Crítica | Power
Não é segredo nenhum que já há algum tempo que somos soterrados anualmente por produções baseadas em histórias em quadrinhos de super heróis ou então que possuem seres superpoderosos se digladiando. Produção da Netflix, Power é mais um desses filmes com humanos cheios de habilidades extraordinárias. Porém, é a abordagem que faz o filme se destacar entre todos os outros, ainda que seu potencial não seja desenvolvido como deveria ou poderia.
Na trama do filme, uma droga chamada Power é criada e passa a ser distribuída nas ruas de Nova Orleans. Essa droga confere algum super poder aleatório durante o período de cinco minutos a quem a consome, mas também pode matar o usuário. É nesse contexto que a traficante adolescente Robin se alia à contragosto ao policial Frank e ao misterioso Art, já que descobrem há um plano sinistro em que os usuários da droga são monitorados por uma organização secreta.
A ideia do roteiro de Mattson Tomlin é ótima, porém falar mais do que isso sobre a premissa constitui um mega spoiler, já que os diretores Ariel Schulman e Henry Joost não o aproveitam e nem o desenvolvem da maneira que poderiam. Tudo é muito breve e até mesmo raso. O primeiro grande problema diz respeito à narrativa. Por ser muito apressado, as relações entre os personagens vão se dando aos trancos e barrancos e a afinidade que surgem entre eles custa a ser crível. Há também uma tentativa de crítica social, mas que acaba ficando pelo caminho.
Além do mais, o filme vai se desenvolvendo quase que como um videogame, com os heróis indo de um lugar ao outro para cumprir algum objetivo e enfrentando uma ameaça. Entretanto, a falta de arcos narrativos bem definidos faz com que o filme fique episódico e esvaziado de tensão. Sem contar que desperdiçam um vilão divertidíssimo ao colocar uma empresa como a grande vilã do filme. Nada contra a escolha de tecnocratas e capitalistas canalhas como vilões, mas nesse caso a vilania precisava de um rosto, alguém pra centralizar e ser a ameaça suprema.
Com relação à ação, existem algumas boas cenas. A de abertura, em que Jamie Foxx persegue o rapper Machine Gun Kelly que acabou de se tornar uma tocha humana, é muito boa. Os efeitos especiais do homem incandescente são muito bem feitos. Só que em vários momentos os diretores se perdem em malabarismos de câmera e em excesso de cor, ou seja, uma pirotecnia visual que só confunde o espectador. Ao menos o trio de protagonistas, vivido por Jamie Foxx, Joseph Gordon-Levitt e a jovem Dominique Fishback atua bem e derrama carisma por onde passa. Rodrigo Santoro está especialmente canastrão e divertidíssimo como o traficante Biggie.
Enfim, Power desperdiça uma boa premissa e decepciona ao entregar um filme em que pouca coisa funciona. Talvez nas mãos de um cineasta mais tarimbado, fosse uma produção mais concisa com um potencial bem melhor explorado.