela. A dupla de protagonistas então chega a ser cômica de caricata. De um lado temos David, o bandido bonzinho, dedicado à família e temente à Deus. Do outro temos Creeper, o meliante esquisitão que anda sempre com uma carranca ameaçadora e tem hábitos cruéis. Ao menos a interpretação de Shia LaBoeuf consegue arrancar algumas boas risadas, pois em alguns momentos ele parece saído de um desenho animado.
A direção de Ayer aqui não tem nenhum acerto. Se em outros filmes ele ao menos conseguia orquestrar boas cenas de ação, nada se salva em The Tax Collector. Nos momentos em que o filme deveria ser eletrizante, as cenas se resumem em borrões coloridos, brilhos e muita câmera tremida. A sequência do ritual satânico é uma tragédia à parte, sendo de extremo mau gosto e completamente deslocada da narrativa, visto que não acrescenta em absolutamente nada. Tudo isso é auxiliado pela horrorosa montagem de Geoffrey O’Brien que, além de não ter nenhuma noção espacial, faz com que seja extremamente desorientador acompanhar algumas cenas visto que um personagem está em um lugar enquanto que o seu interlocutor olha para outro totalmente diferente.
Acho que depois desse, Ayer deveria parar de tentar se aproveitar da esteira do Snyder cut e ficar pedindo por um Ayer cut do tenebroso Esquadrão Suicida alegando que a película não reflete a sua visão. Seria bem melhor que ele tirasse um tempo para reavaliar sua carreira, a qualidade dos seus últimos trabalhos como diretor e se reciclar, porque se continuar dessa maneira, vai ser dureza encontrar até mesmo quem o queira como roteirista.