Crítica | A Face Do Mal
O subgênero de terror sobre casas mal-assombradas é um filão que já trouxe filmes pródigos e clássicos, como Terror em Amityville, sendo bem explorado até os dias atuais, vide o sucesso da saga Sobrenatural. A Face do Mal (Haunt), de Mac Carter, embarca nessa toada utilizando elementos de exploração da paranormalidade e contato com manifestações de “outro mundo”. Já no prólogo é mostrada uma história pregressa do plot principal, em que os clichês de histórias de fantasmas são explicados, primeiro por meio de imagens, depois por um recordatório macabro. Carter faz às vezes de James Wan, procurando reverenciar visualmente William Friedkin e seu O Exorcista, começando bem a carreira de diretor com seu primeiro longa.
Na introdução, a decisão do roteiro é de mostrar que o lugar explorado é amaldiçoado. Mesmo que o espectador entre na sala de cinema após a introdução, a trilha sonora característica não deixará dúvidas de que há algo de poltergeist. Os Asher, família que comprou a residência, têm consciência do que ocorreu no passado da casa, mostrando que não há desavisados – o que se retifica com a visita da Dra. Janet Morello (Jacki Weaver), antiga dona da propriedade. Seu retorno se dá pela busca do retrato de seu falecido filho, e sua figura, apesar de simpática e amável, é atrelada ao bizarro e ao terror.
Os olhos do público no filme são de Evan Asher (Harrison Gilbertson, um Dane Dehaan genérico), o fugaz adolescente, primogênito dos Asher, que em uma de suas andanças pela floresta à procura do sentido da vida encontra Sam (a deliciosa Liana Liberato), uma moça com problemas muito mais flagrantes do que os seus. Ela, mais uma vez, lembra a sina que a casa carrega. As condições naturais fazem com que os dois jovens se aproximem, pulando qualquer etapa de empatia ou convivência, colocando-os numa relação precoce que só não chega às vias de fato graças à inoperância do rapaz.
A palavra em português mais próxima da tradução de Haunt seria covil. No início do filme há uma referência a esse elemento em letras escarlates que dizem: “Haunt – Substantivo; Lugar de alimentação para animais”. A máxima faria ainda mais sentido com o passar do tempo e com os passeios que o fantasma faz pela casa. Como o temor é explícito, quase não há presença de sustos. Os mistérios estão na história dos Morellos e com o que fez seu patriarca enlouquecer. Sam se sente atraída pelo local, como se a aflição de sua alma a levasse a um lugar inseguro, mais pacífico que o seu lar.
A busca de Samantha por um paraíso a faz cavar fundo demais, pondo ela e seu novo par em perigo. As vias de fantasmas passam a ser de sua possessão também, além da velha busca por sangue daqueles que vivem em mundos paralelos, que por si só não têm mais direito à vida. A busca revela uma trama de infidelidade, assassinato e vingança, que não tem em si nada de reprovável na premissa, mas que é apressada, corrida demais para o que deveria ser melhor desenvolvido.
O desfecho da história é igualmente efêmero, demasiado encurtado e não dá margem ao público digerir as ideias propostas no texto de Andrew Barrer, o que é uma pena, visto que A Face do Mal tinha grande potencial para ser uma boa fita de terror. Apesar dos pesares, ela está um pouco acima da mediocridade generalizada em se estacionou o gênero fílmico de terror.